Nampula (IKWELI) – O investigador do Centro de Estudos Africanos na Universidade do Porto, em Portugal, Marchal Manufredo, defende que deve ser prioridade dos moçambicanos discutir o fim do fenómeno do terrorismo e não diálogo.
“Levar o Estado a se concentrar no diálogo Nacional Inclusivo é não saber qual a agenda deste governo. Desde as primeiras eleições em Moçambique, sempre passamos por períodos de diálogo. Sempre que o processo passa, vamos para a mesa do diálogo,” disse o académico, afirmando que o processo do diálogo é um processo vicioso, “porque na minha visão a prioridade neste momento tinha que ser como resolver a situação de Cabo Delgado visto que são pessoas que não estão a dormir, famílias que estão a morrer, crianças que estão a perder sua infância.”
“O Presidente da República deve tentar se possível dialogar com os terroristas. Eu vou continuar a dizer que é possível sim dialogar com os terroristas, porque há três anos quando uma irmã [missionária católica] foi raptada, houve um compromisso entre os terroristas e as Forças de Defesa e Segurança e conseguiram resgatar aquela irmã. Se conseguiram resgatar, significa que é possível termos contactos para eliminar o mal,” afirmou o nosso entrevistado.
Marchal entende, ainda, que a concepção de que não se pode dialogar e que os rostos dos terroristas não são conhecidos não deve permanecer na mente dos moçambicanos, porque Moçambique é um dos Estados com segurança mais séria na África Austral. “Se eliminem as mágoas do julgamento da B.O porque o julgamento abriu muita mágoa no seio do partido Frelimo, portanto, o julgamento ao abrir mágoa para aqueles que governam o país evidentemente abriu um caminho para um desentendimento político,” sublinhou a fonte.
Se o problema não for resolvido com urgência, na visão do académico, Cabo Delgado será um Sudão de Moçambique, “não há uma teoria fundamentalista que diz os terroristas fogem. Quando eles percebem que a zona onde estão está extremamente controlada, fazem retaliação, vão para outra zona para terem repouso e fazerem novos estudos.”
O nosso entrevistado vai mais longe, ao afirmar que é perigoso o discurso segundo o qual deve se incorporar os terroristas no seio da sociedade, “É perigoso incorporar um terrorista na comunidade, porque para ser terrorista passou num processo de doutrinalização, passou num processo tradicional, comeu carne de pessoa. Um terrorista passa por um processo culturalmente tradicional para ter coragem. O problema é politizar tudo, por isso as pessoas fazem afirmações sem avaliar,” Asseverou Marchal.
Todavia, o nosso entrevistado sublinhou que os académicos podem dar um contributo positivo na pacificação do país desde que os dirigentes ouçam e ponham em prática as sugestões dadas. (Francisco Mário)






