O relatório interino da Subcomissão Permanente de Investigações do Senado dos EUA, liderada pelo Senador Ron Johnson e publicado a 21 de maio de 2025, detalha a resposta das agências de saúde norte-americanas aos riscos de miocardite e outros eventos adversos associados às vacinas de mRNA contra a COVID-19 (Pfizer-BioNTech, Moderna e, em menor medida, Johnson & Johnson). Este documento, baseado em 2.473 páginas de registos obtidos por intimação, é relevante para o Instituto Nacional de Saúde (INS) e o Ministério da Saúde (MISAU) de Moçambique, considerando que estas vacinas foram distribuídas no país, principalmente através do mecanismo COVAX e doações bilaterais.
Factos Apresentados no Relatório
Em fevereiro de 2021, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA recebeu alertas do Ministério da Saúde de Israel sobre “um grande número de casos de miocardite” em jovens após a administração da vacina da Pfizer-BioNTech. Dados do Departamento de Defesa (DoD) dos EUA também indicaram sinais de miocardite em jovens adultos. Em março de 2021, o CDC e a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) iniciaram respostas a estas preocupações, mas não emitiram alertas públicos imediatos. Em abril de 2021, uma apresentação do DoD na reunião do grupo técnico de segurança vacinal (VaST) destacou limitações no sistema de vigilância V-safe, que não incluía sintomas cardíacos nas suas pesquisas, dificultando a deteção de miocardite. Apesar deste aviso, o protocolo do V-safe não foi atualizado para incluir estes sintomas.
Em maio de 2021, o CDC debateu a emissão de um alerta formal através da Rede de Alertas de Saúde (HAN) sobre miocardite, especialmente em adolescentes e jovens adultos (16-24 anos), mas optou por publicar apenas “considerações clínicas” no seu website. Documentos mostram que o CDC informou representantes da Pfizer e da Moderna sobre o estado do alerta, mas não o público. Notas confidenciais de maio de 2021 confirmaram sinais de miopericardite no sistema VAERS para as faixas etárias de 16-17 e 18-24 anos. Contudo, a administração Biden, através de pontos de discussão de 25 de maio de 2021, minimizou os riscos, afirmando que os casos de miocardite eram “raros” e “leves”, apesar de o CDC reconhecer que a subnotificação no VAERS poderia mascarar a verdadeira extensão do problema.
Em junho de 2021, a FDA anunciou alterações nos rótulos das vacinas da Pfizer e Moderna, reconhecendo “riscos aumentados” de miocardite e pericardite, mas apenas após meses de atraso. Até abril de 2025, o VAERS registou 38.607 mortes e 1.663.348 eventos adversos associados às vacinas contra a COVID-19 globalmente, números significativamente superiores aos de outras vacinas, como a da influenza. O relatório critica a falta de transparência da administração Biden, que reteve informações cruciais e redigiu documentos obtidos através de pedidos de acesso à informação.
Relevância para Moçambique
Moçambique recebeu cerca de 14 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 até 2023, incluindo doses significativas da Pfizer-BioNTech e Johnson & Johnson, distribuídas através do COVAX e doações. Embora o relatório não mencione Moçambique diretamente, a utilização destas vacinas no país torna as suas conclusões pertinentes. O INS e o MISAU devem considerar a possibilidade de subnotificação de eventos adversos, especialmente miocardite, devido a sistemas de vigilância menos robustos em comparação com os dos EUA. A ausência de sintomas cardíacos em sistemas como o V-safe sugere que casos de miocardite podem ter passado despercebidos em populações jovens moçambicanas, particularmente em adolescentes e jovens adultos do sexo masculino, que o relatório identifica como grupos de risco.
Conclusão
O relatório expõe falhas significativas na comunicação e monitorização de riscos associados às vacinas de mRNA contra a COVID-19 nos EUA, com implicações para países como Moçambique, onde estas vacinas foram amplamente utilizadas. Recomenda-se que o INS e o MISAU fortaleçam os sistemas de farmacovigilância e promovam a sensibilização dos profissionais de saúde para a deteção de miocardite, garantindo uma resposta mais eficaz a potenciais eventos adversos. Esta análise sublinha a importância de transparência e vigilância robusta na proteção da saúde pública, lições cruciais para a gestão de futuras campanhas de vacinação em Moçambique. (Egídio G. Vaz Raposo | egidiovaz.com)