Nampula (IKWELI) – A 4ª fase das manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane começou agressivamente na capital do maior círculo eleitoral do país, Nampula.
O principal palco estava montado no mais populoso bairro do país, Namicopo, e os manifestantes, segundo apuramos, tinham uma missão clara, assaltar a 3ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM) e tomar a sede do posto administrativo autárquico de Namicopo.
A intervenção da polícia fez com que a sua subunidade não fosse tomada, mas o posto administrativo não teve a mesma sorte. Foi vandalizado, saqueado e incendiado.
Sem capacidade de dissuasão, agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), uma das forças mais perigosas da polícia moçambicana, fez-se ao local aos tiros, desde balas verdadeiras ao gás lacrimogénio, alegadamente para dispersar os manifestantes. Desta investida, um operador de táxi de mota tombou.
Um agente da polícia municipal e de fiscalização que encontrava-se em serviço no dia em que a sede do posto administrativo de Namicopo foi tomada pelos manifestantes, explicou ao Ikweli que a situação piorou quando agentes da UIR fizeram-se ao local.
“Isso ocorreu através das manifestações por volta das 9 horas, chegaram os manifestantes, cerca de 180, e começaram a fazer uma marcha pacífica, só depois quando iam em direção a cidade, na 3ª Esquadra, começamos a ouvir disparos com balas verdadeiras e gás lacrimogéneo”, disse, prosseguindo que “A UIR chegou aqui no local com o objetivo de afugentar a população, mas depois dos colegas se aperceberem da situação acabaram saindo, os manifestantes chegaram aqui no posto com objetivo de incendiar, alegando que um taxista foi baleado mortalmente e uma criança dos seus 10 anos que foi atingida com uma munição. Vieram vandalizaram o edifício e um funcionário sofreu gravemente, levaram o meu fardamento queimaram e queriam me colocar dentro do edifício, assim a pegar fogo junto com o corpo que foi baleado, alegando que o corpo iam enterrar no posto administrativo junto comigo”.
De bens mais valiosos, nas instalações do posto administrativo de Namicopo, encontravam-se computadores do Serviço Provincial de Identificação Civil, para emissão de Bilhetes de Identidade, uma motorizada, incluindo documentos diversos.
Assane Ussene, vereador do pelouro de Salubridade, Higiene e Gestão Funerária, no conselho autárquico da cidade de Nampula, garante estarem a ser criadas condições para que o posto administrativo de Namicopo retome as suas actividades administrativas no mais breve possível.
No entanto, uma fonte policial disse que durante o incêndio, um membro da corporação conseguiu recuperar dois computadores e um processador no interior do posto administrativo de Namicopo.
O desespero dos utentes
Esta situação fez com que vidas de muitos utentes dos serviços municipais, e não só, ali prestados ficassem em desespero.
A título de exemplo, a dona Hirondina Artur, residente no bairro de Namicopo há mais de 5 anos, qual mostra-se preocupada com as consequências que podem decorrer do incêndio do posto administrativo. “Estou preocupada porque o posto administrativo ajudava todo o mundo que vive em Namicopo. Para o meu caso, consegui ter o bilhete de identidade e os meus filhos possuem documentação, graças a facilidade do posto que foi incendiado”.
Outra residente no emblemático bairro de Namicopo, que não revelou sua identidade, entende que o posto administrativo, ora vandalizado, trazia valias as famílias vulneráveis. “Com o posto próximo, era económico, antes não precisávamos subir transporte e escalar outros pontos para ter declaração do bairro, bilhete de identidade e registo de nascimento. Neste momento, não sabemos quem foram os actores deste mal, estas manifestações apenas geram mais problemas do que soluções, estamos agastados ao ver nossos irmãos mortos a tiros e não podermos fazer nada”.
A fonte espera que o posto administrativo seja reabilitado em breve, e exige ao governo, o fim das manifestações violentas para o bem comum. “Esperamos que o posto volte ao funcionamento normal, pese embora todo o equipamento encontre-se em cinzas, e algumas pessoas tenham contraído ferimentos ligeiros, pedimos para que a polícia faça o seu trabalho correctamente para a neutralização dos malfeitores que continuam a manchar o bairro de Namicopo”.
O chefe do posto administrativo de Namicopo, Mito Martins, eafirma que foram os jovens manifestantes que protagonizaram a vandalização do edifício e exige as autoridades policiais a responsabilização dos infractores.
“Todos os serviços administrativos estão paralisados, todos os carimbos da secretaria, gabinete, computadores, impressoras, declarações, entre outros bens foram incendiados, no entanto, as autoridades municipais têm conhecimento e neste momento decorre o mapeamento para instalação do novo posto”, disse.
Entretanto, Martins conta que os constrangimentos decorrentes do incêndio do posto já começam a soar na região. “É uma preocupação para a população, um caso recente, é de uma família que solicitava a declaração de óbito e por causa do incêndio não foi possível, pois ficou aflita e sem sabe onde recorrer para a resolução do caso. Quero apelar aos jovens para que não enveredam por manifestações violentas que no final prejudicam a todos”.
A porta-voz da Polícia da República de Moçambique, em Nampula, Rosa Nilza Chaúque, por sua vez, confirmou a vandalização do posto e garantiu que foram detidos os supostos responsáveis pelo incêndio.
Durante a operação, a porta-voz revela que há um agente da PRM que foi colocado retido e agredido pelos manifestantes. “Um grupo de manifestantes incendiaram o posto administrativo de Namicopo e fez refém um colega membro da Polícia da República de Moçambique que estava a paisana. O colega, também, sofreu agressão física pelos membros e simpatizantes do partido PODEMOS e devido a situação, a polícia foi obrigada a intervir imediatamente para resgatar o colega que estava em perigo, onde também foi possível recuperar alguns bens que estavam no interior como um dois computadores e um processador”. (Nelsa Momade, Ruth Lemax e Virgínia Emília)