Nampula (IKWELI) – A cidade de Nampula, maior centro urbano do norte de Moçambique, celebra nesta quinta-feira (22), o seu 68º aniversário de elevação a esta categoria, a meio de desafios e melhorias na qualidade de vida dos munícipes.
Por exemplo, os comerciantes da cidade manifestam expectativas de melhoria de vias de acesso e criação de oportunidades de emprego para os jovens locais. Os operadores de “táxi-mota” anotam que a melhoria das vias de acesso não apenas ajudaria na imagem da cidade, como também facilitaria na locomoção de pessoas e bens.
Nelson Salvador, de 32 anos de idade, é operador de táxi-mota e conta que a cidade que lhe viu nascer ainda enfrenta diversos desafios, sendo um dos principais a qualidade das vias de acesso.
“Na verdade, a cidade de Nampula tem vários desafios e esperamos mudanças, sendo taxista a minha maior preocupação são as vias de acesso que têm dificultado o meu trabalho’, disse.
Outra necessidade que a cidade tem, na visão de Nelson, são novas oportunidades de emprego, “sendo jovem, o meu maior sonho é a empregabilidade juvenil, que uma vez alcançada fará muita diferença”.
Quitério Bernardo, também residente na urbe, mostra-se feliz com a remoção de lixo e limpeza de estradas que tem vindo a ser feita com cada vez mais frequência. “Uma das mudanças que faz grande diferença, para mim, é a remoção de lixo em certos pontos da cidade e a limpeza frequente das principais vias”.
Além das melhorias esperadas em termo de infraestruturas e vias de acesso, Osvaldo Júlio, outro munícipe e comerciante, queixa-se do elevado nível de vida e aconselha o governo a tomar medidas para ajudar as crianças que vivem na rua.
“Nampula tem vários avanços, tirando o custo de vida que está muito apertado para nós. Embora existam pessoas que conseguem manter-se, o custo de vida está em outros rumos. Esta realidade influencia negativamente o desenvolvimento de inúmeros jovens. Meu outro pedido é que o governo faça algo em relação às crianças que residem nas ruas”.
Adelaide Rosário, vendedeira de comida no mercado da Cavalaria, não esconde a sua indignação dada a subida do preço de produtos de primeira necessidade. “Estou indignada com a subida do preço de farinha de milho e arroz. Peço que o governo faça algo em relação a isso, estamos cansados de sofrer, o custo de vida subiu, trabalhamos e não temos recompensa”.
Isabel Selemane, também empreendedora, afirma que desconhece os 68 anos da cidade de Nampula, alegadamente por não haver melhorias na urbe. “Para mim, esses 68 anos da cidade de Nampula não representam nenhuma melhoria, porque nada está a mudar”.
Por outro lado, Amélia Nelito explicou que “ainda falta muita coisa para o desenvolvimento das estradas, porque este é o principal problema para a cidade de Nampula. Pelo menos a recolha de lixo nas vias públicas e nos bairros estão a acabar, mas o resto nada muda, só para ver que maior parte dos vendedores não tem espaço para exercer o seu trabalho”.
Ramadane Amade, empreendedora, mostrou-se indignada com o estado da cidade de Nampula, alegadamente porque “não é como era quando os antigos governavam. Pelo menos a consideração pelos munícipes existia. Acredito que o novo governo municipal da cidade não se importa com o bem-estar dos munícipes até mesmo da cidade”.
O que dizem os políticos?
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Membros dos partidos Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) entendem que os 68 anos de elevação à categoria de cidade, Nampula ainda enfrenta desafios básicos de saneamento e infraestruturas sociais.
Em entrevista ao Ikweli, Carlos Saíde, da bancada do MDM na Assembleia Municipal, destacou a falta de empreendimentos sociais como hospitais, escolas, bem como vias de acesso e ordenamento territorial nas comunidades e no espaço urbano como principais impasses.
“Um dos desafios é de pontecas nos bairros, a cidade tem também sérios problemas de ordenamento territorial. Esses são os desafios que ainda existem para os 68 anos da elevação a categoria de cidade em Nampula”, disse.
Quanto ao saneamento do meio, Saíde referiu que atividades de sensibilização comunitária devem ser olhadas como ferramenta chave para um ambiente limpo nas comunidades, sem descurar dos deveres do município. “Tem a questão de lixo, mas também isso parte por vezes pela sensibilização dos munícipes, há zonas que não é necessário o conselho municipal ir lá. É só questão de os munícipes começarem a perceber que podem tratar o lixo, principalmente nas comunidades. Já nos centros urbanos é necessário que o município trabalhe mais”.
Saíde disse, ainda, que no que for possível e consensual, o seu partido irá colaborar com o governo municipal. “O que a FRELIMO está a fazer é replica do que o MDM estava a fazer, portanto, o MDM não vai criar dificuldades, mas vai contribuir com o Governo do dia até onde e como puder, para que os munícipes sejam bem servidos”, garantiu.
Por sua vez, Pedro Guitai Casaco, vice-chefe da bancada da RENAMO na Assembleia Provincial entende que os 68 anos são apenas números que devem ser convertidos em trabalho contínuo, em prol do bem-estar do cidadão. “68 anos é uma idade. Já é alguém que está na terceira idade e queremos acreditar que a autarquia possa cumprir com aquilo que prometeu ao longo da campanha alinhado ao plano quinquenal 2023-2028”.
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Entretanto, Geraldo Tarcísio, da bancada da Frelimo na Assembleia Municipal de Nampula, entende que a autarquia “já teve um momento de brilho há alguns anos, mas que depois, com a governação do MDM e da RENAMO a cidade ficou completamente degradada. Nós como bancada da Frelimo, sentimos que o novo executivo tem o desafio de devolver a cidade o brilho e isso já é notável ao nível da autarquia, há muitas realizações”.
Nampula está a “caminhar de muletas”
Alguns académicos e defensores de direitos humanos entrevistados pelo Ikweli comentam que a cidade está em retrocesso, sobretudo porque nestes 68 anos a degradação das vias de acesso acentuou-se e há desordenamento territorial jamais visto.
Aliás, segundo as nossas fontes, a cidade de Nampula cresce paulatinamente graças ao esforço da própria população, justificando-se pelo aumento da taxa de natalidade e habitação em algumas zonas de expansão.
Gamito dos Santos, activista social e defensor dos direitos humanos, aprecia o registo de diversos níveis de desenvolvimento concernentes à habitação, mas esclarece que tudo isso se deve ao esforço da população e não do governo.
“Isso não se deve as políticas do governo, deve-se a adaptação da própria população que de certa maneira, não tem outra opção se não mesmo criar condições que não se baseiam nas políticas do governo. A cidade de Nampula tem vindo a crescer em termos de habitação, mas continua com assentamentos informais, facto que aumenta o número de construções desordenadas nas zonas em expansão e dificulta muitas vezes que em casos de incêndios os bombeiros possam fazer o seu trabalho. É de lamentar, porque, apesar da vantagem, da população procurar novos espaços para viver, temos estas consequências, porque o governo não toma conta e a população vai tentando se ajeitar à sua maneira”.
No diz respeito as vias de acessos, Dos Santos anota que ao nível da autarquia efetivamente não existem estradas, todas são pequenas alternativas que, de certa maneira, visam facilitar a locomoção dos munícipes.
“A nível do centro urbano da cidade é notório que todas estradas já estão esburacadas e quero aproveitar a oportunidade para louvar a iniciativa do conselho municipal de remover o asfalto da avenida Samora Machel, o que já era de esperar, porque questão de tapamento já não funciona. E outro dado, não menos importante, tem questões da rede sanitária que é defeituosa, porque não temos hospitais, não temos água potável para a população e ao nível da urbe, isto é notório porque a população bebe água estagnada e não tratada e o conselho municipal devia traçar novas estratégias para os próximos anos”.
No que toca ao transporte, o activista social disse ser uma grande preocupação para a população e, por isso, o município deveria redesenhar as rotas de acesso. “Nós temos agora na cidade de Nampula apenas três rotas e as mesmas não chegam nas zonas recônditas. Por causa do número limitado de rotas, a população é obrigada a recorrer aos famosos táxi-motas para tapar a lacuna. Precisamos que o conselho municipal resolva a situação redefinindo rotas e colocando chapas noutras. Neste presente momento não temos chapas nas rotas Mutava- Rex e Mualhaco”, disse.
O académico e jurista Bogaio Nhancalaza conta que socialmente um cidadão de 68 anos já não é jovem, tanto é que a cidade de Nampula está numa fase de crescimento muito avançado. A província de Nampula tem um forte potencial na produção agrícola, mas a desnutrição crónica toma conta da população, esta é uma situação que para o académico deve rever-se com máxima urgência.
Voltando-se para os recursos hídricos, o académico disse que a situação de água potável na cidade de Nampula continua um “calcanhar de Aquiles”, porque as fontes do precioso líquido não abrangem a população e exorta o governo municipal a traçar novas estratégias de perfuração da água nas comunidades. “Mesmo o próprio município tem problemas de cobrar as taxas, porque não há negócios regrado na via pública. A falta de água potável é um verdadeiro problema para nossa autarquia e espero que algum dia possamos ultrapassar esse problema”.
Município de Nampula vai apostar na melhoria do saneamento na urbe
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A autarquia chefiada por Luís Giquira, segundo anotam, está na iminência de se transformar num dos mais limpos municípios do país.
Quando da III sessão ordinária da Assembleia Municipal que decorreu entre os dias 20 e 21 do corrente mês, autarca comunicou que nos próximos dias a urbe irá receber 20 contentores que poderão contribuir para a melhoraria da imagem, assim como para questões relacionadas com a higiene da cidade. No entanto, quanto a sua distribuição caberá ao sector de salubridade fazer o mapeamento.
Na ocasião, o autarca assumiu as dificuldades que o município tem vindo a passar para fazer a recolha do lixo, contudo, garantiu que o seu executivo está a envidar esforços com vista a melhorar o saneamento do meio.
“Neste momento, mesmo com dificuldades, temos dois camiões porta-contentores que estão a trabalhar, apesar da exiguidade de contentores. Temos mais dois camiões basculantes que estão a fazer a recolha apesar das dificuldades. Agora penso que vamos melhorar ainda mais”.
Um dos locais considerados críticos está relacionado com o lixo que se encontra acumulado próximo a paróquia de São José, zona conhecida por Matadouro. Para este ponto, Giquira disse que “limpamos a primeira vez e tínhamos colocado uma placa que era proibido deitar o lixo, mas os munícipes continuam a deitar lixo. Agora vamos ver se um dos contentores será alocado àquele local, pois sabemos que aquele espaço se encontra próximo a via pública e está a obstruir a circulação”.
Na mesma sessão, Giquira revelou a pretensão do município de abraçar um projecto relacionado com a construção de um número não revelado de latrinas móveis. “Nós temos visto que muitos munícipes por falta de condições têm urinado em frente às arvores e nós queremos mudar esse tipo de prática e melhorar ainda mais a higiene”. Importa salientar que Nampula é das poucas autarquias que já foi guiada pelos três maiores partidos. (Ângela da Fonseca, José Luís Simão, Malito João, Ruth Lemax e Virgínia Emília)