Cerca de cem mil raparigas engravidaram precocemente em 2023 em Nampula

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Nampula (IKWELI) – O sector de saúde em Nampula mostra-se preocupado com o aumento de casos de adolescentes que engravidam precocemente, colocando em causa o seu desenvolvimento normal e do bebé.

Só para ter uma ideia, durante o ano passado houve o registo de 480.254 mulheres grávidas, desse número 101.956 foram raparigas dos 10 a 19 anos de idade, o que representa uma fasquia de 21%.

Em declarações a jornalistas, a médica-chefe provincial, Selma Xavier, expressou a sua preocupação, justificando que 21% é considerado elevado, tendo em conta que muitas vezes são raparigas que abandonam os estudos para se tornarem mães precocemente.

“Sem contar que são raparigas que podem ter alguma complicação devido a gravidez. Para este primeiro trimestre ainda são 12% e já é preocupante, porque estamos a dizer que perdemos muitas raparigas no sector de educação por causa da gravidez, porque muitas delas, por vergonha, abandonam suas escolas”, disse a dra. Selma Xavier.

Selma Xavier falava a imprensa a margem do workshop alusivo ao dia Internacional da luta pela Saúde da Mulher celebrado na passada terça-feira (28), sob o lema “Pela Equidade ao Acesso a Informação e aos Serviços de Qualidade”.

Na ocasião, a médica genico-obstetra, Filipa Lisboa, fez saber que as províncias da região norte de Moçambique ostentam níveis mais elevados de gravidez na adolescência, sendo Cabo Delgado com 55%, Niassa 52% e Nampula com 44%, enquanto Maputo cidade apresenta taxas mais baixas com 12% e 18%, respectivamente.

Segundo a médica, na província de Nampula os distritos considerados críticos são Mogovolas, Murrupula, Mogincual e Mecubúri.

Trata-se de um cenário que, nalgumas vezes durante a gravidez, parto e pós-parto, podem contrair fístulas obstétricas, complicações derivadas do aborto, infeções de transmissão sexual, incluindo HIV, que podem incorrer sobre elas, maiores riscos para a saúde que podem levar a morte dessas raparigas.

“As fístulas obstétricas constituem uma das complicações mais incapacitantes e dolorosas da gravidez e do parto, por isso, para melhorar a vida da adolescente importa investir estrategicamente na educação das raparigas, investir no acesso dos jovens à educação sexual compreensiva e apropriada para a idade e o maior envolvimento dos rapazes”.

Já o chefe da repartição de Promoção de Saúde, Prevenção e Controle de doenças na Direcção Provincial da Saúde (DPS), Nacil Biassone, é de opinião que para colmatar esse cenário urge a necessidade de maior envolvimento das comunidades, bem como dos vários sectores multissectoriais.

“É preciso que haja educação da rapariga e da própria sociedade para podermos prevenir e eliminar os casos de gravidez na adolescência no nosso país”.

Para Biassone o encontro serviu de momento para consciencializar e encontrar mecanismos de fazer chegar as mulheres das zonas recônditas informações sobre a prevenção dos problemas que as têm afectado.

 

“O que nós esperamos deste workshop é que cada mulher sirva de veículo de informação para as outras e essas também possam fazer replicas até chegar a mulher que está na comunidade mais recôndita sobre os problemas que lhes afectam e que essas são resolvíveis ao nível das nossas unidades sanitárias”.

Por outro lado, a diretora provincial do Género Criança e Acção Social, Albertina Ussene, disse que o agravamento das calamidades naturais, instabilidade na província de Cabo Delgado bem como a recente situação da Covid-19 contribuíram de maneira significativa para o retrocesso a saúde materno e neonatal.

“Apesar de várias iniciativas incluindo o alargamento da rede sanitária e o aumento dos recursos humanos, a província continua a registar números significativos de complicações obstétricas diretas e mortes maternas sendo as principais causas da hemorragia obstétrica, pré-eclâmpsia e complicações de aborto inseguro”.

Importa referir que, no evento, foram debatidos quatro temas como, gravidez na adolescência e suas implicações, lei contra violência obstétrica em Moçambique, violência baseada no género e cancro da mama e do colo uterino. (Ângela da Fonseca)

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