Maputo (IKWELI) – Um simpósio crucial foi realizado recentemente na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), na capital de Moçambique, Maputo, para abordar a urgente necessidade de fortalecer os programas de doutorado e as colaborações de pesquisa com o objetivo de enfrentar a crescente insegurança alimentar agravada pelas mudanças climáticas.
O evento, organizado pelo Centro Internacional de Fisiologia e Ecologia de Insetos (icipe) – Unidade Regional de Coordenação do Fundo Regional Africano de Bolsas e Inovação para Ciências Aplicadas, Engenharia e Tecnologia (Rsif) – em colaboração com o Centro Africano de Excelência em Sistemas Alimentares e Nutrição da UEM, reuniu renomados acadêmicos, pesquisadores e formuladores de políticas de toda a África.
Com o tema “Construindo Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática em Moçambique”, o simpósio reuniu acadêmicos e pesquisadores de Moçambique e das Universidades Africanas Anfitriãs do Rsif (AHUs) com programas de doutorado em segurança alimentar – Universidade de Agricultura Sokoine (Tanzânia), Universidade de Gana (Gana), Universidade Makerere (Uganda) e Universidade Haramaya (Etiópia) – para compartilhar coletivamente estratégias de mitigação e adaptação climática para melhorar a produção de alimentos, o controle de pragas e a sustentabilidade ambiental. Desde 2018, o Rsif matriculou 282 estudantes de doutorado em 15 AHUs, com 33,69% cursando doutorados em segurança alimentar e mudanças climáticas.
Com um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) soando o alarme de que mais de 282 milhões de pessoas em toda a África estão enfrentando insegurança alimentar, agravada pelas mudanças climáticas e pela pandemia de COVID-19, iniciativas como o Rsif desempenham um papel importante na construção de sistemas alimentares resilientes e no preenchimento da lacuna de habilidades na agricultura e nas ciências climáticas na África.
Principais Perspectivas e Direções Futuras
A Dra. Rachida Mamade, Diretora do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, destacou que o Governo de Moçambique, por meio do projeto MozSkills, comprometeu recursos substanciais para o treinamento de doutorado e a inovação na agricultura, visando desenvolver uma força de trabalho qualificada capaz de impulsionar a transformação agrícola.
A Dra. Mamade observou: “O apoio do Rsif e do MozSkills é fundamental para criar soluções sustentáveis para o futuro de Moçambique.”
O simpósio destacou os recentes programas de doutorado da UEM, com foco no manejo de pragas, contaminação microbiana em culturas e melhorias nutricionais na soja e no milho – todos importantes para fortalecer a resiliência agrícola de Moçambique, o que, por sua vez, aumentaria a segurança alimentar para a população.
Por sua vez, a Dra. Ana Menezes, do Banco Mundial, elogiou os esforços do Rsif e do projeto MozSkills na promoção do treinamento de doutorado e da capacidade de pesquisa em Moçambique.
“A colaboração entre as Universidades Anfitriãs Africanas do Rsif e instituições moçambicanas como a Universidade Eduardo Mondlane é crucial para enfrentar os desafios urgentes da segurança alimentar e da resiliência climática. Trabalhando juntos, podemos construir ecossistemas de pesquisa mais fortes que não só beneficiam Moçambique, mas também contribuem para o desenvolvimento sustentável em toda a África”, disse a Dra. Menezes.
O Dr. Julius Ecuru, Gerente das Unidades de Coordenação de Pesquisa e Inovação do icipe, destacou o papel crucial dessas parcerias em equipar os alunos com as habilidades necessárias para se tornarem cientistas independentes que contribuam para o desenvolvimento de seus países. “Com acesso a instalações de ponta e culturas acadêmicas diversas, nossos alunos são competitivos globalmente e podem fazer contribuições significativas ao retornar para casa”, afirmou o Dr. Ecuru.
Os participantes do simpósio também apontaram desafios críticos no treinamento de doutorado, incluindo atrasos na conclusão do curso devido a relacionamentos fracos entre orientadores e alunos, mentoria insuficiente, baixa empregabilidade dos graduados em doutorado e poucos programas de pós-doutorado.
Para enfrentar esses desafios, os participantes do simpósio propuseram várias recomendações, como o estabelecimento de oficinas de capacitação, o acompanhamento contínuo de marcos para fins de responsabilidade e seminários para orientadores a fim de melhorar o cronograma de conclusão do doutorado.
Além de uma proposta para fortalecer os centros de incubação universitários para ajudar os alunos de doutorado a comercializar suas pesquisas, os empregadores também foram instados a reconhecer o conjunto diversificado de habilidades que os graduados em doutorado possuem. Além disso, os participantes destacaram a necessidade de recursos dedicados para estabelecer programas de pós-doutorado e de mentoria e enfatizaram a importância de melhorar a mobilidade de alunos e professores por meio de colaborações internacionais de pesquisa.
O simpósio discutiu e concordou em trabalhar juntos para enfrentar os desafios na promoção da colaboração em pesquisa, particularmente em relação à infraestrutura de pesquisa deficiente e à fraca ligação entre a pesquisa e as necessidades da indústria. As universidades foram incentivadas a alocar mais fundos para melhorar as instalações de pesquisa e aproveitar subsídios de desenvolvimento para adquirir equipamentos essenciais. Foi recomendado que os programas de doutorado busquem resolver problemas reais da indústria, com currículos atualizados para se alinharem às demandas do setor. O fortalecimento das parcerias com a indústria e institutos de ensino técnico e vocacional (TVETs) também foi enfatizado para aprimorar a mentoria e fornecer aos alunos de doutorado acesso a recursos e equipamentos especializados.
Olhando para o Futuro
O simpósio estabeleceu uma base sólida para a continuação da colaboração entre as AHUs do Rsif e a UEM, com o objetivo de transformar essa parceria em uma rede formidável de universidades africanas com programas de doutorado globalmente reconhecidos em sistemas alimentares e agrícolas e ação climática.
O evento forneceu um roteiro claro para o fortalecimento da formação doutoral e a promoção da cooperação regional para construir sistemas alimentares resilientes diante da crescente adversidade climática. (Redação)
