Nampula (IKWELI) – Moçambique tem enfrentado desafios significativos na agricultura devido às mudanças climáticas. A principal época agrícola de 2023/2024 foi severamente afectada por uma seca induzida pelo fenómeno El-Niño, resultando em 30 dias consecutivos sem chuvas entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024.
Dados partilhados pelo governo na altura, indicavam que a mesma levou à perda de aproximadamente 720 mil toneladas de produção agrícola, representando cerca de 19% da produção total estimada em 3,8 milhões de toneladas.
Estes dados evidenciaram a urgência de adotar medidas de adaptação, como o uso de bombas de irrigação, para mitigar os impactos das mudanças climáticas na agricultura e garantir a segurança alimentar das comunidades.
De forma a solucionar tais problemas, uma Organização Não Governamental, KickStart está a promover o uso de bombas manuais não poluentes ao meio ambiente.
Trata-se de um sistema denominado “Money Maker”, uma nova tecnologia considerada eficiente e sustentável para bombear 30 litros por minuto e irrigar quatro mil metros cúbicos por dia, contribuindo dessa forma para a segurança alimentar, criação de renda para subsistência e resiliência às mudanças climáticas.
Durante o fórum de stakeholders realizado nesta quinta-feira (29), na cidade de Nampula, região norte do país, a oficial de parceria da organização, Flora Manuel, explicou que os sistemas foram desenhados com base nas dificuldades enfrentados por pequenos agricultores no combate a pobreza.
Segundo Manuel, é um sistema que não requer o uso de combustível, energia ou sol, apenas a força humana. “Este sistema traz grandes vantagens porque não polui o meio ambiente, não gasta dinheiro do pequeno produtor. Nós sabemos que nas épocas de produção com agricultura de subsistência é muito reduzida e, com este sistema, uma das vantagens é que ele pode produzir em vários ciclos”.
Em Moçambique há mais de 20 anos, a empresa disponibiliza três tipos de bombas, nomeadamente MoneyMaker Max, Hip e Starter. Estando a beneficiar mais de 20 mil agricultores.
Por exemplo, a bomba MoneyMaker Max tem a capacidade de bombear 60 litros por minutos e irrigar extensas áreas de produção e espalhar a água até 200 metros. Enquanto que a Hit empurra água até 150 metros numa superfície plana.
“Bomba MoneyMaker Starter é a nossa inovação mais recente e acessível até agora. É fácil de operar e configurar, ajuda os agricultores a fazer a transição fácil do uso de baldes para irrigação, pois conta com uma capacidade para bombear 30 litros por minuto”.
Flora Manuel avançou que o sistema é usado na sua maioria por produtores que se dedicam à produção de hortícolas “Este sistema é muito bom, porque podemos fazer a escavação de poços em casos de escassez de chuva para irrigar os campos e isso tem minimizado a problemática da retenção das águas que desaparece por conta da seca”.
Por sua vez, o representante do governo provincial, Joaquim Tomás, lembrou que durante o cultivo, vários produtores, perdem as suas culturas por conta das mudanças climáticas, por isso entende que as bombas facilitam o trabalho dos agricultores, entretanto pede que nos próximos anos sejam desenhadas bombas que possam ser usadas através de painéis solares.
“Uma das grandes estratégias é que eles querem fazer a ligação entre o sector privado e o sector produtivo, mas envolvendo sempre o sector de investigação no sentido de encontrar-se se de facto esta tecnologia é aplicável para os nossos pequenos agricultores. Um dos grandes objectivos são reinventamo-nos no sentido de que os nossos produtores tenham a segurança alimentar convicta e haja aumento da renda das famílias”.
Sistema de irrigação transforma a vida dos produtores
Para muitos, o clima deixou de ser previsível e a incerteza passou a ser o novo normal. No entanto, em meio a estes desafios, surgem histórias de resiliência e esperança, protagonizadas por produtores que decidiram apostar em soluções como o uso de bombas de irrigação para manter as suas machambas produtivas durante todo o ano.
Como é o caso de Salima Amisse, Natural de Chiúre, distrito de Cabo Delgado, revelou ter passado por diversas situações pois dependia da chuva para irrigar suas culturas.
“Havia anos em que a colheita não dava para alimentar a família”.
Há sensivelmente um ano, Salima teve acesso a uma bomba de irrigação manual Starter, com o apoio de um programa local focado na agricultura resiliente. Com a nova ferramenta, tudo mudou.
“Ganhei muito com esta moto-bomba. Antes dessa máquina sofria muito só conseguia produzir meio hectar de produtos agrícolas, agora já consegui aumentar para um hectar. Já não espero pela chuva, e consigo colher alface, Repolho, couve, cenoura tomate e cebola quase todo o mês”.
Graças à produção contínua, a produtora aumentou a renda da família e adquiriu um processador de milho, vulgo “moagem” por isso, sonha em comprar um carro dentro de três anos.
Quem igualmente viu sua vida melhorada com o sistema é Raibo Celestino, igualmente natural de Chiúre em Cabo Delgado, partilhou que antes a sua produção era menos de meio hectar, mas atualmente dispõe de mais de um hectar.
“O rendimento anteriormente era muito reduzido, conseguia cinco a seis mil meticais. Com a recepção da bomba no ano antepassado e no ano passado consegui 11 mil e acredito que neste ano vou ultrapassar este valor”. (Ângela da Fonseca)
