Vereador de Salubridade e cemitérios “foge” dos mortos em Nampula

Nampula (IKWELI) – Vezes sem conta, os munícipes da autarquia da cidade de Nampula vêm se queixando da falta de humanismo no que concerne a conservação de corpos a nível da morgue do Hospital Central de Nampula (HCN).

O luto das famílias é agravado por uma realidade chocante, uma vez que os corpos são mantidos sem refrigeração adequada, o que muitas vezes tem provocado cheiro nauseabundo nos corredores, forçando assim sepultamentos apressados.

Em entrevista ao Ikweli, João disse que o seu irmão perdeu a vida vítima de doença no HCN, entretanto, a perda do seu familiar transformou-se em desespero, porque não teve tempo e muito menos espaço para lamentar. 

“Quando levamos o corpo a morgue disseram-nos que não havia espaço nas camaras, mas que também o frigorifico estava avariado.  O corpo já estava a começar a cheirar mal. Tive que me recompor e correr para tratar de toda a documentação necessária para enterrar o meu irmão”. 

Devido a situação, os utentes chegaram até a pedir socorro ao governador da província de Nampula, Eduardo Mariamo Abdula, para encontrar soluções para a resolução o problema. Em representação de algumas famílias, num recente encontro com o dirigente, Abiba Gulamo, disse que “precisamos de socorro do tio Salim para nos ajudar a resolver a situação da morgue do Hospital Central de Nampula, está a cheirar muito mal. Os frigoríficos lá estragam os corpos, estamos a pedir a sua intervenção tio Salim, por favor”.  

Apesar das denúncias feitas por familiares pouco se tem feito para resolver o cenário. A situação repete-se quase todos os dias. Mais agravante ainda, é não saberem a quem devem realmente recorrer, uma vez que, numa visita feita ao HCN, o Ministro da Saúde (MISAU), Ussene Isse, fez saber que a gestão das morgues não estão está sob sua alçada direta, mais sim do município. 

“Gostaria de explicar o seguinte, as morgues não estão sob responsabilidade do ministério da Saúde, as morgues estão na responsabilidade do município. Quem lidera todos os processos são os municípios, isto está descentralizado, já não está na responsabilidade do ministério”. 

Isse garante que o MISAU está disponível e aberto para trabalhar em coordenação com os municípios para melhorar a situação, justificando que “somos uma equipa, eu sempre digo, ninguém trabalha de uma forma isolada, foi me colocada essa preocupação não só aqui em Nampula, mas em todo país há este desafio das casas mortuárias. Iremos trabalhar com os colegas do município para vermos em conjunto como resolver este assunto. Esta é uma área muito sensível, temos que tratar com muito carinho, nós temos que olhar essa parte das mortes com muito carinho, eu estou aberto para melhorar o funcionamento das morgues”.

Entretanto, o município da cidade de Nampula, através do seu vereador do Pelouro de Salubridade e Gestão Funerária, Assane Ussene, “foge” da responsabilidade e afirma que o seu sector é responsável apenas pelos serviços de emissão de certidões de óbito, registo de transladação e cremação de corpos. 

“Algumas componentes não foram transferidas para os municípios, a gestão das morgues não é nossa. A questão das camaras, isso não é connosco, mas tendo em conta que temos os nossos funcionários que trabalham nessa área de registo, nós estamos a colaborar e estamos a utilizar creolina para evitar que isso (cheiro) aconteça, o próprio hospital, penso eu é que tem dificuldades de levar a cabo algumas atividades”.

Contrariando a justificativa do vereador, o Ikweli sabe que a administração autónoma das morgues, valas comuns e outros serviços passaram para a gestão dos municípios em 2010. Por outro lado, consta ainda na proposta do Plano Quinquenal Autárquico da Cidade de Nampula 2024/2028, aprovado em Agosto do ano passado, que o serviço funerário do município tem a missão de “garantir uma gestão ética e humanizada dos serviços funerários”, bem como a “construção de uma morgue no posto administrativo de Natikiri”. 

Município e saúde devem negociar para acabar com imundície na morgue do HCN

Por outro lado, Gamito dos Santos, antigo funcionário do município de Nampula, na altura sob a gestão do falecido edil, Mahamudo Amurane, disse ao Ikweli que a gestão da morgue do HCN era feita pelo próprio hospital, mas com a comparticipação do município.

“O município tem a responsabilidade com os munícipes nesta componente de gestão funerária, eis a razão que o município não pode dizer que a casa morgue não é da responsabilidade deles, uma vez que tem essa vereação que responde por questões funerárias. Eles devem estão a fugir com a seringa no rabo. O que devem fazer é desencadear uma negociação com a direção provincial e com o hospital central no sentido de fazer face aquela imundice que se vive no HCN”.

A fonte deixou ficar que, na altura, Amurane como edil havia firmado um memorando com um parceiro para aquisição de câmaras frigoríficas, bem como manutenção das mesmas.

“Na época do presidente Amurane havia essa negociação entre o governo da província de Nampula para que pudessem ceder a 100% a gestão para o município, e eis a razão que nessa altura havia um projeto de requalificação da morgue, manutenção dos frios e aquisição de novas câmeras porque até agora, os que lá estão não conseguem atender a demanda da cidade de Nampula. Esse projeto, morreu quando o dono também morreu”.

Da pesquisa feita, o Ikweli verificou que a morgue junto do edifício principal do HCN conta apenas com cerca de 33 câmaras frigorificas para albergar corpos internos e externos. (Ângela da Fonseca)

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