Nampula (IKWELI) – Alguns comerciantes de Nampula têm expressado crescente preocupação com a actuação de jovens nas manifestações, afirmando que uma parcela significativa estaria se juntando aos protestos não por motivação de cidadania ou política, mas com o intuito de furtar bens.
Essa opinião, embora não unânime, tem ganhado força entre os cidadãos mais velhos da cidade.
Tomé Alfredo, um comerciante local, é um dos que defende esta posição, tendo testemunhado um roubo na sua banca durante a manifestação da última segunda-feira (21). “Eu entendo que os jovens estão frustrados, mas muitos aproveitam o caos para roubar. Isso descredibiliza as verdadeiras demandas da população”, disse o comerciante de 42 anos.
Hélio Omar, de 29 anos, é também comerciante no pequeno mercado da Sipal e contou a sua experiência na manifestação da última segunda-feira. “Eu estava aqui a vender quando vieram alguns jovens e recolheram alguns produtos alimentares. Vendo o número dos jovens, fiquei calado, eles vinham mesmo com o objectivo de roubar, porque vinham outros com plásticos e outros com pastas”.
Esta experiência foi vivenciada, também, por Madalena, vendedora informal, que teve sua mercadoria brutalmente arrancada pelos jovens na manifestação. “Na última manifestação, tive meus bolos roubados até baldes levaram, o pior é que levaram a força e por tentar negar, quase fui agredida”.
Joana contou a nossa equipa de reportagem que ontem [quarta-feira] viu alguns jovens no “chapa-100” fazendo planos para furtar alguns bens, enquanto outros se distraem com as manifestações. “Quando estava a caminho da minha residência ontem, ouvi alguns jovens que estavam no mesmo chapa-100 que eu, fazendo planos para furtar motorizadas, enquanto outros estão ocupados com a marcha”.
Ezequiel Anastácio, vendedor de pão, relata que também foi vítima de saques durante uma manifestação. “Estava vendendo normalmente quando vi um grupo de jovens a se aproximar da minha banca, eles levaram o cesto de pão, e não tive tempo de reagir, o que me restou, foi lamentar, porque não sendo dono da mercadoria, o prejuízo sobrou para mim”.
Marcos Carvalho, comerciante, declara que “ao invés de a polícia gastar tempo lutando com o povo, devia prestar mais atenção nesses pequenos detalhes, porque lá perdem-se telefones, dinheiro e muitas outras coisas por conta da agitação, o foco não é controlar o bolso ou pasta, mas sim salvar a sua pele, o que é muito fácil para os jovens roubarem”.
Entretanto, alguns jovens têm outro entendimento. “Estamos lutando por nossos direitos, por um futuro melhor. Não somos todos criminosos”, defenderam.
A situação em Nampula continua tensa, com novas manifestações previstas para os próximos dias, e as autoridades tentando equilibrar o direito à manifestação pacífica com a necessidade de proteger a ordem pública e a propriedade privada. (Ruth Lemax)