Nampula (IKWELI) – O Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária da região norte de Moçambique, registou durante o primeiro semestre do ano em curso, um cumulativo de 120 pessoas que tentaram suicidar-se com recurso a medicamentos, bem como organofosforado (ratex).
O número representa uma subida na ordem de 12% em relação a igual período do ano passado, constituindo, assim, um grave problema da saúde pública a nível da província e do país, em geral, pois, apesar de não terem sido avançados os dados sobre óbitos, parte dos indivíduos perdeu a vida.
Dos casos registados, pelo menos naquela unidade sanitária, envolvem indivíduos com idade compreendida entre 15 e os 40 anos, maioritariamente mulheres, o que leva os profissionais de saúde, ali afectos, a associar pelo facto de nesse intervalo de vida as pessoas depararem-se com vários desafios, principalmente o desemprego, mau relacionamento amoroso, entre outros factores associados.
“Nós consideramos como um problema grave da saúde pública. O suicídio ou tentativa de suicídio tem sido uma das áreas da nossa intervenção. Das cerca de 1457 consultas do ano de 2023, no período do primeiro semestre, registamos cerca de 108 casos de tentativa de suicídio. Esses dados são referentes a indivíduos do sexo masculino e feminino. Tivemos a entrada aos nossos serviços de urgência 27 casos de tentativa de suicídio, desses demos seguimento nas nossas consultas externas 20 casos, isso referente apenas aos indivíduos do sexo masculino. No sexo feminino tivemos cerca de 37 novos casos e 27 casos de seguimento, totalizando 108 casos de tentativa de suicídio”, avançou Airone João Manuel Malaze, psicólogo clínico em serviço no HCN.
Em conformidade com Malaze, durante o primeiro semestre do ano em curso, o Hospital Central de Nampula teve um registo cumulativo de cerca de 1970 consultas, nos serviços de urgência, registando o incremento de cerca de 14 casos em relação ao mesmo período do ano passado.
“Significa que nas consultas de indivíduos masculinos tivemos cerca de 25 casos, como primeiras consultas e 15 seguintes. Do sexo feminino tivemos cerca de 54 casos novos e 30 casos seguintes, totalizando 120 casos de suicídio, o que significa que houve um crescimento negativo porque não é algo que a gente espera, porque tentativa de suicídio tem de ser sempre uma preocupação para todo profissional de saúde. Então, é um incremento negativo para nós”, prosseguiu o doutor Malaze.
“Para dizer que a cada dia que passa os casos de tentativas de suicídio, em vez de diminuírem, estão a aumentar”, informou, lamentando o cenário.
“ Dos métodos que nós registamos ao nível dos nossos serviços de urgência, destacamos o uso de organofosforado, (ratex), é um dos produtos que os indivíduos recorrem para a tentativa de suicídio. Segue-se o uso de comprimidos que são medicamentos que nós dispensamos nas nossas unidades sanitárias e que alguns pacientes acabam obtendo-os nas farmácias privadas, sem prescrição médica, o que em certa medida acaba sendo grande preocupação para nós entidade de saúde. Então, o uso de organofosforado e medicamentos são os dois métodos que se evidenciam nos casos de tentativa que se registaram no HCN”, referiu a fonte.
Segundo acrescentou o nosso entrevistado, grosso número de indivíduos que optam pelo suicídio por medicamento, chegam a toma cerca de 30 a 40 comprimidos, com objectivo de tirar a própria vida.
Tal como referenciado anteriormente, são várias causas apontadas que possam estar por detrás das tentativas de suicídio das pessoas, na província de Nampula, especificamente.
“Existe um aspecto muito importante a termos em conta, em relação a esses casos de tentativa de suicídio. Quando olhamos para as faixas etárias deparamo-nos com indivíduos de 15 anos aos 40 anos, o que significa que são fases críticas da vida. Nós estamos a falar dos 15 anos porque é uma fase em que o indivíduo começa a agregar aquilo que é a sua própria personalidade, começa a ver o mundo de uma forma diferente, a tentativa de o indivíduo afirmar-se na sociedade, a procura do emprego, a procura do primeiro relacionamento isso faz, que, muitas das vezes, as pessoas procurem o suicídio quando essa tentativa de se relacionar, por exemplo, corre muito mal, então essa é a opção como uma das saídas para os problemas”, entende Malaze.
“Naquilo que são os relatos”, continuou a fonte, “90% dos casos que entram nos serviços de urgência, nós constatamos que ele padece de um transtorno mental, dos quais destacamos a depressão, os quadros da ansiedade, inclusive alguns por consumo de substâncias psicoativas. Este é um dado muito importante a ter em conta, de que a maior parte daquelas pessoas, principalmente indivíduos do sexo masculino optam pelo suicídio, procuraram alguma vez afogar aqueles que são problemas através do álcool. Então, diante do álcool, o suicídio acaba sendo próximo daquilo que é afogar os seus problemas”.
Para inverter este cenário, Airone João Manuel Malaze apela o maior comprometimento multissectorial, incluindo os próximos dos indivíduos, caso apresentem sinais que conduzam a tentativa de suicídio.
“ o suicídio é um problema multifacetado, não só ligado a área de saúde, é um problema que ao nível teológico deve-se fazer alguma coisa, ao nível sociológico deve-se fazer alguma coisa, a nível filosófico deve-se fazer alguma coisa, por parte nossa, naquilo que são estratégica de mitigação, para reduzir casos de tentativa de suicídio, seriam as actividades radiofónicas que nós deveríamos desenvolver de tempo em tempo, assim como estamos agora com o Ikweli”, entende a fonte.
“O suicídio é um problema sério da saúde pública, por isso há uma necessidade de percebermos que qualquer mudança de comportamento do nosso familiar, do nosso irmão, qualquer pessoa que esteja no meio de nós e que convive connosco todos os dias, as mudanças de comportamento podem predizer alguma coisa que de certa forma precisamos aproximar e procurarmos os serviços de saúde para ver se entendemos aquilo que faz com que haja esse tipo de mudança de comportamento”, reiterou Malaze. (Constantino Henriques)