Nampula (IKWELI) – A missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral para Moçambique (SAMIM, na sigla inglesa) vai deixar Cabo Delgado até junho próximo, devido a limitações financeiras, segundo decisão saída da última cimeira extraordinária da troika do Órgão Mais.
Entretanto, analistas entrevistados pelo Ikweli receiam que tal possa dar mais terreno aos terroristas, partindo do pressuposto da fragilidade técnica, logística e material das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas.
Para António Mutoua, director da Solidariedade Moçambique (SoldMoz), essa retirada poderá ser complicada para o país. “Vamos ter dias mais difíceis, porque desempenhava [SAMIM] um grande papel, então com a sua retirada pode ser complicada a vida em Cabo Delgado”.
“Nós, como organização da sociedade civil, achamos que seria muito importante que de um lado os países pudessem encontrar formas de financiamento para os manter, porque a continuarem assim a saída com esta nova onda de ataques nos preocupa muito”, refere Mutoua, que comentando que a retirada dessas forças militares vai comprometer a vida em Cabo Delgado.
“Não sabemos o que poderá acontecer com esta retirada e este é o medo, então as pessoas de boa-fé, as agências internacionais e outras instituições, da mesma maneira que a União Europeia financiou a força ruandesa, pode fazer com a força da SADC, porque está a desempenhar um grande papel neste momento”, apela esta nossa fonte.
É principal preocupação de Mutoua o respeito, valorização e protecção dos direitos humanos no Teatro Operacional Norte (TON). “O nosso receio é violação dos direitos humano, até que ponto os direitos humanos vão ser salvaguardados, a nossa experiência com estas forças foi muito boa, eles completam o equilíbrio de meia estabilidade em Cabo Delgado, quando a força sair vai ser muito complicado e complexo, o nosso apelo é que os países que estão a liderar a missão deviam tentar esforços com as agências para que tivéssemos este tipo de apoio”.
É recomendação de António Mutoua que “não pode ser visto o terrorismo num ângulo moçambicano porque está em Moçambique, a região pode estar mais complicada, se a força ruandesa e da SADC vieram a Moçambique foi para reforçar a nossa capacidade”.
Por seu turno o politólogo Arsénio Cuco entende que a retirada da SAMIM em Cabo Delgado deve ter tido em conta todos os aspectos para a não deterioração das condições de segurança para as comunidades.
“A quando da prorrogação da permanência da SAMIM em Moçambique, no ano passado, deve ter havido um estudo claro sobre está permanência, foram avaliados todos os elementos necessários para que se tivesse determinado como a data do fim da permanência o mês de Julho de 2024”, começa por comentar Cuco, avançando que “desde que a SAMIM chegou a Moçambique, a gente colocou uma série de elementos que acho fundamentais para análise da situação, é o atraso para a vinda das forças da SADC em Moçambique. Lembra-se que houve uma grande confusão no início, talvez seja por isso terá levado o governo de Moçambique a aceitar a chegada dos ruandeses antes da chegada da SAMIM, e isto criou certa confusão entre o governo de Moçambique e o sul-africano, em que apareceu a ministra de Defesa a criticar o governo de Moçambique e este é um ponto”.
Tudo isto, segundo este analista, “se resume a dois elementos fundamentais, como a questão logística e financeira, a pergunta que colocamos é, se as forças da SAMIM teriam condições financeiras necessárias para ficar maior tempo em Moçambique, quem estaria em condições de financiar a presença da SAMIM? Se for a olhar, os países que compõem a SADC são de economias fracas e que na minha óptica não estariam em condições de sustentar uma força militar num país membro por uma extensão de tempo longa”.
Ainda de acordo com esta nossa fonte, a permanência da SAMIM em Cabo Delgado, deve ter permitido que Moçambique cria-se “condições para que as Forças de Defesa e Segurança sejam responsáveis para permitir a segurança naquele lugar. Não há nenhum país no mundo que se sente feliz em ter forças externas a defender a sua própria pátria, se não as próprias forças de segurança”, por isso, ainda que seja um desafio enorme a retirada da SAMIM, Cuco avança que tudo “passa necessariamente em termos que criar condições para que as nossas Forças de Defesa e Segurança sejam capazes de garantir a segurança e integridade territorial de Moçambique sem que seja necessário a presença de forças externas”.
Por outro lado, este docente universitário comenta que “poderia ser sustentado a manutenção deste grupo, se talvez Moçambique tivesse apoio de outros países do mundo no que diz respeito a questão logística e financeira para estas forças”, mas “as notícias nos últimos dias, da reunião da troika na Zâmbia, vai perceber que um dos elementos que se coloca é como pagar as forças que estão operando na SAMIM, então são questões logísticas e financeiras que estão em causa, mas o ano da prorrogação pode ter sido fundamental para que Moçambique pudesse pensar sobre que mecanismos deveriam usar depois da saída dessas forças, seja da SAMIM ou das forças moçambicanas”.
Arsénio Cuco reconhece que a presença da missão da SAMIM em Cabo Delgado ajudou na recuperação do elemento segurança, assim como, em alguns pontos, devolveu a esperança da tranquilidade as populações locais. (Aunício da Silva e Nelsa Momade)