Nampula (IKWELI) – Foi lançada nesta quarta-feira (29) na cidade de Nampula a obra intitulada “Voz e Ancestralidade,” do escritor moçambicano Leco Nkhululeco, que mergulha num mundo mítico onde os mortos dominam os vivos e também procura mostrar que a morte não é o fim, mas uma promessa do reencontro, ou seja, um retorno de onde saímos.
O autor assevera que o povo europeu ao colonizar a África descartou todos os costumes dos africanos e agora enfrenta um grande desafio para contar a sua própria história. “A história é omissa e é preciso resgatar, porque é um desafio conhecer a nossa origem, ou seja, não conseguimos narrar a história. Portanto, escrevo a pensar onde nós saímos,” disse Nkhululeco.
Nkhululeco defende que uma sociedade é edificada com base na cultura, crença e fé, “mas nós como africanos nos orgulhamos por exemplo, de falar melhor a língua portuguesa que o próprio português e rimos quem falha, porque nos esquecemos que fomos impostos. Hoje as igrejas estão cada vez mais a crescer e as nossas crenças estão a ser diabolizadas, existem igrejas que não querem que os vivos tenham ligação com os seus antepassados,” sublinhou o autor.
O autor afirma ainda que não está contra as crenças religiosas, mas antes da colonização o povo africano tinha fé, tinha seus deuses. As igrejas mostram que os deuses africanos são inferiores em relação dos europeus, no entanto “é preciso respeitar as crenças sem impor aos outros, deve haver uma informação de que existe por exemplo, os curandeiros que fazem certos trabalhos. Os africanos vão para as igrejas, mas quando acontecem coisas inesperadas correm aos curandeiros e são ditos que os problemas enfrentados são motivados por causa de falta de comunicação com os antepassados, depois de fazer o tratamento, por exemplo limpar campas a vida continua na normalidade,” realçou a fonte.
“Quando fomos oprimidos deixamos de viver segundo a nossa cultura, então, vozes e ancestralidade remete o resgate com os nossos deuses, nossos antepassados e edificar a cultura africana. Qualquer vivente estabelece pactos com os mortos,” secundou.
Portanto, o autor afirma e reafirma o poder evocativo da memória colectiva da herança africana e da força espiritual das palavras. Nkhululeco é licenciado em Direito e mestre em liderança e Gestão de Pessoas e é autor dos seguintes textos: Vomitando as palavras (2023), Elogio do amor (2014), Crenças (2015), Libertem a liberdade (2015), Tempos e Caos (2025) entre outros. Vozes e ancestralidade é primeira proposta em ficção narrativa. Como prémios que o autor ganhou, destaca-se o Nósside em Itália. (Francisco Mário)






