Nampula (IKWELI) – Algumas mulheres agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, mostram-se firmes em garantir a segurança e tranquilidade públicas no país, mesmo com ameaças e intimidações que tem vindo a receber de alguns malfeitores durante as suas missões (trabalhos de patrulhamento).
É sabido que nos últimos tempos, os agentes da lei e ordem tem sido alvos de perseguições e ataques que culminam em assassinatos.
Recentemente, a província de Nampula assistiu três casos de agentes que caíram subitamente nas mãos de supostos meliantes quando encontravam-se nos seus locais de trabalho nos distritos de Nacala, Meconta e Mogovolas.
Na presente edição, o Ikweli relata histórias de algumas mulheres agentes da PRM que partilharam episódios considerados desafiadores.
Tal cenário, não amedronta Teresa Nicorropale, Inspetora Principal da PRM, de 43 anos de idade, que durante os seus 22 anos de serviço enfrentou vários desafios no terreno com o maior inimigo, o “malfeitor”.
Teresa decidiu entrar para as fileiras numa altura em que o ramo da polícia era considerado como espaço único para os homens e a presença das mulheres era visto como um tabu.

“Desde pequena foi meu sonho vestir a farda, uma escolha difícil para os meus pais, mas graças a Deus eles apoiaram-me. Quando entrei éramos 13 mulheres num universo de mais de mil homens”, por isso diz ter vivido momentos de terror, tudo porque decidiu lutar pelo garante da ordem e tranquilidade do seu país.
Um dos episódios marcantes deu-se em 2006 quando avistou um grupo de jovens que tentavam furtar uma chapa de inscrição de uma motorizada na zona conhecida por Cavalaria.
Na altura, Teresa não estava de serviço, mas ainda sim, fez chegar a informação aos agentes que se encontravam a trabalhar no dia, com o fim único de detê-los. Entretanto, mal sabia ela que estava a cometer o maior erro da sua vida, pois, o agente a quem deu informe era parte integrante da quadrilha.
A história confunde-se com um filme de acção, pois entre ameaças e perseguições Teresa chegou a parar numa sala de reanimação, o pior só não aconteceu porque Deus foi o seu anjo da guarda.
“Eu não sabia que o agente era também conivente, desde aquele dia passei a sofrer perseguições, por duas vezes tentaram me assaltar, mas sem sucesso, só na terceira vez é que conseguiram. Lembro-me que foi no dia 23 de Dezembro de 2006, por volta das 17 horas, na altura apertaram-me o pescoço e recordaram-me do dia em que informei a um dos colegas sobre o roubo de uma matrícula e disseram: você não sabe que comemos juntos? estamos a te informar porque hoje é teu último dia de vida”.
Na altura os meliantes, no número de 6, traziam consigo instrumentos contundentes, mas Teresa lutou. “Peguei num sítio impróprio de um dos homens e ele caiu, no momento fui batida na cabeça com um objecto pesado, cai e me lembro de ter acordado na sala de reanimação com um dos malfeitores, aquele que coloquei em baixo”.
Diligências foram feitas pela antiga Polícia de Investigação Criminal, actual SERNIC, tendo culminado com a captura de outra parte da quadrilha.
“Na altura tive muito medo de expor o tal colega, porque essa coisa de eu dizer a verdade coloca em causa a minha segurança, mas no fim contei toda situação ao dirigente provincial, na altura era o Francisco Vontade e felizmente o colega foi expulso e está fora da corporação. O caso seguiu e foram condenados a 16 anos de prisão”.
Tal episódio despertou nela a vontade de continuar a combater o crime. Teresa Nicorropale chama atenção aos agentes que se filiam na corporação com objectivos obscuros que mancham a polícia.
“Nem todos polícias entram na corporação para garantir a tranquilidade e segurança públicas, existem os que entram e se alinham a criminalidade e isso é um problema muito sério, porque as vezes nós outros que estamos determinados em defender a pátria não sabemos se o outro está no mesmo barco e, aí são dois riscos que corremos, com o malfeitor e com o agente que não está para o foco principal. E isso é um dos maiores impasses que desafia sempre a corporação. O trabalho da polícia é muito bom”.
Tão bom que, Mariana Zeca, de 46 anos de idade, agente Reguladora de Trânsito há 10 anos, entrou na corporação porque sempre teve ambição de ser uma mulher polícia.
Após o período de formação, Mariana foi enquadrada na 2ª esquadra como patrulheira por um ano, pouco tempo depois lhe foi incumbida a missão de trabalhar como telefonista na sala de operações durante cinco anos.

Alguns anos mais tarde lhe foi dada a proposta de trabalhar como agente reguladora de Trânsito.
Recuemos a fita, Mariana revelou ao Ikweli que, quando decidiu integrar a fileira não teve de primeira o apoio total do seu parceiro, isso porque o mesmo não permitia que a esposa fosse policia tal como ele.
“O meu companheiro não queria que eu fosse polícia, ele dizia mulher eu gosto muito de ti, prefiro que você abrace outras áreas, mas eu fui persistente, fui me inscrever, vendo ele que a decisão era aquela passou a me apoiar. Fui treinar, voltei e agora somos dois polícias em casa”.
Mariana Zeca decide embarcar para ser reguladora numa altura em que os agentes são, diariamente, tentados por condutores considerados “indisciplinados”.
“A PRM em geral tem como desafios garantir o combate da criminalidade, falando da minha área de reguladora de trânsito, não tem sido fácil interagir com os automobilistas, porque eles não acreditam nas competências de uma mulher”.
Como reguladora, não escapou de comportamentos e tentações de certos condutores que procuram subornar as autoridades para escapar das suas responsabilidades.
“Num belo dia, no posto número 03, mandei parar um condutor e antes de eu me fazer a ele, o mesmo já vinha até mim com uma nota de 200,00Mt (duzentos meticais) que estava dentro do livrete, quando questionei o motivo, apenas disse que era uma oferta, levei o dinheiro e entreguei o chefe do posto, no momento o meu chefe disse a ele que seria algemado por estar a cometer o crime de corrupção activa, ligamos para o nosso departamento que de imediato apareceu e levou-lhe a cela”.
Mesmo com essa tentativa de suborno, Zeca manteve-se firme na missão pois encara como um desafio que deve ser ultrapassado, visto que muitas vezes coloca em causa a credibilidade dos agentes reguladores de Trânsito.
De 26 anos de idade, Fátima Saene, Oficial de Protocolo da PRM, conta que nesses três anos de trabalho enfrentou diversos desafios. O primeiro deles deu-se no processo de estágio quando no primeiro dia de afectação provisória, deparou-se com um cenário de filme.
Tudo isso porque, em uma das incursões de patrulhamento, ela e o seu colega depararam-se com um cidadão a altas horas e, por ser tarde, decidiram encaminhar a esquadra, no entanto, sem que eles se apercebessem, o suposto meliante alertou os outros membros do grupo via mensagem.
“O jovem estava grosso. Na altura em que lhe direcionávamos a esquadra, o cidadão mandou SMS para os amigos e de repente vimos pessoas a lançarem pedras e garrafas, na altura o jovem fugiu e o meu colega mandou-me disparar e eu não acatei as ordens de atirar”.
Um cenário que, por alguns instantes, faria Fátima desistir do sonho de ser polícia, mas os conselhos e o consolo de sua mãe fizeram com que não abrisse a mão.
No jogo da profissão, Fátima afirma que a polícia enfrenta diariamente momentos difíceis, por isso, chama a razão a demais mulheres da corporação e as que pretendem entrar a ter muita coragem.
“Na polícia temos muitas perseguições, é um desafio muito grande, mas temos que ser fortes e corajosas”.
Já Rosa Chaúque, Porta-voz da PRM, explicou que entrou para as fileiras porque seu maior desejo sempre foi ajudar os outros, tanto é que quis ser advogada, mas o destino atirou-lhe na polícia para garantir a ordem.
Por forma a manter sua família segura de situações de perseguições, Chaúque sublinhou que busca socializá-los mais sobre o seu trabalho para que estejam mais atentos.

“Para garantir a minha segurança e da minha família, procuro familiarizar a eles sobre o meu trabalho. Como polícia tento me manter fora de situações que perigam a nossa segurança. para garantir a nossa segurança é preciso que estejamos atentas as pessoas que nos rodeiam”.
Sendo polícia nunca lhe faltam momentos de medo, pelo facto de alguns malfeitores olharem para os agentes da PRM como inimigos, porque, “há malfeitores que fixam a sua cara e por ser polícia pensam que estás incluso na resolução daquele problema e já começam a levar ódio ou a criar situações de perseguição. É preciso se basear naquilo que é de lei, os procedimentos policiais para evitar que situações dessas venham acontecer”. (Ângela da Fonseca)