Nampula (IKWELI) – As autoridades de Saúde na província de Nampula, região norte de Moçambique, afirmam que o rácio entre parteiras e parturientes ao nível das unidades sanitárias, ainda continua a quem de desejar, isso porque uma profissional está para cerca de 100 mulheres, principalmente nas zonas rurais, uma situação que coloca em causa o atendimento humanizado.
A informação foi partilhada à imprensa pela supervisora do programa de Saúde Materno-infantil nos Serviços Provinciais de Saúde de Nampula, Rosimery Bange, no âmbito das celebrações do dia internacional das parteiras assinalado no dia 5 do mês em curso, sob o lema “As parteiras com as Mulheres: Celebrar, Demonstrar, Mobilizar, Unir”.
De acordo com dados oficiais a província de Nampula conta com cerca de 1300 parteiras para atender um total de sete milhões de habitantes.
Segundo a supervisora, nos últimos tempos nota-se a presença de enfermeiras de saúde materno infantil em todas unidades sanitárias dos 23 distritos de Nampula, entretanto com mais melhoramento para as zonas urbanas onde quatro pacientes estão para uma enfermeira, ao passo que para as zonas mais periféricas, há ainda um défice de parteiras, tudo porque 100 parturientes estão para apenas uma enfermeira por mês.
“Ainda é um número que precisamos melhorar quanto ao rácio, olhando para aquilo que é a demanda e não só, olhando pelo nível de atendimento que temos que é de 24 horas por dia, ou seja, há uma demanda que precisa ser respondida pelo número de parto elevado e o número de enfermeira de saúde materna que temos acaba não respondendo o número de partos que temos”.
O chefe do departamento de Saúde Pública, na Direcção Provincial de Saúde, Mateus Miguel, realçou o papel preponderante das enfermeiras de saúde materno infantil, tendo em conta ao número reduzido de génico-obstetras no país e na província que só existem dois, um no distrito de Nampula e outro em Nacala.
“Vale a pena dizer as nossas colegas para que não se sintam isoladas, nós como sector reconhecemos o vosso papel, enfermeira de saúde materna trabalha muito e é apontada quando há problemas. Tenho certeza que no manejo do trabalho todo de parto, as nossas enfermeiras estão melhores que alguns médicos e isso não é para duvidar”.
Críticas contra parteiras
A efeméride foi, igualmente, marcada por reflexões e críticas relacionados ao mau atendimento por parte de algumas profissionais de saúde, uma situação que, segundo foi avançado por entrevistadas do Ikweli, mancham a classe no seu todo, tal como afirmou Helena Adamo, de 42 anos e enfermeira de saúde materno infantil há 16 anos.
De acordo com a profissional, o comportamento de algumas parteiras tem vindo a manchar a nobre profissão das que realmente fazem um trabalho invejável, que é trazer ao mundo uma vida.
Na sua opinião, os hospitais não devem ser vistos como locais de medo para as parturientes, mas sim de acolhimento.
“Para ser uma enfermeira íntegra não podemos nos envolver nessas cobranças que são ilícitas, isso não traz benefício, pelo contrário faz com que as pessoas tenham medo de ir ao hospital (…) é necessário que haja uma abertura para que as mulheres não tenham medo de dar parto no hospital, há mulheres que preferem fazer esse processo em casa do que no hospital por causa das cobranças”.
Ricardina Afonso, de 54 anos de idade, na profissão há 32 anos, revela que o amor pela vida do outro deve constar na mente das profissionais que se estão a formar agora, de forma a acabar com actos de violência e cobranças nas maternidades.
Segundo afirma a fonte, urge a necessidade de haver mais empatia pelas parturientes, “Estou a pedir as colegas que estão a formar-se agora a respeitar essa nobre missão, quem está a entrar agora na carreira a humanização é a primeira coisa, pautem pela não cobrança, porque para além de ser um crime, mancha toda uma classe de profissionais comprometidos com a causa. Nós queremos ser bem-faladas”.
Não só as enfermeiras tiveram espaço para criticar o comportamento desumano de “barbas brancas”, mas também, o governo local mostrou o seu descontentamento.
O chefe de saúde pública na DPS, Jaime Miguel, lembrou que a performance da profissional pode contribuir de forma positiva ou negativa para o sector dependendo do comportamento.
“Temos a situação de nó na capulana, o facto de uma enfermeira em 100 possíveis ter este comportamento, acaba manchando toda a classe, isto, nós temos que reconhecer e como sector estamos preocupados e trabalhar com a inspeção no sentido de procurarmos realmente quem são essas pessoas para responsabilizá-las (…), nenhuma enfermeira tem o direito de atender mal e fazer cobranças ilícitas”.
Enquanto isso, Manuel Eduardo, diretor dos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acão Social de Nampula, pediu maior reflexão e mudanças em torno de certas atitudes levadas a cabo por algumas parteiras, lembrando que um dos grandes objetivos da classe é garantir melhor atendimento às parturientes e aos seus recém-nascidos.
“Queríamos pedir as parteiras aqui presentes, vamos mudar a maneira de ser, porque a nossa profissão é nobre, é dela que as vidas estão aqui na terra. Tínhamos que nos orgulhar, porque vantagem que tivemos é Deus nos dar essa profissão de trazer a criatura que Deus deu no ventre da mãe. Queria pedir que a partir de hoje, deixem aquela vergonha e manchas que estamos a fazer nas nossas unidades sanitárias, o povo está a chorar e a reclamar e quem deve mudar não é o governo, mas sim são os nossos modos”.
Importa lembrar que em 2022, cerca de oito enfermeiras de saúde materno infantil afetas no Hospital Central de Nampula, maior unidade sanitária da região norte, foram flagradas e expulsas do aparelho de Estado por envolvimento no acto de cobranças ilícitas na maternidade.
O Código Penal vigente no país, prevê como crimes algumas das condutas que se enquadram na violência obstétrica, como o homicídio, as ofensas corporais, a violação e o trato sexual com menores de 12 anos. (Ângela da Fonseca)