Nampula (IKWELI) – Durante muito tempo, elas ouviram que certos trabalhos “não são para mulheres”. Mas, ao invés de recuar, algumas delas na capital Nampula, província com mesmo nome, extremo norte de Moçambique decidiram quebrar o tabu ao calçar as botas, vestir o uniforme e o capacete de trabalho para mostrar que também são capazes de pegar no cimento, soldar o ferro e medir tábuas com precisão.
Para o efeito, num curso de curta duração com apenas quatro meses algumas jovens desafiaram mitos e provaram que lugar de mulher também é na construção civil, na serralharia e na carpintaria.
Trata-se de Alima Tecla António Ernesto, Márcia Lopes e Leonela Joaquim entre outras raparigas com idades que variam entre 20 a 25 anos de idade que colocaram à prova as suas habilidades ao quebrar tabus antigos surgindo como força e superação.
Leonela Joaquim jovem de 20 anos de idade, decidiu apostar no curso de carpintaria tendo como referência o seu primo que se formou na mesma área, apesar das barreiras e do preconceito decidiu seguir em frente e durante quatro meses aprendeu o ABC sobre como cortar uma madeira com recurso a um serrote.
“Decidi fazer o curso de carpintaria porque as pessoas acham que a mulher não é capaz. Diziam que o serrote era pesado para mulher. Mas o mais pesado mesmo é carregar o preconceito todos os dias. Hoje, eu corto madeira e já sei fazer uma cama, banco e muito mais, assim corto também essa ideia de que a mulher tem limites”.
Em entrevista ao Ikweli, Leonela mostrou ainda a sua satisfação tudo porque após o curso, a jovem teve oportunidade de ser vista e contratada por uma empresa. Por isso, apela as demais raparigas a apostarem em cursos considerados masculinos sem colocar limites nas suas habilidades.

“Estou ainda mais feliz porque encontrei uma empresa que quer mais mulheres. Eu digo meninas, raparigas, devem ser mais fortes, corajosas, determinadas e acreditar que vocês podem.”
Márcia Lopes de 23 anos de idade, enfrentou duplo preconceito por parte da sociedade primeiro por ter escolhido o curso de serralharia e segundo porque a mesma encontrava-se no oitavo mês de gestação.
Entretanto, nenhuma das duas situações a fez abrir mão do seu desejo, que era tornar-se serralheira.
“Escolhi o curso de serralharia porque desde cedo quis apostar em áreas do saber fazer, na altura subestimaram-me por estar grávida, tiveram olhares estranhos quando fui me apresentar, mas enfim, fui encorajada pela minha mãe e irmã a seguir em frente. Dei à luz em fevereiro, fiquei em casa somente uma semana com aquelas dores voltei ao curso e com aquele frio levar o bebê para cá, graças a Deus minha filha não teve muitas dificuldades de saúde. Dediquei-me muito, e acredito que se não tivesse tido o apoio de casa teria desistido.”
Hoje, Márcia Lopes não esconde o orgulho de ter vencido os supostos obstáculos que a fariam desistir. Com o certificado e a recém-nascida nas mãos, acrescentou.
“O ferro é duro, mas nós somos ainda mais duras. A cada peça que soldava, eu sentia que estava soldando também minha liberdade, espero poder contribuir com o meu conhecimento e técnica na área no bairro e não só.”
Enquanto isso, a curiosidade levou Alima Tecla António Ernesto, a migrar no curso de serralharia, tendo revelado ainda que o desejo surgiu ainda mais porque trabalha com aspectos relacionados com ornamentação. “Numa das nossas esculturas usamos culturas metálicas, por isso, pensei em aprender a fazer aquelas estruturas, mais para continuar com a minha arte de ornamentar e poder fabricar meu próprio material de trabalho.”
Trata-se de raparigas capacitadas e graduadas recentemente pelo Instituto Polivante de Marrere, através da Organização Internacional do Trabalho (OIT), no âmbito do projecto “Projecta Jovem”, uma iniciativa que, de acordo com a direção do instituto, visa empoderar mulheres economicamente e desafiar os estereótipos de género nas profissões técnicas. O projeto não só ofereceu habilidades práticas como também criou um ambiente de encorajamento e sororidade, onde cada mulher aprendeu que é capaz e não está sozinha. (Ângela da Fonseca)






