Nampula (IKWELI) – Dois brigadistas afectos a um dos postos de recenseamento eleitoral no bairro de Natikiri, na cidade de Nampula, foram fisicamente agredidos no passado sábado (22) pelos fiscais do partido Renamo, segunda maior força política nacional por suspeita de prática de ilícito eleitoral.
Segundo apuramos, tudo começou quando os referidos brigadistas, cujos nomes não apuramos, encontravam-se no posto de recenseamento por volta das 19 horas do passado sábado, um período que está fora do horário estabelecido por lei eleitoral vigente em Moçambique que estabelece que o processo de recenseamento decorre das 8 às 16 horas, facto que suscitou fortes suspeitas de que os mesmos estariam a conduzir uma acção fraudulenta.
Inconformados com a situação, e segundo contam as vítimas e as autoridades policiais, os fiscais da Renamo avançaram com a agressão, para depois conduzi-los à esquadra. No domingo passado, segundo informações em nossa posse, não houve recenseamento no referido posto.
“Trabalhamos das 8 até 16 horas, fechamos a brigada e selamos o mobile. Como neste bairro existe um membro familiar que perdeu seus parentes, saímos e fomos consolar, eu e a minha colega. O consolo foi lá para 17:30 para 18:00. O regresso do consolo para casa, os homens da Renamo nos abarbataram alegando que nós estávamos a fazer o processo de recenseamento eleitoral nocturno. Nós questionamos se tinham prova concreta e eles disseram que estavam a suspeitar. Dali chamaram os amigos deles da Renamo e começaram a nos espancar até quase no posto policial de Natikiri”, contou Edgar Mário, brigadista.
“Tivemos conhecimento a partir de uma denúncia de que dois indivíduos teriam sido suspeitos de cometer um ilícito eleitoral na zona de Natikiri. No entanto, após alguns fiscais desse processo de recenseamento terem se apercebido ou suspeito da ocorrência desse tipo de suposto ilícito, os mesmos começaram com agressão física contra esses indivíduos, causando alguns ferimentos contra eles e, de seguida, fizeram chegar às subunidades policiais”, começou por dizer Zacarias Nacute, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Nampula.
“Neste momento, em conexão com este caso decorrem dois processos – crimes, sendo um do suposto ilícito eleitoral, contra os indivíduos que foram agredidos, e um outro processo contra esses fiscais que teriam, a partir de uma suspeita sem muito fundamento, agredido. Estes dois processos vão decorrer em simultâneo e após ser encaminhado ao Ministério Público, aguardar pelo desfecho”, acrescentou Nacute.
Aliado a esta situação de Natikiri, a Renamo em Nampula chamou a imprensa nesta segunda-feira para denunciar as irregularidades cometidas no processo de recenseamento para as eleições municipais que terão lugar no território moçambicano em 11 de Outubro do ano em curso.
“As brigadas recebem listas provenientes dos partidos políticos, listas entregues por policiais, listas entregues por secretários dos bairros, listas essas que são usadas para fazer o recenseamento e que depois destas listas terminar, com os respectivos documentos, há simulação de avaria de máquinas”, disse Ossufo Ulane, porta-voz da RENAMO em Nampula, exibindo as alegadas listas com timbre do partido Frelimo.
“Nós estamos tristes por saber que é um plano orquestrado, mas também estamos felizes porque entendemos que eles estão preocupados porque nunca viram o nível de fiscalização no processo de recenseamento. Entraram tranquilos a pensarem que estava tudo bem, ainda não tinham conhecimento do plano de fiscalização que nós havíamos de fazer”, prosseguiu Ossufo Ulane.
“Já há uma outra situação, os brigadistas trabalham no horário normal estabelecido, das 8h as 16, simulam saída à casa e voltam, até 19 horas estão ainda no posto de recenseamento que ainda queremos perceber o que é. A título de exemplo, nós capturamos brigadistas da EPC Acordos de Lusaka, em Murrapaniua e levamo-los a esquadra para nos fazerem perceber o que fazem as 19 horas no posto de recenseamento, depois de terem simulado que foram ao seu aposento. Esta questão preocupa porque nós entendemos que essa situação é feita para acautelar a introdução das listas no mobile, e é por isso que no dia seguinte há simulação da avaria de máquinas. Estão todos sentados simulando que as máquinas estão avariadas, e nós descobrimos isso e estamos aqui a denunciar”, argumentou o porta-voz da perdiz, referindo-se do caso que levou a acusação dos militantes daquela agremiação política de terem protagonizado agressão contra os brigadistas.
Para Ossufo Ulane, “isto tudo quer-se garantir que o recenseamento continue a ser como foi desde o primeiro dia, um recenseamento selectivo. Na óptica deles é de recensear membros do partido Frelimo, devidamente reconhecidos e que eles acham que são, sim, membros do partido Frelimo, para depois de um tempo as máquinas avariarem para sempre, e aqueles vistos como membros da Renamo e outros partidos da oposição, não poderão se recensear, e para eles este método vai facilitar a vitória, por isso gritaram anteriormente que vão levar todos os municípios”.
Ossufo falou, também, de supostas cobranças ilícitas promovidas por brigadistas aos cidadãos que procuram recensear-se. A fonte fez referência da EPC de Mutomote, bairro de Namutequeliua como um dos pontos onde há tal prática. Igualmente, referiu-se de senhas estranhas ao processo que tem sido exibida por alguns cidadãos nas filas, suspeitando que sejam seus principais concorrentes que estejam por detrás do negócio. (Constantino Henriques)