Nampula (IKWELI) – O consumo e tráfico de drogas constitui um problema global, sendo que até 2022 mais de 292 milhões de pessoas consumiram alguma substância psicotrópica no mundo, um aumento de 20% quando comparado com a década anterior.
A canábis continua a ser a droga mais consumida em todo o mundo, com 228 milhões de usuários, seguida dos opioides com 60 milhões, das anfetaminas 30 milhões, da cocaína com 23 milhões e ectasy com 20 milhões de usuários.
Em Moçambique, os jovens lideram entre os consumidores mais activos das substâncias, facto que alguns âncoram aos diversos desafios que enfrentam para ter um emprego, residência, etc.
O Ikweli visitou alguns bairros periféricos da cidade de Nampula, província moçambicana com o mesmo nome, onde constatou que o consumo excessivo e tráfico de drogas é tido como diversão por parte de adolescentes e jovens, incluindo mulheres que muitas vezes se distanciavam do cenário real.
São na sua maioria adolescentes e jovens, com idades que variam entre os 15 e 25 anos que abandonaram os estudos, familiares, empregos e outras actividades, para se envolver no mundo das drogas.
Entre os bairros que lideram no uso de estupefacientes, menciona-se Namicopo, Muahivire, Carrupeia, Murrapaniua, Mutauanha, zona da Rex, Nampaco, Namiepe, Namutequeliua, Napipine, zona Militar, alguns estabelecimentos de ensino e aprendizagem e centros de comercialização no mercado grossista do Waresta.
A directora do Gabinete Provincial de Combate à Droga (GPCD), Isabel Sanfins Alberto, revela que os casos de pessoas envolvidas no consumo e tráfico de drogas tem estado a registar alguma redução no presente ano.
“Na província de Nampula, tendem a reduzir os casos. De janeiro a setembro de 2024, tivemos 697 usuários de droga que tiveram acesso ao tratamento no centro de saúde mental. Para 2023, tivemos 3.986, 2021 tivemos 840 usuários de drogas registados, 2022 foi o ano com mais casos porque tivemos 4.489 casos, 2020 tivemos 668 casos e 2019 tivemos 881”.
Em termos de quantidades nos últimos anos, a chefe da pasta do GPCD diz que a canábis sativa sai na frente quando comparada com outras drogas, “no caso da heroína ao longo de 2024, a quantidade foi de 124 quilos, canábis sativa 505.9 quilos. Em 2023 tivemos 2.5 quilos de metanfetamina. A cada ano os números tendem a subir ou descer e apesar desses números ilustrarem uma redução em termos de pessoas a usarem drogas, não significa que a redução é significativa para a província de Nampula”.
Nesta senda, a directora do GPCD declarou que o álcool continua sendo a droga mais consumida a nível da província e que “é uma das drogas que faz com que muitos procurem tratamento a nível dos centros de saúde mental. Temos também mistura de drogas como heroína e canábis sativa”.
Isabel Sanfins acrescentou ainda que “os distritos mais vulneráveis, estamos a falar de Ilha de Moçambique, Monapo, Angoche, Ribáuè, Murrupula e Nacala”, referindo que a “nossa província é tida como um corredor preferencial do tráfico e consumo de droga. Muitas famílias não conseguem denunciar quando um dos membros é usuário, então devido a esses medos, não teremos como reduzir os casos, tendo em conta que a maior faixa etária do consumo de droga é de 21 a 25 e são do sexo masculino. Um dos factores que contribuí para os jovens aderirem ao consumo de drogas, é a falta de emprego, companhia de amigos, problemas familiares e amizades”.
Nampula como um corredor de drogas…
A porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) em Nampula, Enina Tsinine, diz que a situação da droga na província de Nampula é preocupante, uma vez que a capital do Norte é usada como um corredor.
“O tráfico, em particular, é uma situação de extrema preocupação para província de Nampula, visto que temos a mesma que é tida como um corredor e receptor de droga vindo do exterior a partir do mar ao continente, depois vai se fazendo a distribuição em pequenas escalas para a província de Nampula, bem como para os países vizinhos. No âmbito do consumo, Nampula não é o consumidor, toda droga que vem do mar é distribuída em escala”, declarou.
Para minimizar a situação e combater a crescente rede tráfico de drogas na província, Tsinine declara que o país precisaria de embarcações, coisa que no momento não dispõe, no sentido de “actuar nas vias marítimas, mas não temos embarcações, se o SERNIC tivesse consigo meios marítimos, poderia facilitar, porque do mesmo jeito que fazemos patrulhamento nas zonas costeiras, faríamos no alto mar”.
Tsinine acrescenta que nos últimos 9 meses do ano em curso, houve uma redução em relação ao período anterior. “Tivemos uma redução em termos de apreensões de droga, se formos a comparar com os outros anos, este ano tivemos apreensões num número de duas, onde a primeira foi de 488 quilogramas de canábis sativa de fabrico swazi e tivemos a recente que foi de 39 embalagens totalizando 50.8 quilogramas que foi de metanfetamina e anfetamina. Em comparação com o ano passado, tivemos um número elevado em termo de apreensões, isto porque no ano passado só fizemos apreensão de drogas sintética 400kg e depois 500kg, totalizando 900, 623 quilogramas de canábis sativa e trabalhamos nos locais que são chamados de boca de fumo, onde foi possível desativar 10 casas de venda de droga”.
Na ocasião, a fonte apelou aos pais e encarregados de educação a não mandarem seus filhos fazer compra de drogas ilícitas e licitas, anotando que “no ano passado, mês de novembro, fizemos a detenção de um número de 11 estudantes do ensino secundário das escolas privadas e públicas que eram consumidores de drogas, alguns deles encontram-se neste momento a fazer acompanhamento médico, então apelamos aos pais e encarregados de educação a não mandarem as crianças para fazer comprar de drogas ilícitas e licitas”.
O Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, através da porta-voz, Rosa Chaúque, fala de pelo menos 5 casos de detenções ligados ao consumo e tráfico de droga. “Temos trabalhado com os líderes comunitários com vista a sensibilização e apelo para os jovens que tendem a engrenar nesse caminho. Temos o registo de 5 casos a nível da província de Nampula, onde foi possível a detenção de 14 indivíduos que se dedicavam a venda e consumo de drogas do tipo canábis sativa, heroína e cocaína. A faixa etária que temos verificado é dos 18 a 26 anos de idade, o que significa que temos tido registo de mais jovens envolvidos nestes casos criminais”.
A quebra da estrutura familiar na origem da entrega ao mundo das drogas…
A psicóloga Lourdes Manhiça equaciona a quebra da estrutura familiar, gerada muitas vezes pela separação dos pais como um dos condimentos essenciais para a entrega de jovens e adolescentes ao mundo das drogas. “Um dos exemplos que posso dar, é de alguém que teve seus pais separados, então por conta de laços familiares, faz com que a criança se sinta rejeitada, por isso entra no mundo das drogas e como consequência abandona os estudos”.
Para a psicóloga, o consumo de drogas traz diversas consequências para os usuários e para a sociedade de forma geral. “Isso acaba com o desencadeamento de saúde mental como a depressão, stresses, ansiedade, problemas de coração, entre outros. Para a sociedade é a questão do desenvolvimento elevado da delinquência juvenil, agressividade, receio social, que acaba prejudicando a todos”. (Virgínia Emília)