Líder salafistas diz que os crentes abandonaram mesquita de Nahene 1 para evitar problemas

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Nampula (IKWELI) – Muhamad Zuneid Aly, líder do grupo islâmico os Salafistas, disse que os crentes daquela congregação decidiram por abandonar a mesquita de Nahene 1, nos arredores da cidade de Nampula, na sequência das acusações que considera infundadas, segundo as quais a ideologia do grupo está relacionada com as dos terroristas que atacam alguns pontos da província de Cabo Delgado.

Através de um vídeo, até disponível na sua página de Youtube, explicou que os salafistas estão legalmente activos no país e, em particular, na província de Nampula desde o ano 2010, afastando todas possibilidades de as suas ideologias estarem relacionadas ao extremismo. 

Devido a tais acusações, o grupo foi obrigado, em 2021, a enviar uma carta ao Presidente da República e ao partido no poder, para deixar claro que as suas intenções, como grupo religioso, não tem intenção radical e extremista.

“Deixamos claro isso a partir de uma carta que enviamos ao Presidente da República no ano 2021, assim como ao partido Frelimo, demostrando aquilo que é a nossa característica, depois de termos sido acusados na nossa cidade de Nampula”, começou por contar, referindo ainda que “as acusações não são recentes, datam desde 2010, antes do surgimento do grupo alshababs e isso é do conhecimento das associações religiosas como CISLAMO [Conselho Islâmico de Moçambique], AGIDE, MUNA, que simplesmente usam o surgimento desse grupo por causa do ódio que sentiram por nós”, clarificou, adicionando que tudo isso foi apresentado às autoridades nas cartas enviadas, incluindo ao comandante provincial da PRM [Polícia da República de Moçambique] e ao director do SERNIC [Serviço Nacional de Investigação Criminal].

Contudo, aquele líder religioso lamentou o facto de alguns dos integrantes terem sido mortos, por indivíduos ainda desconhecidos, além de outros que estiveram presos pelas autoridades. “Alguns irmãos nossos foram mortos, não sabemos por quem, alguns foram presos, chicoteados e graças a Deus, quase todos que tinham sido presos foram libertos”.

O representante dos salafistas, Muhamad Zuneid Aly lamenta que a perseguição, também, esteja a acontecer nos distritos de Nacala, Liúpo, Eráti, Nacarôa, Muecate e cidade de Maputo e apontou que o cerne das confusões que resultam em acusações infundadas está relacionada com as contradições no seio de vários grupos e associações de muçulmanos, enquanto tenta fazer entender que não são todos crentes que se subordinam ao Conselho Islâmico de Moçambique.

“Porque achávamos que batendo porta de diálogo teríamos resultados positivos, e na esperança de termos resultados positivos, enviamos cartas para todas as instituições religiosas, incluindo o próprio CISLAMO, infelizmente na carta não tivemos resultados positivos, para resolvermos os nossos conflitos religiosos. Constatamos que essas associações têm feito um conjunto de acusações dizendo que temos falado mal do governo, proibimos crianças de frequentar madraças seculares, dizem que proibimos os muçulmanos de trabalhar nas instituições do Estado, isso é uma mentira, porque nós trabalhamos nas instituições do Estado, dentre nós há professores, médicos e outras profissões. Há quem já se formou nas universidades públicas e privadas, há quem ainda está a se formar”, fincou, considerando ainda que “esta é uma acusação vazia e sem nexo”.

“A partir de 2010 que passamos a criticar alguns erros dos líderes islâmicos, especialmente o sheik Aminudin, o CISLAMO levantou guerra contra nós. Em Moçambique o sheik Aminudin é simplesmente um cidadão como qualquer um, se o Presidente da República é alvo de críticas, embora não concordamos com essas críticas, é chamado de extremista ou insurgente? Há pessoas que criticam o Presidente da República, há quem até insulta, mas em nenhum momento vimos a mídia ou os tais religiosos, a sociedade no geral, dizendo que essas pessoas são extremistas, mas quando nós criticamos um líder religioso como o sheik Aminudin por um erro que ele tem cometido na religião, somos atribuídos o extremismo, somos ditos que somos malcriados, portanto, se o sheik Aminudin e outro sheik não quer ser corrigido é importante que não cometa erro, que não erre”, seguiu, explicando e enfatizando que o vestuário também não significa terrorismo.

O líder do grupo anunciou que, brevemente, a cidade de Nampula irá acolher um seminário para discutir assuntos sobre a vida dos salafistas a nível no país. Um evento que será aberto para todos que queiram entender as dimensões do salafismo que se resumem em seguir as recomendações do profeta do islão Muhammad através do alcorão.

Afinal como é que tudo começou? 

Tudo começou quando moradores de Nahene 1, posto administrativo de Namicopo, nos arredores da cidade de Nampula, criticaram uma mesquita local que é acusada de promover radicalismo para os crentes. Há quase quatro anos que os frequentadores daquele espaço de culto, na sua maioria jovens, aprendem além de rezar, práticas que, alegadamente, assemelham-se com as que contribuíram para a propagação de ataques terroristas na vizinha província de Cabo Delgado.

Armando Sumail, de 30 anos de idade, pai de 3 filhos, é natural do distrito de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado e reside actualmente naquela zona. Sumail alega que os padrões dos responsáveis e as lições da madraça dadas naquela mesquita parecem-se com os mesmos que eram propagados na sua terra natal pelos terroristas que hoje atacam comunidades locais um pouco por toda província de Cabo Delgado.

“Quando nós viemos aqui neste bairro, encontramos a mesquita a funcionar, as pessoas daqui disseram que foi contruída por um casal indiano, mas deixou na responsabilidade de algumas pessoas que já residiam aqui há bastante tempo, de repente os responsáveis só aceitavam entrar para rezar pessoas provenientes de Cabo Delgado, e não só, também as vestes não são da mesma forma que os muçulmanos são orientados, mas sim como os alshababs de lá  vestem, e estes se apresentam dessa forma que não dá para saber se essa é uma mulher ou homem, porque cobrem o rosto, as mãos e todo o corpo e nós achamos melhor abandonar porque já ficávamos com muito medo”.

Elina Rúben, igualmente vinda do distrito de Mocímboa da Praia, é crente da religião islâmica e afirma que tem estado a ouvir que há práticas supostamente contrárias ao islão tradicional. “Eu acompanhei que a população Muâni, que saiu dessa mesquita para outra mesquita, achou melhor rezar em casa por medo, porque os responsáveis são alshababs, visto que em casa também fizeram a mesma estratégia, usam vestes que a própria religião islâmica não aceita, eles vêm de calções com rostos todos cobertos, homem, mulheres e crianças”.

Elina acrescentou que os líderes e respectivos frequentadores também abandonaram a mesquita. “Agora só os familiares desses responsáveis é que rezam sozinhos e os donos acabaram fugindo quando notaram que foram descobertos, visto que esse assunto não é de agora”.

Ruquia Dade, de 40 anos de idade, outra proveniente da vila de Mocímboa da Praia e vítima de terrorismo, explicou que rezava na mesma mesquita, mas abandonou porque não concorda com algumas práticas. “Eu rezava na mesma mesquita que está em confusão, mas acabei saindo por causa das coisas que as pessoas comentavam sobre a mesquita, parecem as pessoas que mataram a nossa família lá em casa”.

Ruquia explicou que para resolver a situação, os populares apresentaram o caso ao comandante da 5ª Esquadra. “Já tivemos uma reunião com o comandante da 5ª Esquadra, lhe foi apresentado o problema da mesquita, disse que já ouviu as preocupações da população e ficamos assim”.

Já o Secretário do círculo 16 de Junho, Amade Pires, confirma que recebeu queixas da população sobre a mesquita em causa e como medida recorreu às outras autoridades no sentido de afastar qualquer suposto perigo aos moradores. “É verdade que a mesquita tinha problema, tive conhecimento do problema, mas agora acho eu que já está resolvido, porque as pessoas que estavam a confusionar a população já saíram do local há duas semanas. Levamos o caso para a 5ª Esquadra e estes, por sua vez, foram a mesquita, confrontaram, intervieram e agora as pessoas já vão rezar”.

Entretanto, o delegado do Conselho Islâmico de Moçambique em Nampula, sheik Abdul Magid, diz não ter recebido denúncias dos crentes da mesquita e que só soube do assunto, através dos medias sociais. “Não tenho nenhum conhecimento exacto relacionado a essa mesquita, visto que a mesquita também não pertence ao Conselho Islâmico de Moçambique na delegação de Nampula, então não tenho matéria sobre isso, mas acompanho nas mídias e não só, também nas redes sociais, mas ainda não recebi denúncias a cerca disso até agora”.

Abdul Magid fez saber ao Ikweli que como forma de apurar a verdade sobre o caso, está a ser levado a cabo um trabalho de investigação em coordenação com a comunidade, “mas nós estamos a trabalhar ao nível da comunidade, assim há uma equipa do conselho islâmico que está a trabalhar na comunidade para ter uma informação sobre o assunto. Assim que encontrarmos uma matéria relacionada a isso, poderemos dar alguma resposta”.

O que a PRM está a fazer neste momento?  

Dércio Samuel, chefe do departamento de Relações Públicas no comando provincial

A Polícia de República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, diz ter conhecimento do caso e garante que neste momento um grupo de agentes e membros da corporação está, em coordenação com outros agentes das Forças de Defesa e Segurança e o Conselho Islâmico de Moçambique, a trabalhar com vista a aferir o pronunciamento de cada crente sobre as acções da mesquita.

“A Polícia da República de Moçambique tomou conhecimento deste caso e estamos a fazer uma diligência em coordenação com outras instituições, falo das Forças de Defesa e Segurança, assim como o Conselho islâmico de Moçambique da delegação de Nampula, para se aferir o envolvimento de cada crente a cerca desta mesquita. Acreditamos nós que nos próximos tempos poderemos dar detalhes, visto que neste momento há um trabalho que o comandante a nível 5ª Esquadra já reuniu com os moradores, no sentido de escutar as informações que circulam sobre o assunto”, fincou Dércio Samuel, chefe do departamento de Relações Públicas no comando provincial da PRM em Nampula. (Amade Abubacar e Virgínia Emília)

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