Nampula (IKWELI) – O bairro de Namicopo, nos arredores da cidade de Nampula e tido como o mais populoso do país, estás a braços com o fenómeno da erosão, que ameaça deixar ao relento mais de 140 famílias.
Esta situação, que também ameaça infra-estruturas económicas e sociais, como postes de transporte de energia eléctrica, agudiza-se, sobretudo, na época chuvosa e que em Nampula já está a dar sinais preocupantes nos últimos dias.
Igualmente, as vias de acesso acentuam a sua degradação, dificultando a livre circulação de pessoas e bens.
Isabel Luís, idosa e moradora do bairro, teve sua casa destruída recentemente e agora depende da ajuda da família para sobreviver. “Vi minha casa desmoronar por causa da chuva. Tive que ir morar com minha filha, mas ela também não tem muito espaço. É triste e doloroso perder tudo assim,” desabafa Isabel, que espera ansiosamente por uma solução.
Outros moradores vivem o medo constante de verem suas casas desabarem. Valéria Gomes, que permanece no bairro apesar dos riscos, descreve o desespero, referindo que “a cada dia vejo minha casa degradar-se um pouco mais. Não temos onde ir e não temos dinheiro para comprar uma nova casa. Esse é o nosso lar, e cada chuva que cai é um pesadelo”.
Para Mário António, o impacto da erosão vai além das infra-estruturas. Ele perdeu metade da sua casa e se vê obrigado a improvisar um abrigo para a família. “Não temos condições para mudar. Estamos tentando nos adaptar, mas a cada chuva fica mais difícil”, conta Mário, que teme pelo futuro da sua família.
A situação precária das vias de acesso, também, agrava os riscos para a saúde e segurança dos moradores. Joaquina Simão relembra a dificuldade de buscar atendimento quando sua filha ficou doente. “Minha filha teve febre alta numa noite de chuva, mas nenhum táxi carro queria vir aqui. Ficamos sem escolha e só conseguimos ajuda no dia seguinte”.
O problema não termina aí. Para Mário António, outro residente, a falta de vias seguras é uma preocupação diária. Ele relata que, em uma situação de emergência, os moradores acabam reféns das condições das ruas. “Meu pai teve uma crise respiratória numa noite, e eu tentei buscar ajuda. Os poucos motoristas que consegui contactar se recusaram a vir porque as ruas não estão em condições de andar-se de noite. Fiquei com ele em casa, sem alternativa, até o dia seguinte, quando pudemos levá-lo ao hospital com a ajuda de um vizinho”.
O secretário do quarteirão 14, Ibraimo Anastácio Magalhães, reforça a urgência de uma intervenção para evitar mais tragédias, lembrando um caso recente, em que “uma senhora morreu afogada porque não conseguiu sair de casa durante uma enchente. Precisamos de apoio do governo para melhorar as vias de acesso e consertar os postes de energia que estão a ponto de cair. Esse bairro precisa de infra-estruturas seguras e de uma resposta urgente antes que outra vida seja perdida”.
Além dos postes eléctricos que ameaçam cair a qualquer momento, há um medo constante de novos deslizamentos.
Cátia Dias, que teve a casa parcialmente destruída, vive uma rotina de insegurança. “Se outra tempestade vier, talvez minha casa inteira vá embora. É uma sensação de abandono e impotência”.
A comunidade de Namicopo pede, urgentemente, ajuda governamental para reparar as vias de acesso, reforçar a infraestrutura elétrica e combater a erosão, que avança sem controlo. Para as famílias da região, sem uma acção rápida, o medo e a insegurança se tornam uma realidade cada vez mais presente e insustentável. (Ruth Lemax)