Nampula (IKWELI) – Um aluno da escola secundária de Nampula, supostamente sob efeito de drogas, espancou um professor da disciplina de física, na manhã da última quinta-feira (18), gerando enorme agitação, facto que paralisou o processo de ensino por, pelo menos, duas horas.
A escola secundária de Nampula tem sido destacada como um dos recintos de ensino e aprendizagem naquele ponto do país, onde há consumo de droga por parte de alunos, com o envolvimento de professores na venda. É nessa circunstância que o Governo tem vindo a envidar esforços para estancar o mal, promovendo palestras para sensibilizar os autores, assim como para dissuadir o consumo através da presença de agentes da Polícia da República de Moçambique.
No passado recente, um outro professor teria sido espancado por um aluno na escola secundária 12 de Outubro, nos arredores da cidade de Nampula, e na ocasião, também, aventava-se a hipótese de que o mesmo encontrava-se sob efeito de substâncias psicotrópicas.
Os colegas do aluno que se envolveu na briga com o docente alegam que o mesmo fez-se a sala de aulas em condições não muito boas, o que abria espaço para desconfianças de que o mesmo estava sob efeito de drogas.
Alguns dos alunos entrevistados pelo Ikweli afirmam ser recorrente que parte dos seus colegas se apresentem com comportamento alterados, por causa de consumo de drogas durante as aulas.
“O conflito começou quando eram 10 horas, porque um colega estava a circular no recinto escolar perturbando os outros alunos com intenção de aprender e quando o professor tentou impedir isto começou a luta entre estes e depois de algum tempo, o aluno contactou as suas amizades estranhas para fazer parte da luta e que acabou trazendo ferimentos para este professor. Também, como alunos, nós sentimo-nos mal estudar nesta escola, porque esse tipo de problema é frequente, tanto no recinto escolar ou não, se hoje aconteceu com este professor amanhã pode ser comigo e sem dúvida muitos alunos não querem cumprir com o regulamento interno da escola e daí que a confusão é contínua”, comenta um aluno 11ª classe, Guilherme Domingos.
Frequentando a 12ª classe, a aluna Fátima Braymo não esconde a sua preocupação com o fenómeno, a qual diz que quando chegou na escola encontrou um ambiente agitado. “O consumo de suruma ou álcool é uma preocupação para nós, porque durante esta luta pode envolver pessoas que não tem nada haver e quando afecta alguns alunos é uma ameaça, porque podem nos agredir os nossos telefones”.
Cada vez mais preocupado, os alunos pedem a presença massiva de agentes da PRM no recinto daquele que é o maior estabelecimento de ensino secundário público no norte de Moçambique.
“A falta de patrulhamento policial contribui para a existência de alunos consumidores de álcool e drogas e que recorrem a práticas não saudáveis nesta escola”, considera o aluno Azido Assumane, recordando que “o professor foi muito espancado por um aluno que chamou o seu grupo”.
Segundo esta fonte, “isso é excesso de drogas que leva com que alguns alunos venham fazer as suas vontades na escola, para serem vistos e muita das vezes este tipo de grupo chega aqui com a tendência de arrancar telemóveis, pastas, colar e outras coisas valiosas que os alunos desta escola possuem e na sua maioria estes alunos procuram vender estes objectos no sentido de continuar a comprar e consumir drogas”.
A preocupação é maior
A situação mobilizou meio mundo em volta da escola secundária de Nampula, para se aperceber sobre o que realmente estava a acontecer.
“Para além de ser comerciante, sou pai e encarregado de dois menores de idade. Aqui, todos os dias estão a lutar entre alunos e até às vezes os professores são envolvidos. Os consumidores de drogas estão cheios e muitos são alunos desta escola, não estudam e somente usam o uniforme para disfarçar aos seus pais e a própria direção da escola e quando estes são impedidos a fazer movimentação na escola é daí que recorrem a violência”, conta Benilfo Francisco, cidadão que acorreu ao local para assistir a confusão.
Este pai receia que a proximidade de locais que vendem álcool, sem o mínimo de controlo, como sendo algo que propicia estas práticas.
No entanto, a direção da escola secundária de Nampula, através do director adjunto do 1⁰ clico do curso diurno, Muhamade Juma Abubacar, sublinhou que os pais devem ser responsabilizados pelos actos cometidos por parte dos filhos, justificando que o caso foi canalizado à polícia.
“No intervalo entre 10 á 11 horas recebi uma chamada dando conta que havia um grupo de alunos uniformizados com objectos contundentes. Quando o professor e director de classe se fizeram presentes, foi possível neutralizar dois alunos e que estiveram no meu gabinete e procurei saber o que eles estavam a tentar fazer e pedi apoio da polícia para recolher a uma unidade policial os alunos. Minutos depois, apareceu no recinto da escola um outro grupo de alunos e agrediram um colega que leciona a 8ª classe e para além desses, mais outros foram agredidos e estão no hospital”, conta esta fonte, prosseguindo que “na mesma confusão, envolvendo professores, fui sabendo que dois alunos, também, foram agredidos pelo mesmo grupo de alunos e este problema é frequente, embora temos aqui um grupo de coordenadores que se espalham durante o intervalo para garantir a tranquilidade e as vezes temos neutralizado alguns elementos e quando estes são levados a esquadra, tratando-se de menores, o Ministério Público diz que não há qualquer responsabilidade criminal e estes actos de vandalismos nas escolas ainda continuam e cabe a quem de direito rever o que está a falhar”.
Recentemente, a directora do Gabinete Provincial de Combate a Droga, em Nampula, Isabel Sanfins, salientou que ainda há falta de envolvimento dos pais e encarregados de educação no acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem e o diálogo com os filhos, afirmando que tal situação leva aos adolescentes e jovens a recorrer a práticas nocivas que podem levar a postura não aceitável a nível da comunidade, concretamente o consumo de álcool e drogas.
“Nas nossas palestras temos vindo a informar sobre a prática do consumo de drogas, porque isso constitui um risco maior, embora que a falta de comunicação diariamente por parte dos pais e encarregados de educação, os filhos sofrem a depressão que nalgum momento olham a droga para aliviar os seus problemas. Mas agora estamos a trabalhar com vista a colmatar o problema na escola e na comunidade e é preciso que os pais encarregados estejam envolvidos para combater nesta causa que cada dia constitui um desafio ao governo”, disse, na ocasião, a fonte.
Enquanto isso, o chefe de Relações Públicas da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, Dércio Samuel, disse que por tratar-se de menor, o aluno ora agressor, os pais e encarregados de educação serão responsabilizados pelo acto cometido no sentido de sensibilizar os seus educandos e apela maior denúncia sobre vários casos de consumo de drogas na comunidade e sobretudo nas escolas.
Samuel diz que a corporação não tem uma equipa afecta aquela unidade de ensino, mas que garante patrulhamento nas ruas e avenidas em volta da escola. (Nelsa Momade)