Na cidade de Nampula: Operadores de táxi-carro consideram que a actividade perdeu o seu espaço

Nampula (IKWELI) – Os operadores tradicionais de táxi automóvel na cidade de Nampula, no norte do país, consideram que a actividade está a perder cada vez mais o seu espaço no mercado, isso porque, os transportadores como “chapa-100” e motorizadas e txopelas açambarcam a clientela.

Sem contar, também, que é cada vez mais notória a circulação de viaturas que são usadas para actividade clandestina de táxi.

Situações como a falta de fiscalização e quantias supostamente elevadas para o licenciamento da actividade, fazem crescer o número de operadores que prosperam de maneira informal, muitas vezes sob olhar impávido das autoridades municipais.

E o cenário só vem a piorar quando a noite cai, pois é nessa altura que os transportadores dos semi-colectivos interrompem a sua actividade.

O Ikweli conversou com alguns operadores de táxi automóvel que, em anonimato, explicaram como tem sido trabalhar nessa área actualmente.

José, nome fictício, disse que decidiu apostar nessa actividade quando perdeu o emprego.

Na área há quatro anos, José contou que aquando do início das actividades a “bonança era tanta”, que até chegou a construir a sua própria residência.

Sem revelar a receita diária, José garantiu que na altura o negócio era rentável, “na altura era um bom trabalho, conseguíamos dinheiro para tudo. Mas agora, torna-se difícil porque há muitos operadores na área, não só de carro, mas mota e chapa-100”.

Miguel, taxista há três anos, disse que entrou na área para sustentar a sua família, visto que para ele o mercado do emprego estava a mostrar-se cada vez mais fechado.

Diferente do José, Miguel fez saber ao Ikweli que consegue em média 1.000,00Mt (mil meticais) a 1.500,00Mt (mil e quinhentos meticais) por dia, para alimentar a sua família. Um valor que antes era considerado ínfimo para suprir as despesas de casa, bem como da manutenção da viatura.

“Mas isso acontece porque já não temos muita clientela. As pessoas correm mais para chapa-100 e motorizadas”.

Arlindo diz que “caiu de para-quedas” na actividade, isso porque, tentou encaixar-se em diferentes áreas do trabalho, mas sem sucesso, por isso decidiu olhar para a sua viatura como fonte para o sustento da família.

“Há muita dificuldade em tudo, a partir de negócios, emprego tudo está fechado. Na verdade, eu só me vi a estar a trabalhar como taxista. Agradeço porque consigo o pão de cada dia para os meus filhos, porque é uma actividade que nos últimos tempos não é rentável, mas antigamente fazia-se projectos com esse trabalho, a pessoa podia crescer fazendo esse trabalho, só há dinheiro para não deixar de acender fogão em casa”.

As altas taxas e clandestinidade

Um denominador comum entrecruza os nossos entrevistados, o mesmo está relacionado com a falta de documentos para operar legalmente, sendo que para obter a licença são exigidos fotocópia do livrete, assim como o título de propriedade da viatura, é igualmente obrigatório que a viatura tenha seguro, e um pagamento referente há 4.000,00Mt (quatro mil meticais), pintura do carro, e o processo para o licenciamento deve ser feito anualmente.

Esse tem sido um dos motivos que leva os operadores a não licenciar a actividade, por considerarem, que os requisitos são exagerados.

E justificam ainda que a falta de movimento contribui para que os mesmos não o façam.

Os nossos interlocutores afirmam, ainda, que as taxas exigidas pelo Conselho Autárquico da Cidade de Nampula para a regularização da actividade são elevadas, por isso, pedem ao executivo para que reduza o valor.

“Eles devem olhar que a situação não está nada boa para nós aqui fora, por isso, deviam reduzir os valores das taxas, porque isso é que está a fazer com que as pessoas não consigam aderir aos pagamentos. Hoje em dia o negócio está muito baixo e quando trazem as taxas elevadas fica difícil, porque também estamos a trabalhar para pagar alimentação dos nossos filhos e tirar o mesmo valor para pagar as taxas é impossível. Baixem as taxas e o pouco que nós conseguirmos, saberemos que temos que pagar”, disse José.

Os operadores afirmam que são exigidos vários documentos, de tal sorte que o valor chega a atingir a casa dos 15.000,00Mt (quinze mil meticais).

“Quando vais ao município dizem que são quatro mil meticais, mas na verdade esse valor ultrapassa, porque somemos exigidos mil a dois mil para declaração na ASTRA”.

Um outro ponto é que os taxistas querem que o executivo retire a obrigatoriedade da pintura das viaturas, porque segundo eles, o método não tem sido muito viável, visto que algumas vezes são contratados para viagens interdistritais.

“Pedimos que nos deixassem apenas com o reclame para a identificação das viaturas, porque há clientes, por exemplo, que querem ir à Ilha [de Moçambique] ou outros pontos e o nosso raio não nos permite que façamos essas deslocações, porque táxi é só para cidade de Nampula, por outro lado, com a pintura amarela fica complicado porque quando somos encontrados no controlo somos multados”.

 Município vai apertar cerco aos “taxistas piratas”

De acordo com dados fornecidos pelo Conselho Municipal, a cidade de Nampula tem registado um total de 107 táxis de passageiros, desse número apenas 26 estão a exercer a actividade de forma legal.

Uma situação que, para o vereador da área dos Transportes, Comunicação e Tecnologia no município de Nampula, Carlos Furumula, é lamentável e preocupante. Neste momento decorrem trabalhos de investigação, legalização das praças, bem como a difusão de mensagens de sensibilização para que os mesmos regularizem a actividade.

Carlos Furumula, Vereador dos Transportes e Comunicações

“Estamos a fazer a sensibilização dos taxistas para poderem fazer o registo, terem as devidas licenças da tal actividade e ter uma identificação que é a pintura da parte superior da viatura para melhor identificação dos munícipes, isso porque notamos que, nem todos os táxis que operam dentro da nossa cidade tem o licenciamento, temos que mostrar aos taxistas que a situação mudou”.

Assim, Furumula apelou aos operadores para aderir ao processo de licenciamento pois a partir do dia 20 o cenário irá mudar.

“O conselho municipal pede e apela aos operadores a colaborar para que possamos ter boas relações, aproximem-se ao departamento dos transportes para o licenciamento das suas actividades”.

Importa referir que, até ao momento a cidade de Nampula tem o registo de 12 praças. (Ângela da Fonseca)

 

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