Nampula (IKWELI) – A crise de combustíveis, sobretudo a gasolina, na cidade e província de Nampula tem estado a gerar diversas interpretações por parte de mototaxistas e automobilistas que entendem que as estações de abastecimento têm retido a gasolina para abastecer carros do governo, bem como o mercado informal em troca de diversos benefícios.
O choro pelo combustível já vai na sua segunda semana e se a situação continuar, operadores de transporte semicolectivo de passageiros e mototaxistas equacionam paralisar actividades, enquanto automobilistas vêem-se obrigados a arrumar os carros nas garagens.
Ramadan Fernando é mototaxista há 5 anos e entende que a crise de combustível tem estado a criar constrangimentos na actividade, obrigando-os muitas vezes a recorrer ao mercado informal, onde chegam a pagar 500,00Mt (quinhentos meticais) o litro.
“Estamos a passar mal, porque nas bombas estão a proibir, quando digo que estão a proibir, é porque em todas as bombas aqui na cidade tem combustível, mas nós compramos na rua, os que tem direito de comprar são aqueles que vendem na rua, nas bombas vendem só para esses que vendem na rua a partir de 1h da madrugada até às 4h, isso desde a semana passada. Nós também aumentamos o preço, porque compramos caro, não sei porque estão a fazer isso.”
Para Jacinto Júlio, a situação só vem agudizar a pobreza dos mototaxistas. “Nós estamos a ficar cada vez mais pobres. Quando vamos as bombas não conseguimos abastecer, subiu muito, está 100,00Mt (cem meticais), os clientes não chegam, porque sabem que combustível está caro, e quando aplicamos um preço, os clientes não aceitam. Eu estou a ver que, a falta de combustível é crise, houve crise por causa de manifestação, nós gostaríamos que entregassem o país a Venâncio, papá Chapo só está a nos castigar.”
Já o operador de transporte semicolectivo de passageiros, Zito Manuel, apesar de entender que as bombas não estão a reter a gasolina e que a escassez deve-se a uma crise global, ressalta que por trás da situação há um problema grave. “A crise de combustível está a afectar muito, porque em algum momento tem impactado nossos serviços, nós que somos transportadores semi-colectivos, com esta crise, adoptamos em abastecer antes de largar. O que está por trás não é boa coisa, porque a maioria dos carros usam gasolina, então não é favorável. Não acredito que as bombas estejam a reter combustível, porque todo o mundo que vende, compra para vender, então não acredito que estejam a reter, mas mesmo assim acho que seremos obrigados a aumentar o preço do chapa-100.”
Através de uma nota de imprensa, o Ikweli teve informação que o activista social Gamito Dos Santos está a organizar uma marcha para o próximo dia 10 do corrente mês com vista a pressionar o governo a falar sobre a situação.
Em entrevista ao Ikweli, Dos Santos disse tratar-se de um problema mais profundo do que aparenta. “Em relação a crise de gasolina na província de Nampula, eu acho que há um gato escondido por trás de toda esta situação, nós precisamos desvendar este mistério que está por trás disto. De forma especulatória, diria que é um negócio dos chefes, porque eles têm como reservar o combustível nas suas casas ou até fazer uma ligação e de forma imediata terem acesso ao combustível, mas para o cidadão pacato não é assim,” disse Dos Santos, recordando uma experiência não muito distante, em que teve que pagar 500,00Mt meticais por um litro de combustível.
“Nós estamos a organizar uma marcha para o próximo dia 10 e a intenção da marcha é mesmo pressionar o governo para, pelo menos, explicar o que está a acontecer. Na marcha, iremos caminhar até a direcção provincial dos Recursos Minerais e Energia para submeter uma petição formal,” acrescentou.
Se por um lado há uma busca incessante por algum esclarecimento do governo a nível provincial e central, por outro, revendedores de combustível no mercado informal denunciam que são obrigados a subornar os bombeiros de gasolina para terem acesso ao combustível. (Felismina Maposse)