Suicídio, o silenciador de sonhos!

Nampula (IKWELI) – O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio é comemorado anualmente a 10 de setembro, organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O evento representa um compromisso global para chamar atenção para prevenção do suicídio.

De acordo com o relatório actual da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio se tornou epidemia de proporções globais, uma pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos. Dados divulgados no dia 4 de setembro de 2025, mostram que o fenómeno mata mais de 800 mil pessoas por ano, e 75% dos casos são registrados em países emergentes e pobres.

Por ocasião do mês amarelo, o Ikweli procurou saber como este fenómeno se manifesta no indivíduo até chegar ao ponto de tirar a própria vida. Rosário Sunde, Doutor em Psicologia Clínica, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul-Brasil, docente do Departamento de Psicologia da Universidade Rovuma e Diretor do Psicocare (Consultório de Psicologia Clínica), afirma que são vários os factores que levam um indivíduo a pensar em suicídio e destaca os problemas mentais na liderança. 

“90% dos casos de suicídio estão ligados a problemas mentais. O indivíduo pode não perceber que está com problemas, mas muitos dos suicídios têm ligação a doenças mentais. Não só, mas também a depressão, ansiedade, bipolaridade, angústia fazem parte dos factores que levam a cometimento deste mal.”

 O nosso entrevistado disse ainda que “factores como hereditariedade contribui também para o suicídio, isto é, o indivíduo que está a passar uma situação difícil, enquanto na Família tem um histórico de suicídio, a possibilidade é maior da pessoa cometer,” sublinhou Sunde.

Decepções amorosas, doenças, desemprego, consumo de substâncias químicas são outros factores mencionados pelo psicólogo. “Quando um individuo é diagnosticado certas doenças sem cura por exemplo, HIV/SIDA, a pessoa perde o sentido da vida e pensa em acabar com a sua própria vida.Também quando deposita confiança no seu parceiro e de um dia para outro vem pedir divórcio, pode favorecer questões de suicídio. Por outra, consumo de drogas levam a pessoa a perder o medo e começa a ter coragem de saltar por exemplo, em lugares distantes.”

Jogos de azar aceleram o suicídio

Os jogos de azar são aqueles cujo resultado é fortemente conhecido por algum dispositivo de aleatoriedade, e são mencionados pelo psicólogo como “grandes factores de risco ao suicídio porque os adolescentes ou jovens ao praticar querem ganhar, mas ao contrário, não conseguem,” pois, “Os jogos de azar dão-te uma esperança, você ganha pela primeira, segunda e até terceira vez e o jogador fica motivado a apostar mais. Por ter experiência de ganhar, a pessoa recorre a empréstimos com valores elevados e até leva o dinheiro do serviço para poder jogar e em contrapartida perde. Assim, a pessoa fica numa situação de desespero e comete suicídio.”

Existe uma força intrínseca que leva as pessoas a não quererem largar os jogos que envolvem apostas, principalmente os adolescentes e a única saída segundo Sunde, “é tratar com um psicólogo que pode ajudar a pessoa a deixar pouco a pouco porque da noite para o dia não é possível largar, mas através das sessões a pessoa pode diminuir e deixar.”

O nosso entrevistado, aconselha as pessoas a perceberem os sinais de alerta das pessoas com quem convivemos diariamente. “É preciso conhecer o comportamento das pessoas com quem vivemos para poder perceber quando há um desvio. Por exemplo, se uma certa pessoa começa a distribuir os bens repentinamente, ou que era um pouco agitada começa a se isolar e ser calma, começa a postar fotos deprimidas nas redes sociais, é preciso aproximá-la e procurar entender o que está a acontecer, dai levar ao psicólogo. O psicólogo não é apenas para as pessoas com problemas mentais. Nós atendemos pessoas que aparecem pensando que a vida não tinha sentido, ma com o andar do tempo tiram aquela ideia.”

A sociedade que me leva ao túmulo 

A questão do suicídio, para além de ser algo ligado a doenças mentais e outras questões da vida, também faz parte da esfera social. Ou seja, a sociedade influencie  para que o indivíduo tire sua própria, está ideia é defendida pelo docente e sociólogo Jaibo Mucufo.

“ Acontece quando o sistema de socialização, o sistema de valores e normas impõe a culpa ao indivíduo e a toda família. Por exemplo, se alguém comete um determinado crime, o crime é imposto a toda família e a forma que o indivíduo em causa encontra para libertar a família é tirando sua própria vida.”

Por outra, existe outro aspecto do suicídio denominado anómico, “que resulta de vários tipos de pressão, pode ser pressão emocional por causa do amor, pode ser pressão social por causa do bullying que a pessoa sofre, os adolescentes passam muito por esse tipo de situação. Por exemplo, um contexto social que não aceita pessoa engordar, a menina ou menina começa a se isolar e pode suicidar-se. O jovem ou a jovem que não consegue namorar pode suicidar-se,” explicou Mucuvo.

As grandes crises que acontecem no mundo constituem grande risco para que as pessoas cometam suicídio, “as pessoas com um determinado estilo de vida para sustentar quando perdem emprego são vulneráveis ao suicídio. As crises, guerras, ambientais, a violência onde as pessoas perdem os bens, criam anomalias e não havendo capacidade de gerir essas situações cometem suicídio,” sublinhou a fonte.

Mucufo afirmou ainda ser necessário haver instituições de reabilitação para que possa acompanhar as pessoas que estão em risco ao suicídio, “é preciso que haja uma terapia colectiva para que após grandes crises como por exemplo, as recentes manifestações, as pessoas sejam submetidas.”

Todavia, uma sociedade digital na qual nos encontramos actualmente, com ligações virtuais e sem contacto físico, cria um isolamento social e pode ser uma pré-disposição ao suicídio.

Estar vivo é uma dádiva e não quero desperdiçar

Quem comete suicídio deixa cicatrizes indeléveis nos seus próximos, lágrimas sem fim, dor que nunca passa, e mata a esperança dos que ainda vivem. 

Ora, no meio do desespero sempre existe uma luz no fundo do túnel, sempre há uma saída para qualquer dificuldade. A nossa equipa de reportagem ouviu algumas pessoas, outras que já tiveram a ideia de pôr fim a sua existência, mas descobriram que a vida é uma dádiva. 

Cidália Silva Carlos, estudante universitária, disse ao Ikweli que passou momentos de desespero e pensava que a vida não tinha mais sentido. “Já pensei em suicidar-me, foi uma altura em que me encontrava no fundo do poço. Perdi meu irmão e mês seguinte perdi o meu pai e comecei a me questionar porque é que estou viva, se as pessoas que amo estão a deixar-me. Não ficava com vontade de fazer quase nada, não queria conversar, perdi apetite e me trancava no quarto,” disse Cidália enquanto tentava segurar as lágrimas que teimavam em escorrer pelo rosto. 

Cidália não se tornou óbito graças a rápida intervenção da sua irmã mais velha, que a levou a um especialista, “Num dos dias eu trancada no quarto como sempre, minha irmã veio e bateu a porta, me perguntou o que se passava e eu não respondi. Me disse para eu conversar, passear e comecei a chorar, porque não via o significado em viver. Ela abraçou-me e também começou a chorar e depois saiu. Dois dias depois ela veio e disse-me para irmos passear, eu aceitei, me levou ao escritório de um psicólogo e disse, essa pessoa vai nos ajudar durante este período complicado. Quando eu faltava, o psicólogo é que vinha em casa, fui conversando com ele e até começar a retornar a minha vida antiga.”

Hoje, Cidália aconselha os outros, a pensarem que, “independe da situação é possível superar e continuar com a vida, mas é preciso coragem, porque não é fácil lidar com situações inesperadas.”

Solomone Lino Alface, outro entrevistado, conta que nunca pensou em cometer suicídio, mas ainda assim os suicidas.

“Eu acredito que é um momento inconsciente e muitas das vezes a pessoa não descobre que isto está errado. Quem comete não encontram uma pessoa para puder se abrir do que está a se passar e as pessoas descobrem quando a acção já foi consumada.”

Por seu turno, Félix Augusto afirmou que o suicida quer si livrar de um farto que carrega e não a vida. “Eu acho que as pessoas que pensam em suicídio querem se livra de um determinado problema. É necessário prestar muita atenção nos sinais dos nossos próximos para ver como podemos ajudar.”

Para Augusto, “é preciso perceber que a vida vale mais do que a morte, nada justifica a pessoa tirar a sua própria vida, mesmo te traírem como, perder tudo a vida não deve ser dispartida”.

Suicídios e tentativas de suicídio têm um efeito que afecta não apenas os indivíduos, mas também as famílias, comunidades e sociedades. Alguns factores de risco associados ao suicídio, destaca-se a perda de emprego ou financeira, trauma ou abuso, transtornos mentais e de uso de substâncias e barreiras ao acesso a cuidados de saúde. (Francisco Mário)

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