Nampula (IKWELI) – No coração de Nahene 1, uma das comunidades mais populosas e desafiadoras do bairro de Namicopo, um novo grito de guerra se ergue, não de violência, mas de esperança.
Mulheres deslocadas da província de Cabo Delgado, que sobreviveram a horrores inexplicáveis, agora fazem um apelo desesperado e urgente: querem um centro de alfabetização.
Durante uma visita recente à comunidade, a nossa reportagem testemunhou de perto a resiliência e a determinação destas mulheres. Elas fugiram da guerra, deixaram para trás tudo o que conheciam, mas trazem consigo um sonho inabalável de aprender.
“Perdemos tudo: as nossas casas, as nossas famílias, a nossa paz. Mas não perdemos a vontade de aprender. Queremos ler, escrever, entender o mundo à nossa volta,” desabafou Salima, mãe de dois filhos, com os olhos marejados de lágrimas, mas cheios de determinação.
Sifa Fazira, de 32 anos de idade, outra mãe deslocada, ecoou o sentimento, anotando que “chegámos aqui sem nada, sem voz. Se soubermos ler e escrever, podemos lutar pelos nossos direitos, podemos gerir o pouco que temos ajudarmos os nossos filhos com os TPC’s. É uma questão de dignidade.”
Para Ancha Amade Abdala, 36 anos de idade e mãe de 6 filhos, a educação é a ponte para um futuro diferente. “Quero que as minhas filhas vejam que a mãe aprendeu, que a mãe lutou. Quero que elas saibam que a guerra não nos tirou a capacidade de sonhar e de crescer.”
Luísa Saide, visivelmente cansada, mas com um brilho no olhar, expressou a necessidade prática. “Às vezes temos documentos importantes e não sabemos o que está escrito. Somos enganadas, mesmo mensagens das amantes dos nossos maridos não conseguimos ler. Com a alfabetização, ninguém nos engana mais.”
E, por fim, Dia Muela, com uma voz firme, resumiu o sentimento coletivo, explicando que “pedimos ao governo, às ONGs, a quem nos puder ajudar. Não queremos esmolas eternas, queremos a ferramenta para nos reerguer. Uma escola é a nossa maior necessidade agora.”
O apelo destas cinco mulheres, representantes de centenas de outras em Nahene 1, serve como um lembrete pungente de que, para além das necessidades básicas de comida e abrigo, a educação é um pilar fundamental para a reconstrução da vida e da dignidade. A alfabetização não é apenas sobre letras e números, é sobre empoderamento, segurança e a promessa de um futuro onde estas mulheres possam escrever as suas próprias histórias. (Atija Chá)