Nampula: Nem mesmo o período menstrual paralisa o “mercado” do sexo

Nampula (IKWELI) – A pressão para o pagamento de renda dos quartos num dos prostíbulos localizado na periferia da cidade de Nampula, no norte de Moçambique, leva a que as Mulheres Trabalhadoras do Sexo (MTS) não paralisem a actividade, ainda que estejam no período menstrual.

A equipa do Ikweli fez uma ronda pela “casa das bonecas” na zona da cavalaria, vulgarmente conhecido por Axinene, também tido como o maior prostíbulo do norte de Moçambique. Eram precisamente 10 horas e, a essa altura, era notória a presença de mulheres seminuas, a espera de um possível cliente.

Naquele local, muitas vezes a presença de outras mulheres não é bem vista, visto que desconfiam que sejam concorrentes.

Após algumas horas de negociação, a nossa equipa de reportagem conseguiu conversar com a chefe das meninas, por sinal estrangeira, que explicou como funciona a rotina das mesmas que inicia às 04 e se estende até a meia-noite.

Mariza, de nome fictício, é natural do vizinho Malawi. Está em Moçambique há sete anos. Melhores condições de vida para si, e sua família fizeram-na entrar no mundo de venda de prazeres sexuais.

Com o valor da prostituição, Mariza disse que consegue pagar a escola do filho e de mais dois sobrinhos que se encontram a frequentar o ensino num estabelecimento privado no Malawi.

No entanto, revelou que o dia-a-dia delas não tem sido fácil, isso porque nos últimos tempos o mercado não tem tido muita saída. De forma a sair do “aperto”, são obrigadas a vender o seu corpo durante o período menstrual, justificando que o mesmo é feito para pagar a renda dos quartos onde diariamente lhes é cobrado a quantia de 300,00Mt (trezentos meticais).

Trata-se de um local que, segundo explicou, dispõe de 28 quartos, neste momento com apenas 13 mulheres das quais cinco estrangeiras.

Apesar dos riscos, Mariza revelou que uma das estratégias usadas para seguir com o trabalho estando no período menstrual tem sido introduzir pequenos pedaços de colchão no interior do canal vaginal para interromper o fluxo.

“Quando chega essa fase não temos como. O trabalho não pode parar. Muitas vezes nos vimos obrigadas a inserir pedaços de colchão nos órgãos genitais, assim o cliente não percebe e assim continuamos”.

A nossa fonte disse ainda que, por conta disso, algumas colegas foram evacuadas ao hospital para a remoção dos pedaços, isso porque “sentimos dor, mas não temos saída. A dor é maior no primeiro cliente, mas depois de dois três, quatro e cinco clientes acabam não sendo tanta. Mas também já tivemos colegas que tiveram que ser levadas ao hospital para tirar o colchão, isso acontece quando sozinhas não conseguem remover e isso é um risco”.

Rosta David, Enfermeira de Saúde Materno Infantil, explicou que a introdução de objectos nos órgãos genitais pode danificar a flora vaginal, como também contribuir para o surgimento de doenças.

“A inserção desses objectos pode afectar a própria saúde, porque a característica de uma esponja é de sugar e pode estar suja, introduzir dedos ou instrumentos podem prejudicar a flora vaginal”.

No entanto, esclareceu que uma mulher pode praticar o sexo mesmo estando no período menstrual, contundo, a mesma deve garantir que haja higiene, para que não contraia infecções.

“Quando está no período menstrual o prazer é mais elevado, quando ela está excitada há um bloqueio natural, a menstruação para automaticamente durante o acto sexual. Algumas bibliografias afirmam que a mulher não suja a própria cama. Há muitos mitos em torno disso, mas é necessário que se faça o uso do preservativo sim, que é para evitar que haja infecções”.

Rosta David sublinhou que neste caso, as MTS podem recorrer a alguns métodos cujos seus mecanismos estão ligados ao bloqueio da menstruação.

“Método com os injectáveis, mas isso depende de mulher para mulher, maior parte têm a tendência de revelar ter um bloqueio da menstruação. Podem usar implantes ou algumas pílulas que tem a tendência de deixar a usuária sem o período menstrual, e não deve haver preocupação porque não haverá sangue acumulado, simplesmente é a resposta da acção do próprio medicamento”. (Ângela da Fonseca)

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