Nampula (IKWELI) – O fenómeno de desmaios continua a assombrar algumas escolas de Nampula e na capital provincial, há relatos da sua intensificação na escola básica de Muthita, onde pais e encarregados de educação não escondem a preocupação.
As principais vítimas são raparigas, sendo que em Muthita as mais afectadas frequentam a 8ª e 9ª classes, e na sexta-feira (21) da semana passada, 18 delas desmaiaram por volta das 15h.
“As alunas desmaiam muito, todos os dias nessa escola e cada vez que isso acontece, os professores nos obrigam a entrar nas turmas, o mais preocupante é que a direção da escola mesmo sabendo do assunto nunca fala nada, então nós acabamos ficando sufocados com essa situação,” comenta a aluna Neima Marcelino, que frequenta a 8ª classe.
E Flora Armando, de 16 anos de idade, aluna da 8ª classe, contou que “vejo minhas colegas a caírem, até que nos primeiros dias, pensei que fossem brincadeiras, mas há um dia em que carreguei uma pessoa que caiu, sem me aperceber que a pessoa teria desmaiado, agora tenho medo de ajudar a levar elas para casa, há meninas que quando desmaiam, basta despertar levantam e começam a bater nas pessoas com qualquer coisa”.
Solene Jamal, também aluno da 8ªclasse, disse que “vejo muitas alunas que desmaiam, sobretudo as de 8ª e 9ª classes, a causa principal não sabemos, só temos visto que muitas vezes quando acordam, levam faca, garrafa, pedras, bambus e outros objectos para nos bater, mesmo na presença dos nossos professores. Eles ficam a sussurrar, por exemplo, na semana passada os professores ficaram reunidos, não sei do que se tratava, mas vimos muitas alunas a caírem, por isso suspeitamos que eles sabem o que está a acontecer”.
Devido a situação, pais e encarregados de educação temem levar seus filhos a escola.
Alguns pais e encarregados de educação da Escola Básica de Muthita, mostram-se preocupados com a situação de desmaios das suas educandas e de tanto temer, já consideram tirar seus petizes daquele estabelecimento de ensino e aprendizagem, com medo de serem as próximas vítimas.
“Tenho duas sobrinhas aqui, são das alunas que também caiem, basta chegarem aqui na escola, até agora não sei donde sai a causa, assim fico com medo de trazer minhas filhas na escola, com medo de serem as próximas vítimas,” contou dona Sicília, encarregada de educação.
A mesma opinião é partilhada por Maria Fábio, também encarregada de educação. “Não sei o que realmente está a acontecer, pelo menos se falassem o que realmente faz com que elas caiam, mas não é o que tem acontecido, só explicam que ficam com tonturas e dor de cabeça”.
“É só lamentar, o que realmente está a acontecer com as nossas alunas, tenho uma vizinha que a filha também caiu, desde ano passado até agora cai, assim a mãe não sabe o que fazer. Nós que somos mães, não sabemos onde vai terminar, uma vez que muitas das vezes estamos nos nossos negócios a vender, para dar de comer os nossos filhos e ajudar com as despesas da escola,” disse Alina Samuel, também encarregada de educação.
O que diz a direção da Escola?
O Ikweli entrou em contacto com a direção da Escola Básica de Muthita, no sentido de obter mais informações e a directora daquele estabelecimento de ensino. Numa clara demonstração de total negação de cooperar com a imprensa, disse que “eu como directora vim apenas trabalhar, as crianças saem das suas casas, o que acontece aqui não é da responsabilidade da direção da escola, isso é um fenômeno natural e nós não sabemos o que se deve fazer. Estamos a acompanhar sim, como qualquer outra pessoa, então nós não sabemos da causa e não é só dessa escola que acontece”.
Por outro lado, ela criticou a presença da imprensa naquela escola. “A senhora não sei o que vinha procurar nessa escola, porque que a jornalista pensou em vir nessa escola? Isso também acontece em outras escolas, então nós não estamos autorizados a ceder informações, sem autorização da Direção Distrital de Educação, Tecnologia e Juventude”.
A posição da AMETRAMO
Evaristo Muhano, presidente provincial da AMETRAMO [Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique], em Nampula, defende que casos de desmaios acontecem nas escolas devido a ignorância das direções das escolas, alegadamente por não estarem a colaborar com a medicina tradicional.
“Isso tem acontecido nas escolas por causa de espíritos malignos que ficam dentro dos recintos das escolas, para isso terminar, deve haver um tratamento espiritual, mas os diretores das escolas não colaboram com a medicina tradicional, e afecta mais as mulheres, porque esses espíritos querem as mulheres, não nós homens,” concluiu. (Virgínia Emília)