O dilema vivido pela população devido a falta de energia eléctrica

Nampula (IKWELI) – Iuluti, posto administrativo do distrito de Mogovolas, faz parte das 14 divisões administrativas que não estão ligadas a energia eléctrica e a solução por uma energia renovável, no caso concreto de painéis solares, está longe de ser uma realidade.

A instalação de energia eléctrica ou renováveis, tem sido uma das grandes preocupações da população nos últimos 15 anos, até porque a região oferece condições para instalação de um sistema fotovoltaico para minimizar o sofrimento da população no acesso à energia limpa e de baixo custo.

Nos últimos dois anos, o governo só conseguiu electrificar apenas dois postos administrativos. Uma fonte do Conselho dos Serviços de Representação do Estado diz que é pouco provável que a electrificação seja efectiva até 2024, tal como tem sido propalado pelas entidades governamentais.

Enquanto a energia não chega á região, a população não tem alternativa. Lúcia António, de 29 anos de idade, mãe de três filhos, residente no bairro Namirro, conta que o maior dilema está nas mulheres grávidas quando vão ao parto na maternidade local.

Segundo conta, é preciso o uso de lanternas que as famílias devem trazer de casa, ao mesmo tempo que questiona a fraca capacidade do governo em flexibilizar a instalação de um sistema solar, tal como andou a prometer durante a campanha eleitoral do ano 2019.

“Nós sofremos por falta de energia, se tivéssemos energia teríamos como beber água gelada, sucos. Até mesmo no nosso hospital há casos em que é preciso energia, a maioria dos casos que se tem transferido para a vila sede, mas tudo isso por falta de energia. Todos os dias choramos nós que somos mães, chegamos a ser três a quatro mulheres ali na maternidade, que também é pequena, com problemas de energia a coisa é pior, estou admirada simplesmente, muitos casos nos dizem ir a Nametil [vila sede do distrito de Mogovolas], porque evitam essas emergências da noite devido a falta de energia”.

E porque a instalação de um sistema de energia na zona é uma necessidade de longos anos, a dona Lúcia nem acredita das próximas. “Só promete que vai pôr energia, já começou trabalho para energia solar só estou a ouvir apenas, nós queremos ajuda, isso é o que me preocupa, aqui não temos água potável, não conhecemos torneira que se diz”.

A dor da população por as autoridades não estenderem o acesso de energia da rede nacional e /ou a alternativa, vem também da senhora Maria Francisco Ámido, de 37 anos, mãe de cinco filhos e residente em Namirro B, arredores de Iuluti. Para esta cidadã, a dor não só vem das dificuldades que as mulheres passam durante a noite quando vão ao parto, mas também de não serem exploradas as outras áreas de comércio, como também na conservação dos produtos, por exemplo o pescado.

“O problema da falta de energia constitui uma grande preocupação e dor de cabeça, mesmo quando vamos no hospital, sobretudo à noite, somos obrigados a ter uma lanterna manual. Se tivéssemos pelo menos painéis a funcionar, mas nada. Consumimos peixe de má qualidade devido a falta de energia, muitas vezes nossos produtos apodrecem por falta de conservação. Com a energia podemos fazer nossos pequenos negócios, como o caso de vender gelados, refrigerantes, água gelada entre outros negócios para ajudar os nossos esposos com as despesas de casa”.

A reclamação dos residentes de Iuluti, que dista a 114 quilómetros da cidade de Nampula e 42 da vila de Nametil, chega igualmente do cidadão Maleidi Ikawanhiwe, que igualmente acusa o governo de falta de pena à população e ausência de compromisso em atender os objetivos da expansão das energias renováveis.

De acordo com Meledi, Iuluti não está na rota de desenvolvimento desejável devido a falta de energia eclétrica. “De facto, a questão da falta de luz ou energia aqui em Iutuli é um problema! O governo tem que solucionar com energia da rede eléctrica ou painéis solares. Outras zonas têm energia, também é difícil ter atendimento em caso de emergência hospitalar, estamos a pedir o governo para nos ver, de modo que Lutuli fica uma terra de renome”.

Afinal, a preocupação de Lúcia António, também residente de Iuluti, era de ver o governo a responder à falta de energia para os gelados ou congelados, incluindo água fresca deixar de ser luxo. “Nós sofremos por falta de energia, porque se tivéssemos energia teríamos como beber água gelada, sucos, até mesmo no nosso hospital há casos em que é preciso energia, a maioria dos casos têm sido transferido para a vila sede, mas tudo isso por falta de energia, é por isso que há muita necessidade de termos”.

Tal como outros, o comerciante informal Jorge Raimundo considera de falta de comprometimento do governo em expandir a energia de baixo custo para a população da zona rural. Jorge afirma que o negócio que faz (venda de electrodomésticos) não tem sucesso devido a falta de energia eléctrica. “Não tenho muito sucesso na venda, uma vez que os meus consumidores recorrem ao sistema fotovoltaico, a maneira é individual e só para iluminação para a utilização apenas a noite, o que não cobre em 100% as suas necessidades diárias”. https://redactormz.com/metade-das-familias-mocambicanas-vive-as-escuras/

 O apelo da especialista

Érika Mendes, da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental (JÁ), começa por reconhecer que “Moçambique tem um enorme potencial para energias limpas e renováveis. Precisamos de soluções energéticas que além de limpas sejam de menor escala, descentralizadas e geridas localmente, que aproveitem o potencial energético de cada local e beneficiem as populações locais”.

Erika Mendes: ‘Precisamos de soluções energéticas que, além de limpas, sejam em menor escala.’ Foto fornecida

A activista Érika Mendes alerta que o uso, em grande escala, das energias renováveis pode igualmente ser prejudicial, por isso mesmo que a sua organização defende o uso de energia solar em pequena escala não prejudicial ao ambiente, ou seja que não emite grandes proporções de metano por exemplo, tal como detalha.

“Um projeto grande de energia solar, por exemplo, precisa de muita terra, muita área para produzir essa energia, então se esse projeto é implementado num lugar que tem pessoas a viver, essas pessoas ou têm que ser beneficiadas pelo projecto ou têm que ser reassentadas, porque senão havemos de repetir os mesmos problemas da mina de carvão, dos projectos de gás, então, para nós a questão de transição energética não deve só mudar energia para um outro tipo de energia, o problema está resolvido. As mudanças têm que acontecer de uma forma mais profunda, ou seja, o que nós defendemos é que não baste ser energia solar, tem que ser energia solar que é produzida para beneficiar aquela comunidade que está ali, tem de ser um projeto de energia solar que não vai significar que as famílias não vão perder terra para produzirmos energia que depois há-de ir para indústria ou para ser exportada”. (Amade Abubacar)

Amade Abubacar é um jornalista moçambicano radicado em Cabo Delgado. Esta investigação foi concluída com o apoio do projeto Oxpeckers Investigative Environmental Journalism https://oxpeckers.org/ #PowerTracker e da Open Climate Reporting Initiative do Center for Investigative Journalism https://tcij.org/ocri/ .

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