Deslocados internos denunciam impedimentos para recensear-se em Nampula

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Nampula (IKWELI) – Alguns deslocados em consequência do terrorismo que ocorre em Cabo Delgado denunciam estar a enfrentar dificuldades para recensear-se na cidade de Nampula, por alegadamente não disporem de documentos.

Trata-se de documento que, segundo apuramos, os deslocados perderam quando fugiam da violência terrorista em Cabo Delgado, e quando chegarem a cidade de Nampula, alguns, por falta de condições não conseguiram recuperar.

Na falta dessa documentação, os deslocados são obrigados a pagar aos brigadistas para se recensear, segundo apuramos na zona de Mutava Rex, os quais referem que a situação está a contribuir para que deslocados estejam desmotivados para participar do processo.

Modesta Amisse, deslocada, de 48 anos de idade, disse que ainda não se fez presente posto de recenseamento na sua zona porque não porta documentos necessários para tal.

Violeta, de 29 anos, é outra que não se recenseou por não ter documentos de identificação. “Não fiz o recenseamento eleitoral por falta de documentação, mas não é apenas isso que me fez não recensear, ouvi também que aqui na zona existem alguns brigadistas que cobram valor de 100,00Mt (cem meticais) para nós que não temos documento e somos deslocados”.

Violeta disse ao Ikweli que na sua casa vive com mais quatros pessoas em idade escolar que, até ao momento, não se recensearam porque não têm nem documento nem dinheiro para pagar.

Outra preocupação dos deslocados, principalmente as mulheres, que se dirigem aos postos de recenseamento, tem a ver com o preconceito quando pretendem recensear-se devidos as diferenças da língua e a falta de documentos.

Embora Zainabo tenha se recenseado, ela afirma ter enfrentado preconceito e algumas tentativas de limitação para se recensear.

Recentemente, numa conferência de imprensa de avaliação do processo eleitoral, o director Provincial do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) em Nampula, Luís Cavalo, fez saber que a instituição que dirige já criou condições necessárias no sentido de garantir que todos deslocados oriundos da província de Cabo Delgado, estejam recenseados, nos locais onde estão acolhidos.

Luís Cavalo disse que no distrito de Eráti, por exemplo, que recebeu recentemente deslocados vindo do distrito de Chiure, foi necessário adicionar  material para fazer face ao número da população eleitora.

O dirigente daquele órgão eleitoral terminou deixando apelos a todos potenciais eleitores de que “o cartão de recenseamento eleitoral não pode ser visto como um negócio, por isso que há necessidade de vigilância de toda e qualquer tentativa de cobrança para aquisição do cartão e deve ser denunciada, e aproveitamos neste momento para pedir a toda população para poder se recensear”.

Postos continuam as moscas na cidade de Nampula

O Ikweli visitou alguns postos de recenseamento eleitoral, nos arredores da cidade de Nampula, tendo constatado fraca adesão de eleitores. Trata-se dos postos instalados nas Escolas Primárias e Completa de Namicopo sede, Mutauanha, Cerâmica, ADEMO e 7 de Abril.

Alguns brigadistas e supervisores, entrevistados, mostraram-se preocupados com a situação, mas justificam que tal pode estar relacionado ao facto de uma parte significativa de pessoas ter-se recenseado no ano passado.

De acordo com Alberto de Nascimento Rosário, supervisor da brigada 14, na Escola Primária e Completa de Mutauanha, “na verdade este ano, há fraca aderência de eleitores, principalmente nessa escola, nesses últimos dias, mas acredito que no ano passado maior número de eleitores teve oportunidade de recenseamento. Agora este ano, muitos deles são aqueles que perderam o seu cartão, então pretendem recuperar, aqueles jovens que completaram 18 anos neste ano, o processo está num ritmo normal”.

A fonte acrescentou que, nos primeiros dias, era possível recensear, um número compreendido de 40 eleitores por dia, mas nestas últimas semanas trabalhamos com um número de 20 eleitores por dia, o que para ele é preocupante.

Mas alguns eleitores dizem que a morosidade no atendimento leva muitos eleitores a abandonarem as filas de recenseamento para darem segmento a outras actividades.

Marlene Eusébio, eleitora, disse ao Ikweli que apesar da fila ter poucos eleitores, estava há quase duas horas sem poder recensear-se porque os brigadistas eram lentos.

“Aqui demoram muito, por isso muitos que vinham recensear já foram. Eu cheguei aqui as 7 horas, mas até as 9h não consegui recensear”, anotou esta nossa fonte. (Malito João, Ruth Lemax e Virgínia Emília)

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