Nampula (IKWELI) – Algumas das mais de 70 mil pessoas provenientes do distrito de Memba, agora albergadas no posto administrativo de Alua, no distrito de Eráti, em Nampula, dizem estar profundamente angustiadas por não saberem onde estão parte dos seus familiares desde os ataques terroristas que devastaram aquela região.
Entre os deslocados, encontram-se mulheres grávidas, idosos, crianças e jovens que, devido ao recrudescimento dos ataques, perderam totalmente o contacto com as suas famílias.
Muitos destes cidadãos abandonaram às pressas as suas actividades económicas e agrícolas, fugindo do inimigo considerado imprevisível e extremamente perigoso.
No centro de acolhimento de Alua, é visível o desespero onde crianças choram, famílias procuram notícias e o ambiente é emocionalmente pesado para qualquer pessoa sensível.
De acordo com os populares, a única fonte de esperança tem sido “o tio Salim”, descrito como alguém que desde o primeiro dia nunca os abandonou. “Nós agradecemos muito. Saímos das aldeias sem nada, mas o governador não consegue ficar três dias sem nos visitar. Isso nos deixa felizes, mas queremos voltar às nossas aldeias com segurança,” relatou uma fonte local.
Julmina Januário, de 34 anos de idade, natural de Mazua, explicou que as condições em que vivem são extremamente difíceis. “Dormimos de qualquer maneira, debaixo de um cajueiro, mas isso não é o mais importante. O grande problema é não sabermos onde estão as nossas famílias. Quero pedir que acabe esta situação para voltarmos, até agora não sei onde está o meu marido e isso dói no meu coração,” desabafou.
Abudu Amade, deslocado de Chipene, contou que fugiu apenas com os filhos. “Quase não levei nada. Só queria salvar a minha vida e a vida dos meus filhos. Aqui vivemos mal, vivemos como galinhas, e isso está a fazer-me emagrecer,” lamentou.
O governador da província de Nampula, Eduardo Mariamo Abdula, reconheceu os inúmeros desafios enfrentados pelos deslocados, garantindo que o Governo continuará a fazer o possível para apoiar e devolver esperança às famílias afectadas.
Segundo o governante, estão a ser feitas avaliações constantes no terreno para identificar soluções que permitam o retorno seguro das populações às suas aldeias de origem.
Abdula afirmou ainda que pretende liderar pessoalmente a entrada na zona afectada, acompanhado pela imprensa, para avaliar o ambiente real antes de definir a data de regresso dos deslocados.
“Nas próximas horas, os primeiros a entrar lá serei eu, governador da província de Nampula, e vocês, jornalistas, vão entrar comigo em Memba, como forma de demonstrar segurança e confiança para que as populações possam voltar às suas comunidades,” concluiu. (Malito João)





