Nampula (IKWELI) – Uma adolescente de 17 anos de idade, residente na zona do Vieira, bairro de Murrapaniua, posto administrativo de Natikiri, na cidade de Nampula, diz enfrentar dificuldades para sobreviver e garantir o seu percurso estudantil desde o nível secundário geral e ensino superior, dado é que vive assediada sexualmente pelo seu respectivo encarregado que lhe prometeu ajuda.
Natural do distrito de Larde, concretamente em Topuito, a menor é proveniente de uma família sem condições financeiras, razão pela qual faltam meios aos seus pais para custear as necessidades de casa e não só. No meio disto, e para aliviar o sofrimento e garantir os estudos, a menor abandonou a sua terra natal para viver na cidade de Nampula sob cuidados de um cidadão amigo do seu pai.
A vítima revelou-nos que tudo corria bem até completar 15 anos, quando o seu pai era colaborador de uma empresa em Topuito, na altura frequentava a 6ª classe, e através do trabalho o pai conseguia suprir as necessidades. Porém, o cenário mudou para pior quando o pai perdeu o emprego.
Foi ainda por esta razão que, segundo informações, a menor abandou a escola para, na companhia da mãe, cuidar dos seus irmãos em casa. É neste período que os pais decidiram dar em casamento a sua filha, embora menor, a um cidadão que ostentava poder económico, mas que o plano fracassou, pois, a possível esposa recusou, decidiu dar espaço à reflexão e aos estudos.
Já no presente ano 2022, o pai anunciou à menina sobre a existência de um amigo que pretendia ajudá-la, mas que a condição seria fora do convívio familiar. A menor aceitou, tanto é que tempo depois fez as malas e pôs-se a viajar para viver com o homem que não o conhecia, mas o chamou de tio, no bairro de Murrapaniua, em Nampula, onde a aflição deu novos passos.
Na sua chegada em Murrapaniua, Kataleia [nome fictício da menor], para além de ingressar no ensino secundário começou por exercer actividades de empregada doméstica, incluindo a lavagem de roupa interior do tio que a levou da terra natal, uma vez que a esposa do cidadão reside noutro distrito, contrariando deste modo o que havia sido coordenado entre a família da Kataleia e o cidadão.
Passado algum tempo, o Ikweli soube que a menina começou a ser assediada pelo suposto tio, sob alegação de que manter a cópula era condição única de garantir ajuda escolar e tecto. Aliás, há vezes em que o encarregado força a menina a chamá-lo de amor, facto que a levou a abandonar a casa por um dia, isto em Outubro corrente.
Sobre o caso, tivemos acesso a uma conversa em mensagem de telemóvel entre Kataleia e o tio, quando esta abandonou a casa e decidiu denunciar. Na conversa, está claro que o cidadão ameaça a menor de deixar de apoiá-la caso esta não satisfaça as necessidades do homem. No entanto, a menor questiona-o e lamenta que “se é ajuda que me quer oferecer precisa sempre ficar-me usando como sua esposa? Às vezes eu penso que o senhor não quer me ajudar, só está se aproveitar da minha situação. O senhor está fingindo que me ajuda como sua sobrinha, enquanto está sempre me falando para ter relação sexual, e como disseste, aqui é na tua casa, tenho que assumir tudo porque estou a depender de você. Mas por favor, pare de inventar coisas, se os meus pais te pediram e você aceitou tudo para eu te pagar com o meu corpo”, escreveu a vítima para quem depois ameaçou denunciar.
Por isso, “não sabia que estou a ti forçar, apesar de tudo”, assim reagiu o acusado para quem pede para não ser denunciado, pois “já que o que eu queria saber de si sei, que nunca me amou, está bem, vou-te ajudar até fazer o nível que poder porque agora já falou a verdade. Procure casa para arrendar desde já, eu vou pagar, dar-te comida e todo o material possível para os seus estudos. Mas por favor, não me notifique, peço-te favor, espero que não vou repetir”.
O suposto tio nega a acusação
Ao Ikweli, o acusado de assédio sexual disse não constituir verdade, mas assume não ser familiar da menina com quem vive, pois é filha do seu amigo, o qual estudaram juntos na mesma escola, antes de se tornar professor. Mas porque foi a pedido do amigo, devido a falta de condições económicas na família, aceitou levar a Kataleia para viver consigo e apoiá-la no percurso estudantil.
De igual forma, interagimos com o pai da menor telefonicamente, o qual desconhece os factos narrados, mas que antes a filha adiantou que estava a ser forçada a manter relações sexuais com o tio, facto que o deixou indignado. Portanto, telefonicamente, o pai da Kataleia mostrou prontidão para viajar de Larde a Nampula para melhor se inteirar, pois não esperava das outras intenções do seu amigo.
“Ela [a menina] já me alertou sobre o que está a acontecer, ao que me pediu para mudar da casa do tio para a da irmã. Eu ouvi que o tio lhe agrediu. Sobre o comportamento dele eu não sabia melhor, considerei como familiaridade e, ao acontecer isso, ele não me comunicou”, disse o pai da menor que se ressente da situação, mas pede ajuda de benfeitores, no sentido de se criar condições para a sua filha prosseguir nos estudos. (Esmeraldo Boquisse)