Nampula (IKWELI) – A venda de espaços públicos continuam sendo uma nota dominante e que mancha a primeira governação da Renamo no maior centro urbano do norte de Moçambique, Nampula, e depois da tentativa falhada no mercado do Waresta, agora segue a feira dominical.
Quanto ao mercado do Waresta, o maior e mais importante grossista daquela região de Moçambique, Tertuliano Juma (presidente da Assembleia Autárquica) esteve a frente do negócio, e o caso da Feira Dominical, é mesmo Paulo Vahanle, o presidente do executivo, que decidiu entrar na “bolada”.
Aquele espaço público, localizado ao longo da avenida Eduardo Mondlane, no bairro Muhala Belenenses, se encontrava encerrado, desde finais de Abril do corrente ano de 2020, em resposta as medidas de prevenção da pandemia da covid-19.
“Vamos ocupar uma largura de 30 a 40 metros ao longo da estrada que é para construirmos infra-estruturas para o benefício mesmo do município e há parcerias para isso. Queremos melhorar as vias de acesso”, disse Paulo Vahanle a jornalistas, momentos após o término da segunda Sessão Extraordinária da Assembleia Autárquica de Nampula, realizada na última quarta-feira (30 de Setembro de 2020).
Entretanto, volvidos sete meses, o espaço está vedado com recurso a chapas de zinco, ao longo do comprimento junto da Avenida Eduardo Mondlane, e no seu interior existem, também, duas demarcações vedadas uma com chapa de zinco e outra através de rede sintética, ambas com dimensões estimadas em 100 por 40, isto é uma área de cerca de 4000 (quatro mil metros quadrados).
Segundo apuramos junto do autarca Paulo Vahanle, no referido local serão erguidas infra-estruturas para fins comerciais. Mas, mesmo assim, Vahanle suaviza que será, também, reservada uma parte para as actividades da feira dominical, e de igual forma, o mercado de peixe situado junto a feira vai se manter intacto.
“Em relação a feira dominical não se vendeu, mas há projectos”, disse Vahanle, justificando que “é uma parceria que vai servir e ali vai haver infra-estruturas, e algum deles prometem instalar ATM e mais outros serviços de interesse dos munícipes o que quer dizer, a feira não vai encerrar, o mercado não está encerrado. Tudo vai funcionar em pleno, pelo contrário queremos reforçar a procura de serviços naquela área”, justifica o autarca.
Um dos resultados da ocupação daquele espaço, em conformidade com Vahanle, é a reabilitação de algumas vias de acesso da urbe com destaque para “aquela que parte da Avenida Eduardo Mondlane até a via de Angoche (Avenida FPLM)”, que se localiza junto da feira dominical, onde “queremos pôr pavê. O próprio mercado temos que trabalhar no sentido de, também, pôr pavê. Temos outra via que parte do Jamila, portanto a rua que dá acesso a Muatala, também, vamos pôr pavê. Acredito que nos próximos dias, daqui a uma semana há – de ver pavê a ser descarregado nesses lugares no sentido de melhorar”, concluiu a fonte.
Entretanto, a decisão da edilidade em pôr na “bolada” aquele espaço público não agradou alguns munícipes de Nampula, sobretudo os que recorriam o local para exposição, venda e compra de produtos.
“Sei que este tipo de comportamento não é de Vahanle, todos governantes moçambicanos são assim, quando vem pedir voto parecem pessoas, mas depois de alcançar o poder se acham donos de tudo. Agora o que podemos esperar é que, depois de venderem todos espaços que restam, comecem a vender as próprias pessoas”, disse o cidadão Ângelo Feliciano, em exclusivo ao Ikweli.
“Os nossos governantes deviam parar de ser gananciosos pelo dinheiro, porque ao contrário acabarão por vender inclusive as próprias estradas aos estrangeiros. O mais caricato nisso tudo, é a falta de consulta pública antes de procederem com este tipo de decisões”, continuou o nosso interlocutor.
Para um outro entrevistado que se identificou como Adamo Mahando, “Paulo Vahanle enganou-nos porque com o passar do tempo ele está a trazer-nos um comportamento de um autêntico membro da Frelimo, não devia ser ele a seguir este tipo de exemplo errado”, disse, questionando sobre “como é possível vender esta feira? Para onde vai nos levar agora?”
“Eu desconfiei logo quando nos disseram que a feira vai deixar de funcionar por causa de coronavírus, aquela foi uma maneira de nos mandar embora para toda a vida”, acredita Juma Essimela, vendedor informal, opinando que “ele devia comunicar bem as pessoas, não precisão nos tratar desta maneira, eles devem saber que esta terra é de todos nós só que eles tiveram a sorte de estar nos governar”.
Por seu turno, Mussa Sumaila, outro munícipe que falou ao Ikweli, considera que “o presidente Paulo Vahanle não é culpado, ele acertou as coisas a serem feitas desta maneira, também agora é a vez dele de comer, outros venderam nossos jardins aqui mesmo, nossos campos e outros melhores sítios para o lazer e, não foram feitos coisa alguma. Então se na verdade ele vendeu esta feira, acredito que vai fazer alguma coisa para o povo que lhe votou”, disse Sumaila.
Refira-se que, em 2013 a intenção da concessão do espaço da feira dominical de Nampula foi manifestada pelo inevitável Castro Namuaca, mas tal feito não se concretizou, uma vez que coincidia com término do seu ciclo de governação, como edil de Nampula. Nessa altura, refira-se, Castro Sanfins Namuaca pretendia transferir a feira para a zona vulgarmente conhecida por Centro Agronómico no posto administrativo municipal de Muhala.
Outrossim, alguns relatos apontam que na era do falecido, edil Mahamudo Amurane, também, houve rumores da concessão daquele espaço a um privado, e que seriam construídas infra-estruturas na forma vertical, sendo que no rés do chão iria funcionar a feira. No entanto, não se sabe ao certo se são os mesmos privados que fecharam a “bolada” com o autarca Paulo Vahanle.(Constantino Henriques)