Pemba (IKWELI) – Na última terça-feira (5) completaram, exactamente, dois meses que o governo moçambicano decidiu violar os mais elementares direitos humanos do jornalista Amade Abubacar por, simplesmente, efectuar, competentemente, o seu trabalho, detendo-o sob uma acusação dúbia na opinião pública.
O jornalista sequestrado por militares quando desempenhava as funções de coordenador da Rádio Comunitária Nacedje, no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado, decidiu contra todos os riscos reportar a situação que as famílias passavam pelo conflito militar que se regista em cinco distritos daquele ponto do país.
Como prémio, o governo agraciou com um sequestro perpetrado por militares tendo tido como primeiro cativeiro uma base militar localizada no distrito de Mueda. Mais tarde, diante da pressão interna e externa, viriam a transferir o jovem para uma cadeia policial no distrito de Macomia, para depois ser transferido para o Estabelecimento Penitenciário de Mieze, há pouco mais de vinte quilómetros da cidade de Pemba.
Um procurador da República reconheceu que a detenção do Amade Abubacar foi ilegal mas, nem por isso retribuiu-lhe, imediatamente, a liberdade, o que se esperava.
Em Mieze, Abubacar padece de várias enfermidades pois, depois que foi sequestrado foi vítima de torturas. Não lhe é dado acesso ao médico e muito menos a algum tratamento hospitalar.
A acusação, forçosamente, deduzida pelo Ministério Público de Cabo Delgado não podia ser mais do que a violação dos “segredos de estados” através do uso de meios informáticos, ou seja, por fotografar e reportar o drama do sofrimento da população, Amade violou segredos do estado.
Entretanto, ao que tudo indica e pelos relatos que nos chegam o sistema está conseguindo enfraquecer Amade Abubacar e semear o apetecível clima de terror e medo no seio dos jornalistas para não abordarem a guerra que está tendo palco em Macomia, Mocímboa da Praia, Quissanga, Palma e Nangade, bem como, muito ultimamente, nas cercanias da Ilha do Ibo. O jornalista encontra-se física e psicologicamente debilitado, portanto, não pode oferecer muito e, do lado de fora, os seus colegas tem medo e receio de escrever os assuntos que na região acontecem: ataques diários, matanças a comunidades locais, violação dos direitos humanos, entre outras atrocidades.
A Amnistia Internacional, uma organização de defesa de direitos humanos, mais uma vez voltou a repudiar a permanência do Amade nos calabouços e em comunicado distribuído a partir de Joanesburgo afirma que teme pela vida do jornalista.
“Amade está a definhar na prisão simplesmente por fazer o seu trabalho de jornalista, expondo o sofrimento infligido a civis por ataques mortíferos em Cabo Delgado”, disse, citado no comunicado, Deprose Muchena, director regional da Amnistia Internacional para a África Austral.
Citando fontes credíveis, a Amnistia Internacional afirma que “antes de ser preso, Amade encontrava-se de boa saúde, mas o seu estado deteriorou-se rapidamente durante a detenção” por isso, “a organização está preocupada com a possibilidade de Amade necessitar de cuidados médicos urgentes e não estar a receber o tratamento médico necessário e adequado”.
Todavia, a 18 de Fevereiro último, também, foi detido Germano Daniel Adriano, colega de Amade Abubacar, sob o mesmo pretexto da violação de segredos do estado.
Entretanto, a Procuradoria Provincial de Cabo Delgado organizou uma visita de jornalistas de Pemba ao Amade Abubacar, no passado dia 6 do corrente mês.
Nossos contactos no grupo contam-nos que a conversa com o Amade não teve permissão de registo magnético por parte do procurador mas, a situação do mesmo não é das melhores e tudo o que disse “parece” encenado. (Aunício da Silva)