- Afirma Ivo Garrido, antigo ministro moçambicano da Saúde
Pemba (IKWELI) – O antigo ministro moçambicano da Saúde, Ivo Garrido, defendeu, recentemente, na cidade de Pemba que o grande problema do país é a implementação dos planos e programas que são concebidos que nunca saem do papel.
O “IKWELI” interpelou Garrido nos corredores da Conferência de Desenvolvimento de Cabo Delgado e, durante longos minutos de entrevista a fonte mostrou a sua posição relativamente a eventos realizados a mesa de café e que no fim do dia não produzem resultados para o desenvolvimento do país.
“A primeira ilação é o aspecto positivo de nos reunirmos, discutirmos e partilharmos ideias sobre aquilo que deve ser o desenvolvimento da nossa província nós passamos a vida a falar de inclusão e este foi um momento de inclusão. Foi um momento em que chamamos muita gente e discutimos em conjunto aquilo que é as visões para o futuro da nossa província”, disse Ivo Garrido considerando a necessidade da realização do evento, para depois avançar que “este não é um problema de Cabo Delgado. É um problema de Moçambique. Nós desde a independência, apesar dos avançamos que registamos, temos tido muitos problemas de implementação. Temos que reconhecer que o problema dos moçambicanos reside mais na implementação do que na concessão”.
“Isto não tem uma resposta imediata. É preciso que se estudem as experiências anteriores e se veja porque é que houve experiências anteriores que falharam. Vou dar um exemplo a começar aqui na vossa província. Eu estava no governo quando fui com o presidente Guebuza inaugurar uma fábrica de descasque de castanha de caju e agora me informam que já está fechada. Há coisa de 15 anos inauguramos um grande projecto de produção de flores em Manica que já faliu. Sabe, em vez de fazermos discussões assim no ar é preciso ir pegar em 1975 fazer o levantamento de todos os projectos, todas as boas intenções que nós tínhamos e ir estudar caso por caso onde é que falhamos e dai tirar lições. Isto não pode ser feito a mesa do café, temos que pegar em jovens que estão preparados para isso. Há questões antropológicas, há questões sociológicas, há questões políticas, há questões culturais. Temos que dar tarefa a esses jovens para irem estudar cada um desses projectos que nós concebemos desde a independência e que falharam, senão fizermos esses estudos sérios vamos continuar a cometer os mesmos erros”, precisou o nosso interlocutor.
Num outro desenvolvimento, a nossa fonte abordou sobre a priorização dos projectos de gás que são vistos como a solução para a pobreza que prevalece nas comunidades moçambicanas.
“Embora eu reconheça que a nossa prioridade número um deve ser a agricultura, isto vai um bocadinho mais longe. É preciso que todos nós interiorizemos o que significa diversificação da economia. A diversificação da economia significa nós termos actividades em múltiplas áreas ao mesmo tempo que permitem utilizar a capacidade dos moçambicanos e gerar riquezas para todos os moçambicanos. Não vale a pena andar a atirar pedras a pessoas que defendem projectos do gás, etc, vão trazer benefícios para Moçambique. Vão trazer benefícios mas, a experiência da Angola, a experiência da Nigéria e de muitos outros países mostram que (um) são projectos que geram pouco emprego – nenhum projecto de gás em Moçambique vai resolver o problema de desemprego sobretudo da nossa juventude – (dois), se nós queremos resolver o problema de desemprego em Moçambique – e o problema de desemprego em Moçambique é uma bomba relógio – todos os anos entram no mercado de trabalho oitocentos mil jovens e o governo na pior das hipóteses consegue arranjar cem mil empregos. Cada ano que passa o problema vai aumentando. A única solução para resolver o problema do desemprego é a diversificação da economia. A prioridade do governo deve ser como, ao mesmo tempo, ir para aqueles sectores”.
“Virem me dizer que o projecto de gás vai resolver o problema da pobreza em Cabo Delgado não é verdade. O que vai resolver o problema da pobreza em Cabo Delgado e no resto do país é a diversificação da economia, onde há trabalho para todos nós, não só do governo”, concluiu Garrido. (Aunício da Silva e Estácio Valoi)