Nampula (IKWELI) – Perto de 500 mulheres, de todas as províncias do país, discutem, em um evento híbrido, as estratégias da sua participação efectiva em todas as etapas do processo eleitoral, incluindo a apresentação de candidaturas a cargos políticos de liderança e observadoras.
Trata-se de um evento organizado pelas organizações feministas nacionais, em parceria com a Organização das Nações Unidas para as Mulheres (ONU Mulheres), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), em que as mulheres pretendem influenciar a inclusão das suas necessidades e prioridades de desenvolvimento nas agendas de governação.
O evento acontece às portas das eleições gerais agendadas para 9 de outubro próximo, e numa altura em que o país deu passos significativos na garantia da equidade de gênero, estando, por exemplo, no 3º lugar na representação de mulheres na Assembleia Nacional ao nível da SADC e em 5º lugar no mesmo nível, na União Africana.
Além disso, de acordo com as organizações feministas, o país alcançou o desejado 50/50 no poder executivo, o que significa que há 50% de mulheres no governo, isto é, ministras, desde 2022. E, igualmente, progrediu na promoção da igualdade de género e no empoderamento das mulheres por meio de instrumentos legais.
Entretanto, trata-se de realizações que ainda são pouco visíveis ao nível da base, considera Cecília Cune, directora executiva da Associação de Mulheres Viúvas Teresa Grigolini, a qual nota com preocupação a falta de vontade política dos partidos políticos em confiarem efetivamente nas mulheres. “O que nós notamos, por exemplo ao nível da Assembleia da República, é que as mulheres que ocupam as bancadas estão lá como se não tivessem sido eleitas, elas são indigitadas para estar lá e isso nos inquieta. Porquê é que ela não aparece como alguém que foi eleita em pé de igualdade com os homens? Nós precisamos ver as mulheres nesses órgãos a discutirem as agendas de desenvolvimento e não estar só para aumentar o número. Nós precisamos ver as mulheres a falarem sobre a vida política, econômica e social do país”.
Para Cecília, isso resulta dos factores culturais e religiosos, em que a mulher é considerada como alguém que não pode ser exposta ou dar sua opinião. “Aquela criação que nós temos, que as mulheres não podem participar nos espaços públicos, não têm voz diante dos homens cresce connosco e na vida adulta a mulher não está em condições. Então, neste momento, queremos dizer a mulher que você pode, você é capaz, independentemente da cultura e religião”.
Por seu lado, Marlene Julane, Oficial de Programas da Associação Moçambicana de Mulheres e de Apoio a Raparigas( Ophenta), disse que “o facto de as mulheres serem as que mais se mobilizam para as campanhas, votação, isto não se traduz necessariamente em ocupar cargos de tomada de decisão”.
Para ela, falar de mulheres e eleições constitui uma forma de chamar atenção da sociedade e dos partidos políticos a valorizarem o papel da mulher nesses processos, particularmente nestas eleições de 2024.
O encontro sobre mulheres e eleições poderá culminar com a elaboração de uma declaração, documento do qual, segundo Marlene, as mulheres vão manifestar a sua posição sobre o que querem como mensagens nas campanhas, apelar para que estás não sejam apenas usadas somente para mobilizar massas nas campanhas, mas que também sejam confiadas para ocupar posições de relevo.
“Quando falamos de mulheres não falamos de uma ou duas, estamos a falar de colectivo de mulheres para que estás possam fazer uma campanha que reflita os interesses das mulheres. Que o manifesto dos partidos políticos reflita o interessante das mulheres, que as mulheres possam ser apontadas como candidatas e que as mulheres possam se organizar para realizar um processo de observação eleitoral sensível ao gênero”, concluiu Marlene. (Adina Sualehe)