Nampula (IKWELI) – Os órgãos de comunicação social são chamados a abraçar o método de jornalismo de dados na produção de notícias, por forma a elaborar peças de conteúdos focadas em correlações informacionais que tragam conclusões precisas e relevantes sobre temas de interesse público.
O apelo foi lançado pelo facilitador, Rogério Marques Júnior, no âmbito de uma formação de total de 20 jornalistas nacionais que estão a beneficiar de um curso online levado a cabo pelo Misa-Moçambique sobre o Jornalismo de dados e cobertura eleitoral.
Em entrevista ao Ikweli, Rogério Marques fez saber que as técnicas usadas são meramente retardadas olhando sob ponto de vista de infra-estruturas tecnológicas nas redacções que não são capazes de responder as exigências do jornalismo de dados.
“Se formos a ver os computadores usados nas redacções não são muito adequados para a prática desse tipo de jornalismo e, se os jornalistas ou os órgãos de comunicação querem cativar o leitor é importante que encontrem formas interactivas de manter o seu público e se os websites desses órgãos de comunicação não evoluírem de tal forma que evidenciem uma informação interactiva poderão ficar no estático. Há essa necessidade dos órgãos de comunicação puderem readaptar-se a esta modalidade”.
Por outro lado, para Marques, o maior desafio está igualmente nos currículos de formação ao nível das universidades que leccionam o curso de jornalismo que muitas vezes, não permitem com que os homens da comunicação tenham um perfil capaz de interpretar dados.
“O jornalista tem que saber de facto a área da estatística de forma muito profunda, conhecer as plataformas de programação interactiva, ele tem que embarcar neste campo de actualidade apesar de não ter tido na formação para realizar as espectativas do consumidor final que é o leitor”.
Um dos desafios que os jornalistas nacionais têm enfrentado tem a ver com a indisponibilidade de dados a nível das instituições publicas, o que de alguma forma pode retardar o trabalho dos escribas, para esse ponto, Rogério Marques disse, “essas informações devem ser divulgadas ao nível dos seus sites de tal forma que o jornalista no final do dia possa ter acesso, a fim de narrar a sua própria história”.
Por isso, a fonte espera que após a formação, os jornalistas sejam capazes de usar o jornalismo de dados durante o exercício das suas actividades, sobre tudo no processo eleitoral que se avizinham.
“Depois dessa formação os jornalistas terão as ferramentas para analisar, interpretar e divulgar dados. No contexto eleitoral é só uma questão do próprio jornalista tentar fazer um casamento do que aprendeu e como pode usar esse conhecimento. A participação do jornalista utilizando técnicas de jornalismo de dados para efectiva divulgação de resultados eleitorais é muito interessante porque pode contribuir para uma transmissão fácil dos dados”.
Por sua vez, o director executivo do MISA Moçambique, Ernesto Nhanale, explicou durante a abertura da formação nesta segunda-feira (22), que a iniciativa visa promover a participação jornalística nas eleições, em prol da transparência do processo, pois, treinar profissionais de comunicação sobre jornalismo de dados e eleições é uma forma de garantir a produção de informações de qualidade, baseada em factos, o que é essencial para o exercício da cidadania no contexto eleitoral.
“Mais do fazer a cobertura das eleições, o jornalista deve ser capaz de garantir que as informações difundidas durante todo o processo eleitoral sejam credíveis de modo a mobilizar e sensibilizar os eleitores para uma participação activa e consciente nas eleições, sendo por isso o MISA tem levado a cabo iniciativas como esta”.
Já, os participantes da formação mostraram o seu entusiasmo em adquirir mais conhecimentos ligados a jornalismo de dados durante o processo eleitoral e não só.
Tal como explicou Naercia Langa, jornalista do Diário de Moçambique na delegação de Maputo, que revelou conhecer o jornalismo de dados, mas que, no entanto, nunca teve o privilégio de usar tal técnica mesmo por falta de bases para seguir com o mesmo.
Contudo, Naercia quer que haja mais abertura por parte das instituições públicas no que tange a disponibilização de dados, ” por mais que eu queira usar essa técnica a falta de dados deixam-nos com mãos atadas, temos ainda o desafio de abertura por parte das instituições porque eles ainda sugerem que façamos uma carta para disponibilizarem a informação que precisamos, na verdade se nós tivéssemos disponíveis os dados nos sites das instituições seriam muito viáveis”.
Embora a formação seja bem-vinda, considera-se ainda a necessidade de igualmente envolver as instituições públicas e privadas em formações de género para que estes olhem para os jornalistas como aliados e não inimigos.
Jossias Sixpense, jornalista do Jornal Evidências na cidade da Beira é de opinião que, o MISA assim como outras organizações prestigiem representantes de algumas instituições para que sejam mais abertos.
“O jornalismo de dados será muito dependente as informações das instituições por isso, a instituição que promove essa formação devia criar um espaço para capacitar os directores e alguns chefes que são responsáveis pela disponibilização de informações para fazê-los entender que dar informação é uma questão de lei. Sugeria que estas formações fossem extensivas”.
Para Sixpense, o comportamento dos dirigentes de instituições públicas acaba influenciado de forma negativa a abertura partilha de dados por parte de instituições privadas.
Quem igualmente comunga do mesmo pensamento é o jornalista da Televisão Sucesso delegação de Nampula, afecto em Nacala, Filismar Essiaca que acredita na falta de percepção de certos dirigentes, pois mesmo com a formação dos jornalistas, continuará a ser um desafio ter acesso a dados específicos para seguir com a actividade.
“É necessário que se estenda para os dirigentes das instituições de modo a fazer com que eles percebam que a função de uma informação e a função do jornalista, saber separar esses dois aspectos para que o trabalho possa seguir em frente”.
Importa referir que a formação que tem como duração de cinco dias prevê debater temas referentes a questões críticas na cobertura de eleições e como usar o jornalismo de dados no escrutínio de Outubro próximo. (Ângela da Fonseca)