Nas unidades sanitárias: Pacientes com filaríase linfática queixam-se de falta de assistência

Nampula (IKWELI) – Pacientes que padecem da filaríase linfática na província de Nampula, região norte de Moçambique, denunciam a falta de assistência médica e medicamentosa nas unidades sanitárias onde frequentam para tratarem-se da patologia.

Filaríase linfática, popularmente conhecida por elefantíase, é uma doença parasítica considerada como doença tropical infecciosa causada por mosquito culex.

Em Moçambique, a doença é predominante nas províncias de Nampula, Cabo Delgado e Zambézia.

Em Nampula, a doença tem ganhado maior repercussão em comunidades onde a população, por vezes, percorre longas distâncias para tratar qualquer tipo de patologia.

A doença considerada, também, negligenciada ganha proporções quando mais de três vezes os pacientes não encontram medicação nas unidades sanitárias onde buscam cuidados médicos, aumentando assim a negligência no tratamento, uma vez que estes ficam até a fase complicada da elefantíase. 

O Ikweli conversou com alguns pacientes que procuram, já na fase crítica da Filaríase Linfática ou se preferir Elefantíase, de forma ambulatória, de algum curativo no Hospital Central de Nampula (HCN).

Fátima Yassine é moradora da zona de Mutava Rex, conta que quando tinha 23 anos de idade e com dois filhos começou a notar alguns problemas de inchaços nos braços e procurou os serviços de saúde, mas sem sucesso. 

Fátima conta que sempre foi receitada alguns fármacos, os quais não surtiram efeitos positivos, “por isso, que os meus braços continuaram a doer e ficaram inchados e como sempre fui ao hospital e não encontrava solução, parei de ir e até nos dias de hoje doem”.

Esta paciente disse, ainda, que “começamos a procurar o tratamento no centro de saúde de Anchilo e mesmo assim a dor e inchaço dos braços continuava”.

Segundo a nossa fonte, durante cinco anos frequentou ao tratamento da elefantíase no centro de saúde de Anchilo, mas sem solução pois muitas vezes não existia a medicação. “Passei a frequentar o centro de saúde de Mutava Rex e os médicos sempre diziam que não há medicamentos para a doença e simplesmente existia medição para acalmar a dor”.

A fonte contou que já frequentou, igualmente, o centro de saúde de 1º de Maio e actualmente recebe medicamentos no Hospital Central de Nampula.

Fátima Yassine relata que tem sido receitada Paracetamol e outros antibióticos, porque dizem que esta doença está na fase crítica e não tem cura, apenas pode atenuar a dor.

Actualmente, os braços estão em um tamanho enorme e ela conta que por vezes sai pus que cria um cheiro insuportável, fazendo com que as pessoas que estão ao seu redor sintam o mesmo, “dai que os meus dias não têm sido nada fáceis, os mesmos filhos não vivem perto de mim e somente tenho apoio dos meus netos, marido e vizinhança, ainda mais, para comer dependo da prática agrícola e sem outras alternativas”.

No Hospital Central de Nampula, um paciente que se identificou por Alberto Joaquim disse que frequentou muito o Centro de Saúde de Alua, no distrito de Eráti, mas sem solução, pois a medicação não era fiável. 

“E afinal todo aquele tempo que frequentava ali davam me uns comprimidos que não me curavam nada, recebi vacinas que não deram efeito de nada por isso o meu pé chegou a este ponto aqui e dói-me muito por isso estou aqui para ver o que os médicos podem fazer comigo”.

A fonte disse que não sabe se há realmente uma medicação que cura a doença, pois parece não ter negligenciado uma vez que sempre frequentou ao centro de saúde para tratar das dores iniciais. 

Uma outra cidadã que padece da Filaríase é mãe de 3 filhos e tem 34 anos de idade, encontrámo-la no Hospital Central de Nampula e relata que a doença começou quando vivia num dos distritos da província de Nampula, mas vivia distante de um centro de saúde, por isso não frequentava constantemente na procura da medicação, pois das vezes que foi a um centro, só recebia Paracetamol e um outo fármaco que chamou de cápsula, por isso decidiu ir ao Hospital Central de Nampula.

A nossa fonte contou que não é fácil viver com a elefantíase. “Estou praticamente há 10 anos com esta doença e está a tornar os meus dias difíceis, sinto quentura de todo o pé do lado direito, comichão e dor por causa do inchaço e, quando isso acontece, não posso fazer absolutamente nada, se não ficar deitada”.

O desejo da nossa fonte é ultrapassar o problema, através de medição condigna, “mas isso é difícil, pois ir ao hospital para ser receitada Paracetamol e cápsula não resulta nada, eu penso que toda a doença tem cura, é preciso que haja equipamento e vontade por parte dos profissionais de saúde para alcançar a cura”.

O Ikweli procurou ouvir das autoridades de Saúde na província de Nampula sobre a prevalência desta doença.

Destas, ficamos a saber que o sector de Saúde tem massificado actividades de educação sanitária em matérias de Doenças Tropicais Negligenciadas, envolvendo a comunidade, os líderes religiosos, influentes e todos actores comunitários de saúde, bem como a distribuição de material de informação sobre a doença nas unidades sanitárias e comunidades.

A directora Provincial de Saúde em Nampula, Selma Xavier, que passou estas informações, anotou que são, igualmente, realizadas palestras e passados spots radiofónicos sobre a doença.

Segundo Selma Xavier, a última campanha de tratamento massiva contra filaríase Linfática e outras Doenças Tropicais Negligenciadas decorreu em Junho de 2024 na qual foram alcançadas perto de 5 milhões de pessoas do grupo alvo.

A directora Provincial de Saúde em Nampula indicou que, neste momento, 20 dos 23 distritos são endémicos, de acordo com último inquérito do sector, o qual mostrou não existir a doença em Angoche, Larde e Malema.

Perguntamos a Selma Xavier, qual é o causador da Filaríase Linfática, ao que respondeu que “o agente causador é Wuchereria bancroft, que pode se passar duma pessoa doente para outra por meio da picada de mosquito Culex infectado com larvas do parasita no período, por isso é preciso que as nossas comunidades tenham muito cuidado, dormir sempre dentro de uma rede mosquiteira, eliminar os focos de crescimento de mosquitos e em geral arejar o meio onde vivemos”.

Explicou que entre as manifestações clínicas mais notáveis da doença estão edemas ou acúmulo anormal de líquido nos membros, nos seios e na bolsa escrotal, que podem levar o paciente a incapacidades.

A fonte aclarou que a infecção, geralmente começa com a picada de um mosquito infectado que transmite as larvas do verme filarial, como Wuchereria bancrofti. Essas larvas entram na corrente sanguínea e se alojam nos vasos linfáticos.

Após uma fase de incubação que pode durar meses, os vermes se desenvolvem nos vasos linfáticos, onde podem viver por vários anos. Durante esse período, eles podem se reproduzir, liberando microfilárias na corrente sanguínea.

À medida que os vermes adultos se multiplicam e crescem, eles podem causar obstrução dos vasos linfáticos. Assim o sistema imunológico reage à infecção, resultando em inflamação crónica ao redor dos vasos linfáticos afectados. 

Essa inflamação contribui para a fibrose e o espessamento da pele nas áreas afectadas.

A fase de complicações caracteriza-se pelo acúmulo de linfa e a alteração na estrutura dos tecidos, o que pode levar a complicações secundárias, como infecções bacterianas devido ao comprometimento da integridade da pele.

A fonte disse que em 2024, os casos tendiam a reduzir, se notar que em 2023 Nampula notificou 4.011 (quatro mil e onze) pacientes com a doença e no ano seguinte, 2024, o registo de doentes com esta patologia foi de 2.417 (dois mil quatrocentos e dezassete) e a luta neste momento é de dar resposta a pacientes que procuram curativos desta doença nas várias unidades sanitárias e massificar as campanhas de modo que haja prevenção. (Nelsa Momade)

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