Nampula: Académicos dizem que a vida de hoje em África não reflecte os pressupostos da criação da UA

Nampula (IKWELI) – O despertar da consciência Negra no texto “O último discurso de Ngungunhane”, de Ungulani Baka Khossa, foi o tema de debate no âmbito das celebrações do dia da Africa, 25 de maio, em Nampula.

Organizado pelo Clube de Leitura “Olhar Literário, o evento contou com a presença de académicos, associações juvenis, estudantes e amantes das artes líricas, onde, de entre vários pontos sobre a Africa nos dias de hoje, destacaram a progressiva desunião dos povos africanos desde os tempos nacionalistas, da negritude e identidade africana, que levaram a criação Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963, posteriormente União Africana (UA) em 2000.

Francisco Gaita, historiador e docente universitário, considera que não se está a dar a devida importância a esta data, que deveria ser um espaço de reflexões profundas sobre a identidade e o pensamento africano. Razão esta que o leva a crer que “aquilo que estamos a viver hoje não parece reflectir os pressupostos que levaram a criação do dia da África que é a União Africana, dos países, para conferir a autonomia, independência e liberdade, essas coisas, parece que os países africanos estão a perder de vista o foco inicial da criação da União Africana”, disse.

‘Eu costumo dizer, este é o sangue quente da juventude… quando Samora dizia que a juventude é a seiva da nação, ele queria que fossem interventivos como estão a ser agora. Então é preciso que estas massas jovens avivam este foco e continuemos a pensar o continente africano, nos moldes como os outros pensaram”, afirmou.

Posicionamento este suportado pelo filosofo Felizardo Luciano, pois segundo suas palavras conseguiu vislumbrar nos jovens os ideais dos idealistas da União Africana, apesar de vários desafios a que esta camada juvenil está exposta, tais como a formação e autoafirmação a todos os níveis, educação socioeconómica e financeira e política. “Esse tipo de encontro de partilha de pensamentos, por um lado eles esclarecem aquelas dúvidas que nós pensamos e a seguir elas solidificam. Nesse sentido, as ideias lancadas é no sentido de que precisamos ultrapassar o momento que nos encontramos de um pouco de falta de unidade africana, que nos garante a solidificação e a construção de um dia que seja mais feliz, melhor que o dia de hoje”, disse.

E porque a formação do jovem representa um dos pilares da sua autoafirmação para uma participação activa na construção do continente, um dos grandes desafios a nível da região e de Moçambique, em particular, o Ikweli questionou em que medida a má gestão das universidades pode interferir no futuro desta camada social e por tabela de toda uma nação, num contexto em que varias instituições de ensino superior deparam-se com problemas que condicionam a lecionação, tal como recentemente foi noticiado pelo jornal a falta de corrente elétrica e agua na UniLúrio em Nampula, a recusa do retorno ao estagio de médicos estagiários da UniZambeze em Tete, alegadamente por falta de fundos para o pagamento de subsídio de estágio, e outras situações do género, um pouco por todo o pais, e respondeu que “infelizmente, nós temos situações desta natureza, mas penso que falta aqui uma questão de concertação entre as instituições, por um lado e por outro, precisamos dentro da Função Pública, se isso acontece nas universidades públicas  que tenhamos que programar orçamentos que possam viabilizar esses estágios, então precisamos fazer acções concertadas, quer a nível dos líderes de instituições do ensino superior, quer a nível dos ministérios de tutela, quer também as outras instituições públicas  parceiras”.

Contudo, “apesar desses desafios, a academia ainda tem muito por dar, bom, apesar de tanta informação que a juventude tem, que se crie uma linha de avanço, falo de um direcionamento, da seleção de valores no olhar sobre aquilo que existe, de tal forma que possamos retirar dela elementos que podem ser válidos para nosso caminhar como africanos”.

Entretanto, Bruno Areno, coordenador do Clube de Leitura Olhar Literário, entende que há necessidade de voltar a história, não em busca de uma cópia perfeita do que a África já foi, mas sim reencontrar referências e diretrizes para novas formas de ser e estar africano.

“Eu mesmo tenho dúvida se um dia os africanos já foram unidos na verdade. Como é que nós podemos tentar recuperar isso que é nosso? Talvez revisitando aquilo que fomos, não para sermos tal e qual como fomos, não digo para os jovens serem ao pé da letra o que a África um dia foi, não, mas tenho certeza que há aspectos positivos que nós podemos recuperar, não queremos uma África estagnada”, frisou.

Referir que se celebram 61 anos de Unidade Africana num contexto em que o continente enfrenta instabilidades de vária ordem, socioeconómicas, políticas e ideológicas que mais dividem do que unem os países africanos. (José Luís Simão)

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