Nampula (IKWELI) – Pais e encarregados de educação de formandos do Instituto Politécnico Boa Esperança, delegação de Nampula (IPOBEN), mostram-se revoltados e desapontados com a actual gestão daquela instituição de formação de técnicos médios na área de Saúde.
A revolta surge devido a uma alegada demora na emissão de certificados de estudantes que entraram em 2019 e não só, aquando da criação do curso de Enfermagem em Saúde Materno e Infantil (ESMI), avaliação do desempenho, graduação, contribuições clandestinas e atraso ao campo de estágio, assim como altas taxas de mensalidades consideradas injustas visto que é feito fora do período de formação previsto que é de 24 meses, correspondente a dois anos, período previsto para a conclusão do curso.
Neste caso em específico, os encarregados mostram-se agastados com a falta de comunicação sobre as taxas cobradas para o curso de ESMI, visto que os seus educandos terminaram a formação há alguns meses, mas são obrigados a pagar o mês de Maio, sendo que foram pagas as mensalidades de Fevereiro, Março e Abril ilegalmente, quando considerado a duração do curso que é de dois anos.
Por forma a solucionar os problemas que os apoquentam, decidiram expor o caso por via de uma denúncia ao Ikweli, onde através do representante dos pais e encarregados de educação, João Bandeira, exigem o cancelamento da mensalidade relativa ao mês de Maio.
“Passam três semanas sem ir ao campo de estágio porque estão à espera do director, que não se sabe o paradeiro, voltar e fazer a lista de picagem para os estudantes saírem para o campo de estágio e isso é para atrasar o processo para que o tempo de estadia na instituição demore para de novo permitir que paguem as mensalidades. Mesmo um pai que sabe que são dois anos de formação, se formos a perguntar quando é que o seu educando vai terminar a sua mensalidade não sabe. Já ultrapassamos o pagamento de mensalidades de 24 meses, estamos a pagar de novo fevereiro, março, abril e agora estão a exigir pagamento de maio, para nós é uma injustiça”, disse.
Por outro lado, os encarregados exigem uma taxa única para emissão de certificados para estabelecimentos de ensino privado, pois os mesmos entendem que as instituições têm se aproveitado da falta de uniformização dos preços para fixar preços altos. Tal exigência surge numa altura em que os estudantes estão a ser cobrados 4.500,00Mt (quatro mil e quinhentos meticais) para a emissão de certificados, ao mesmo tempo que questionam a legalidade do instituto.
“Com tantos problemas, nós nos perguntamos será que os certificados oferecem credibilidade para o acesso ao mercado do trabalho? Temos pais que perderam seus filhos sem ter certificado em mãos por causa da demora. Na componente de graduação a instituição cobra 10.000,00Mt (dez mil meticais), nós temos uma carta e pretendemos levar as instituições superiores para ajudar esses institutos, principalmente os que leccionam cursos de enfermagem para uniformizar a taxa de emissão de certificados, porque não faz sentido uns cobrarem 2.500,00Mt (dois mil e quinhentos meticais) e eles 4.500,00Mt (quatro mil e quinhentos meticais) se o papel é o mesmo, outros até cobram 1.000,00Mt (mil meticais), então 4.500,00Mt a que se deve? Penso que devem se justificar. Eles dizem que esse valor cobrirá o uniforme, mas não fazem consoante o tamanho do estudante e o mesmo é obrigado a comprar outro tecido ou mandar ajustar, temos que igualmente pagar mais 150,00Mt (cento e cinquenta meticais) para pagar toga, entre outros. Então, esses 10.000,00Mt servem para o quê?”, questiona.
A fonte revelou que os estudantes são obrigados a exibir os comprovativos de pagamento a partir do primeiro recibo de entrada na instituição, uma situação que segundo os encarregados é complicada, visto que a escola conta com um canhoto que pode ser usado como comprovativo.
“Basta a pessoa dizer que não tem recibo por diversos motivos, roubo ou perda é obrigado a pagar uma taxa para a restituição deste recibo, por essa razão nós questionamos até que ponto aquele caderno/canhoto serve para em casos de alguém perder e não só, como é que a instituição que está a usar tecnologias de informação e comunicação tenha que fazer uma picagem depois de 24 meses desde o primeiro recibo do primeiro ano”, revelou.
Um outro ponto que tira o sono dos encarregados é a sobreposição de cargo de direcção do director do instituto que exerce a função em três delegações, nomeadamente, Nampula, Nacala e Mocuba na província da Zambézia, uma situação que, segundo eles, contribui para as recorrentes ausências do mesmo na instituição, colocando em causa todos os processos que exigem a atenção do mesmo.
Por isso, Bandeira, em representação dos encarregados, exige a demissão imediata do actual director daquele estabelecimento de ensino, visto que o mesmo é apontado como sendo “arrogante, desrespeitoso”, que recorre a política, neste caso a Frelimo, para intimidar os estudantes, assim como os pais.
“Inclusive dificulta a emissão de documentos que passam pelas mãos dele. A politização é evidente em seus argumentos, demonstra falta de imparcialidade e neutralidade, o que compromete o exercício democrático e a liberdade de expressão tanto dos funcionários subordinados quanto aos usuários da instituição. Esse director responde pelos institutos de Nampula, Nacala e Mocuba e nós questionamos, será que não têm pessoas com qualidade para responder as demandas locais, por que é que ele deve ser director de três institutos ao mesmo tempo, ele está a sujar a imagem da instituição. Queremos a remoção do director, queremos que ele saia, não sei como isso vai acontecer, o certo é que ele está a estragar o estabelecimento”, alertou.
A equipa do Ikweli fez-se ao instituto para perceber de perto os contornos da denúncia, entretanto, chegados no local fomos impedidos pelo guarda de entrar no estabelecimento.
Importa lembrar que o braço de ferro entre os estudantes e a instituição remonta a 2023, sendo que um dos pontos mais críticos tem sido a demora na emissão de certificados e envio tardio ao campo de estágio.
Entretanto
A direcção do IPOBEN acusa os estudantes de estarem a falsificar talões de depósito de mensalidade, concorrendo para danos financeiros avaliados em 10 milhões de meticais no período de 2 anos.
Uma semana antes da denúncia dos pais e encarregados de educação dos formandos, Satar Alberto Mussa, responsável do Registo Académico, chamou a imprensa para informar que este fenómeno registou-se entre os anos 2022 e 2024.
“Durante a emissão dos certificados, nós fomos percebendo que havia um problema, uma lacuna dos nossos estudantes, devido a falsificação de talões de depósito do banco, esse é um aspecto que descobrimos mais tarde e na medida em que fomos descobrindo, nós chamamos uma auditória localizada na cidade de Maputo, que veio nos ajudar e durante a perícia, percebemos que a instituição estava a ser lesada mais ao menos em 10.000.000,00Mt (dez milhões de meticais), isso levou a instituição a uma nova reflexão sobre a entrega dos certificados e que culminou com uma nova estratégia em que deveria se fazer uma picagem apurada durante o processo de levantamento de certificados”, disse esta fonte, justificando que será por isso que a emissão de certificados tem demorado na instituição. (Ângela da Fonseca e Malito João)