Nampula (IKWELI) – Parturientes do Centro de Saúde 25 de Setembro, na província de Nampula, dizem-se obrigadas a sentir dor em dobro, isso porque para além de se queixar de dores de parto, são igualmente expostas ao que consideram dedesprezo e humilhação de dormir no chão gelado e em camas de ferro sem colchões num dos momentos mais vulneráveis das suas vidas.
Joana, de nome fictício, de 18 anos de idade, deu à luz ao seu primeiro filho na manhã da passada quarta-feira (24), naquela unidade hospitalar. Quando ainda se contraia de dor foi levada para um quatro que não havia cama para ela ou, pelo menos, não para quem não tinha “dinheiro de refresco”.
Dormiu no chão frio, por cima da sua capulana. Ao lado, uma outra parturiente ocupava uma cama de ferro sem colchão, onde cada movimento fazia ranger o metal e aumentar a dor.
“Quando chegamos disseram para lhe levar ao quarto, mas no tal quarto não tinha cama para ela, quando questionei responderam para estender capulana ali mesmo. Pouco tempo depois fui ter com as enfermeiras para informar que minha irmã estava a sentir frio e elas responderam que também estavam a sentir o mesmo”, conta a irmã, por sinal acompanhante da parturiente.
Desesperada e sem saber o que fazer, a irmã da parturiente disse as enfermeiras, em número de quatro, que podia fazer qualquer coisa para tirar a irmã daquela situação.
“Mas depois de eu ter tirado um valor correspondente a 400,00Mt (quatrocentos meticais)foi quando uma das enfermeiras, levou ela para outro quarto onde tinha cama, mas também sem colchão”.
Segundo relatos de outras mulheres, o esquema é recorrente, e aquelas que não conseguem pagar pequenas quantias são deixadas no chão, sem cobertores. Outras enfrentam febres pós-parto, sem sequer ter um olhar atento do pessoal de saúde.
“É como se não fossemos gente. Só porque somos pobres”, diz uma outra mulher, escondendo o rosto.
A acompanhante da Joana revelou, ainda, que após o parto notou que o seu sobrinho nasceu com um dedo a mais na mão esquerda, mas “as enfermeiras disseram que não era nada e que podíamos tratar (cortar) em casa com uma linha de saco”.
Importa lembrar que, o Código Penal vigente no país, prevê como crimes algumas das condutas que se enquadram na violência obstétrica, como o homicídio, as ofensas corporais, a violação e o trato sexual com menores de 12 anos.
No entanto, este instrumento legal não contempla todos os comportamentos abusivos e desumanizantes perpetrados contra a mulher grávida ou parturiente, como a violência física, psicológica, económica, sexual e institucional.
Entretanto, o director dos Serviços Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social de Nampula, Manuel Eduardo, disse ser de conhecimento do sectoràquela, tendo afirmado que um parceiro local disponibilizou um cheque no valor de 300.000,00Mt (trezentos mil meticais) que vai servir para aquisição de colchões para o centro de saúde.
“Isso é uma preocupação nossa, nós não estamos a gostar de ver as nossas parturientes naquelas condições. Mas o BIM ofereceu-nos um cheque gigante de 300 mil meticais para resolvermos essa situação. Acreditamos que dentro de dias estará resolvido,” concluiu. (Ângela da Fonseca)