Nampula (IKWELI) – Analistas políticos entendem que o abandono ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, autointitulado “VM7”, demostra que o político tem sido inconsistente com o que defende, na perspectiva de que diz algo e faz outra coisa diferente.
Figuras como Roberto Tibana, economista de elevado gabarito, e o pastor Raul Novinte, são parte dos apoiantes ferrenhos de “VM7” que vieram a terreiro distanciar-se do “homem”.
Alguns pronunciamentos de Mondlane têm sido catastróficos para uma sociedade civilizada, tal como justificou Tibana na sua publicação na rede social Facebook, quando este candidato falou da mulher, colocando-a como um “ser inferior puramente dedicado ao cuidado do homem e a reprodução biológica de força de trabalho”, como também a questão de se introduzir no país a pena de morte como mecanismo de reduzir os índices de corrupção, caso vença as eleições.

O analista político Dércio Alfazema explica que estes acontecimentos podem afectar negativamente a campanha eleitoral do candidato as presidenciais, como também descredibilizar o percurso da figura criada.
Alfazema afirmou que, numa primeira fase, urge a necessidade de haver um questionamento sobre as supostas saídas, visto que algumas renúncias foram feitas por figuras com certa reputação e idoneidade na sociedade que, de alguma forma, davam certa relevância ao partido. No seu entender, por conta dos últimos acontecimentos, tais figuras perceberam que estavam filiados a um projecto político “sem clareza e consistência”.
“Claramente que essas dissidências todas afectam negativamente, não só a campanha, mas também o percurso político do próprio Venâncio, se ele não consegue gerir quatro, cinco intelectuais que estão a volta dele e que são uma mais-valia para ele quiçá para gerir o país todo, porque são pessoas idóneas com mais sensibilidade e maturidade política, mas que talvez não se sentem ouvidas quando falam com o Venâncio”.
Para Alfazema, Venâncio Mondlane não está a conseguir apresentar o seu plano político de forma cronometrada, pois limita-se apenas em “atacar o governo do dia e pouco tempo para se comprometer com o eleitorado sobre aquilo que pretende fazer e como vai governar. Ele tem pouco tempo para fazer campanha para conseguir abranger máximo de eleitorado possível”.

Por outro lado, Palmira Revula, Coordenadora do Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) em Nampula, considera que a renúncia de figuras chave como Raúl Novinte e Roberto Tibana, pode afectar a dinâmica da campanha eleitoral de Venâncio Mondlane, situação vista com grande preocupação pelo CDD, visto que pode contribuir para o surgimento de especulações e dúvidas entre os eleitores.
“Se figuras de peso abandonam a campanha, só pode ser visto como um sinal e instabilidade ou desacordo com a liderança que pode prejudicar a confiança do próprio eleitorado, por outra, temos a questão de perda de credibilidade técnica”, comenta.
Revula avança que a saída de Tibana pode vir a enfraquecer a capacidade de Mondlane apresentar soluções económicas influenciáveis para o país.
“Já que Tibana poderia ter contribuído para dar uma direcção técnica, sólida às propostas do candidato e isso pode abrir espaço para que os adversários o ataquem na campanha sob argumento de falta de competência técnica. Ainda entendemos que essas saídas, igualmente, podem trazer repercussões negativas em relação a questões de unidade e liderança”.
A nossa interlocutora vai mais longe ao afirmar que a desintegração dessas figuras pode sugerir a existência de divisões internas ou desentendimentos sobre a direcção da campanha eleitoral, uma realidade que pode levar a que os eleitores questionem a capacidade de manter sua equipa unida.
“Se estamos a assistir essas figuras a se desintegrarem, isso transparece esse cenário que pode trazer no eleitorado um sentimento de insegurança e desconfiança, porque estamos num contexto em que os moçambicanos acima de tudo estão à procura de um partido ou candidato que realmente possam confiar”.
Enquanto isso, o jornalista e pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), Lázaro Mabunda, explica que a desistência de tais membros pode estar relacionada com alguns princípios morais e éticos que não estão acomodados no projecto de governação de Venâncio Mondlane.
“Se calhar não sabiam quais eram os princípios que norteiam esse projecto e quando descobrem que alguns pontos chocam com a ética e os princípios deles, as pessoas decidem avançar ou abandonar o barco. Mas também há interesses que eventualmente não foram acautelados e neste âmbito, de negociação, não ficou claro o que deve e o que não deve prevalecer e o resultado final é de um choque entre os membros”.
No entanto, Mabunda entende que tais saídas podem não descredibilizar a imagem de “VM7”, por se tratar de um assunto que não está a ter muita repercussão sob ponto de vista mediático.
“Se não tiver um impacto mediático muito forte provavelmente não tenha um impacto maior, mas se esses debates fossem mediáticos ao ponto de alcançar muita gente, claramente que poderia descredibilizar, pois essas pessoas se questionariam o motivo dessas saídas. Acredito que a forma como o PODEMOS e o próprio Venâncio estão a fazer, acaba minimizando essas informações, porque as pessoas estão mais concentradas nesse processo”.
Vale lembrar que, Raúl Novinte, ex-edil de Nacala, foi o primeiro a abandonar a candidatura de Venâncio Mondlane, seguido do delegado do PODEMOS em Tete e, posteriormente e não menos importante, Artemisa Magaia. (Ângela da Fonseca)