Nampula (IKWELI) – O escritor moçambicano Lino Mukurruza apresentou o seu mais recente livro de poemas, intitulado “o pouso do casco” nesta segunda-feira (27), na cidade de Nampula.
A volta da fogueira, numa conversa interactiva e activa entre o autor e os participantes, de entre os quais jovens, mulheres, académicos e críticos, perguntas e respostas foram dadas acerca da obra e curiosidades sobre o autor no seu processo criativo.
Durante o interlúdio, Lino, dono de uma escrita peculiar e característica, para um hermético (incompreensível) e enigmático e para outros, bastante simbólico, entende que um poema não é feito para ser informativo, mas sugestivo, conservando assim a sua pluralidade que lhe é característico. “Eu acho que a definição do próprio poema já defende esta teoria que o poema deve ser plural, e na tentativa deste poema ser plural, eu não vejo este poema a dar-te uma informação pré-concebida, mas sim uma informação que deve ser criada, pelo próprio leitor, por isso que o poema, ele deve sugerir e não informar como tal”.
Sobre a compreensão da sua obra pelo público leitor, disse que “realmente o poema tem esta particularidade de criar múltiplas visões em tempos separados, ele é uma mutação infinita. Algumas pessoas dizem ser um escritor complicado”.
Por sua vez, Geraldo Macalane, Director da Faculdade de Letras da Universidade Rovuma, mentor do autor, considera que “na verdade, nada há de mais complexo que procurar interpretar um poema ou um livro de poemas, eu tenho dito que leituras diferenciadas que os leitores fazem de um poema, são as que dão corpo ao poema ou ao livro, porque na verdade não haveria uma graça se a primeira leitura a pessoa extraísse de lá oque é que quis dizer”, numa clara apologia à riqueza da diversidade, e chegando até a afirmar que mesmo para o autor não é tarefa fácil debruçar-se sobre a sua própria obra, pois, “tem mais graça quando há essa diferença de interpretação dos leitores. É difícil, mesmo para ele próprio dizer que, olha, eu neste livro quis transmitir isto e aquilo, numa única linha, não é possível, são as pessoas que vão dando corpo, que vão dando vida aos versos que lá estão”.
Um pensamento partilhado pelos participantes. Witney Macuacua, uma das participantes, afirmou ter sido o primeiro contacto com o autor, contudo reconheceu o diferencial das apresentações feitas e do pouco que acompanhou dos trabalhos de Mukurruza. “Foi o primeiro contacto com o autor, confesso que fiquei muito feliz por conhece-lo e já ouvi um pouco sobre a sua obra hoje, não só essa que foi lançada, assim como as outras. Eu acho que nós estamos habituados a tudo aquilo que é comum, o Lino é na verdade, um escritor que faz a quebra cabeça, acho que para entender a obra do Lino, precisa de muita intelectualidade e não é para muitos, mas acredito que é bom, porque isso de certa forma desperta nossas mentes”, disse. (José Luís Simão)
