Maputo (IKWELI) – A Focus Fístula Moçambique, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que intervém na saúde uro-ginecológica, com foco na prevenção e tratamento da Fístula Obstétrica e da Cirurgia Reconstrutiva vai realizar mais uma cirurgia a criança que sofreu uma amputação completa dos órgãos genitais em Tete.
Segundo o Director Geral da organização, o cirurgião Igor Vaz, esta é a terceira vez que a criança é submetida a uma intervenção cirúrgica, desta vez para se reconstruir o pénis.
“Em princípio vamos fazer a reconstrução de um novo pénis. É um procedimento que pode levar uma ou duas horas. São fases mais delicadas e que requerem mais cuidados pós-cirurgia. Esta criança já urina em pé desde que fizemos a primeira intervenção. Agora com a reconstrução do pénis ela vai ficar com a auto estima mais elevada”, disse o Dr. Vaz.
Segundo o cirurgião, em condições normais a criança deveria ficar internada por um ou dois meses, mas os custos são altos. No entanto, uma família acolheu a mãe e a criança em Maputo o que tem ajudado no tratamento e recuperação da criança.
“A saída da criança e da mãe de Tete para Maputo onde foram acolhidos por uma família, também, tem ajudado bastante para a recuperação da criança. O bulling em relação à criança e à mãe era muito intenso em Tete. Os vizinhos e a comunidade que estavam à volta deles faziam algum bulling. Mas a partir do momento que passaram para Maputo percebemos que eles estão emocionalmente melhor”, anotou o especialista.
Desde que a criança foi amputada, violentamente, os órgãos genitais, em 2020, a polícia apresentou muitas dificuldades para investigar o caso e responsabilizar o culpado. Com a denúncia pública do caso feita pela Focus Fístula, o cirurgião Igor Vaz mostra alguma satisfação pelo facto de haver algum progresso com vista à responsabilização do malfeitor.
“Soubemos que depois da exposição do caso a polícia começou a mostrar mais interesse e já começou a haver alguma actividade de investigação. Com isso notamos que da parte da mãe e da criança uma maior disposição para continuar com o tratamento. Mesmo a depressão que tínhamos notado melhorou bastante. Este tipo de situações devem ter um desfecho ao nível da justiça e os culpados devem ser responsabilizados”.
A mãe da criança, também, se mostra satisfeita com a evolução que a criança está a ter com os tratamentos e com a investigação do caso.
“A criança está bem. Recebemos apoio de uma família aqui em Maputo que nos acolheu e tem nos ajudado. Estando em Tete era muito difícil arranjar dinheiro de passagem para vir para Maputo receber os cuidados. A criança fica mais à vontade quando estamos em Maputo”, disse, acrescentando que “depois deste caso sair na comunicação social, recebi chamada de um agente da SERNIC em Tete em janeiro deste ano a pedir documentos do hospital. Me informaram que estão à procura dele”.
A criança sofreu a amputação na cidade de Tete quando tinha quatro anos de idade. Neste momento recebe tratamento gratuito na Clínica Cruz Azul, através de um Programa de Cirurgia Reconstrutiva que engloba casos de distúrbio do desenvolvimento sexual e malformações congênitas, defeitos de nascença, casos de lesões genitais causadas por situações traumáticas como resultado de actos de violência. O programa é financiado pela Embaixada da Irlanda. O tratamento fora do país pode custar mais de 6 milhões de meticais. (Redação)