Por falta de sangue no HCN: Mais de 50 mulheres perderam a vida por complicações no parto

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Nampula (IKWELI) – Mais de 50 mulheres perderam a vida por complicações durante o parto por questões relacionadas a hemorragia no Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária da região Norte do país, durante o ano em curso.

A informação foi partilhada na última quinta-feira (29) de agosto pelo médico Gineco-obstetra e presidente do comité hospitalar do HCN, Diniz Viegas, aquando das comemorações do dia Nacional do Dador de Sangue, celebrado sob o lema “20 anos a celebrar a dádiva: obrigado dador de sangue”.

De acordo com o especialista, a maior causa de mortalidade materna está relacionada ao sangramento e complicações durante o parto, sendo que o grosso número é proveniente das unidades sanitárias dos distritos da província de Nampula.

Para esta fonte, trata-se de um cenário preocupante, visto que quase 70% dessas mortes são por sangramentos e resultam por falta de transfusão de sangue.

“Nós constatamos, com tristeza, que maior parte dos distritos referem complicações de sangramentos em mulheres grávidas, por falta de unidades de sangue, já tivemos situações de distritos que até pedem sangue ao hospital central, mas o sangue deve ser tirado do corpo de alguém e lá tem pessoas”, disse.

Uma das maiores recomendações deixadas pelo sector é que todos os distritos tenham um stock mínimo de sangue para salvar a vida das pessoas que necessitam, sobretudo as mulheres grávidas. Para o efeito, todas as populações residentes nesses pontos são chamadas a doar sangue.

“Se nós conseguirmos ter em cada distrito um stock mínimo de 10 unidades de sangue guardado nas maternidades, 10 unidades são 10 pessoas só, que vão tirar 500 mililitros e guardarem lá, assim estarão preparados para atender qualquer situação. As complicações são muitas e maior parte dos nossos distritos não tem hospitais e eles recorrem o maior que é o HCN”, precisou o médico.

Por isso, Diniz Viegas chamou atenção aos dadores presentes no local da cerimónia a mobilizarem cada vez mais as comunidades no sentido de alargar o número de pessoas que doam sangue na província.

“É preciso desmistificar que doar sangue é algo perigoso. Se nós conseguirmos, em cada distrito, mobilizar os governos, sobretudo as lideranças a sensibilizar jovens para doarem sangue e guardar lá no centro de saúde por formas que, quando há uma complicação, mesmo que seja para cirurgia essa mulher seja transferida com o sangue a ser transfundido”, anotou.

Na ocasião, Diniz fez saber que o HCN recebeu, recentemente, uma viatura destinada ao banco de sangue que vai ajudar na mobilização de dadores ao nível dos distritos da província.

“Para poderem doar sangue para os seus distritos e não para o hospital central e nós já fizemos isso em Murrupula, por isso que o distrito já começou a transferir pacientes com sangue. Fizemos isso em Mecubúri, Rapale e Mogovolas. Por conta disso, já começamos a assistir uma ligeira redução de casos de mortes e complicações por hemorragia nestas últimas três semanas que estamos a desenvolver esta actividade e queríamos que os outros distritos assumissem esse papel”, referiu o nosso interlocutor.

A fonte fez saber, ainda, que decorrem negociações para que a maternidade do HCN tenha o seu próprio banco de sangue, visto que é o local que mais necessita do líquido, seguido da pediatria.

“Uma das coisas que nós definimos é que dentro da maternidade vamos ter um centro de sensibilização e testagem para conhecer o grupo de sangue de cada doente e, por via disso, esse é um caminho para colocar um pequeno banco de sangue na própria maternidade porque é o local que mais se consome o líquido”, avançou.

Por outro lado, o representante do presidente da autarquia de Nampula que, igualmente é vereador da Saúde, Mulher e Acção Social, e profissional de saúde, Balto Duarte, mostrou sua insatisfação pelo facto de os munícipes da cidade não se terem feito ao local da cerimónia, estando apenas presentes os dadores de sangue.

“Grande parte das mortes em mulheres grávidas é por hemorragia e são evitáveis. Eu fiquei muito triste porque nesta sala estão apenas os dadores e as associações, gostaríamos que encontrássemos aqui a população, os munícipes de forma massiva para também encorajar as pessoas a doarem sangue. Essa mensagem vai para os munícipes de Nampula para que uma vez mais possam se consciencializar sobre a necessidade de doar sangue de forma voluntária”, comentou o vereador.

Duarte reforçou o apelo sobre a necessidade de maior envolvimento nas campanhas de doação de sangue, lembrando que “quantas mortes poderiam ser evitadas se tivéssemos sangue nas nossas maternidades? Nós queríamos uma vez mais, como conselho municipal e profissionais de saúde, lembrar que esta data não seja uma data comemorativa como se tem pensado, que seja um dia de reflexão, fé, criação de demanda e grupos de dadores de sangue engajados pela causa”.

Vale lembrar que a província de Nampula é a mais populosa do país, por ser o ponto com uma taxa de natalidade cada vez mais crescente. Dados partilhados pelo médico gineco-obstetra indicam que, mensalmente, o HCN tem feito em média quase 900 partos, sendo que diariamente cerca de 50 e a metade chegam a ter complicações que culminam em morte. (Ângela da Fonseca)

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