Nampula (IKWELI) – Os deslocados oriundos do distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado, e que se encontram na vila de Namapa e no posto administrativo de Alua, na província de Nampula, queixam-se de estar a sofrer exclusão no processo de distribuição de alimentos, denunciando que são alistados, mas que os mantimentos nunca chegam para eles.
A presidente do Instituto Nacional de Gestão do Risco de Desastres (INGD), Luísa Meque, esteve em Namapa nesta quarta-feira (28 de Fevereiro) e foi nessa ocasião que os mais de 33 mil deslocados internados queixaram-se da situação porque passam.
“Estamos aqui, fugimos guerra no distrito de Chiúre, e fomos orientados que cada grupo deveria se inscrever na zona onde estava. Quem está na zona de Muanona deveria ser inscrito lá e outros do bairro 21 e Nacuxa tinham que se inscrever lá também. Agora, muita gente do bairro 21 já recebeu e nós nada, a minha pergunta é, vamos vivendo como?”, comentou um dos deslocados que interveio na ocasião.
Uma outra deslocada, cuja identidade não revelou, afiançou que “a informação era essa de cada família ser inscrita no bairro onde está alojada, mas nós aqui não recebemos nada, estamos a sofrer. Somente levaram nossos nomes em vão”.
No fim da visita, Meque revelava-se uma mulher triste com o que acompanhou no terreno, por isso apelou sensibilidade no tratamento da situação e das necessidades dos deslocados internos.
“Saio de Namapa preocupada, porque não é uma situação de alegria, nem uma situação que possa dizer que as condições que vimos as pessoas são das melhores, foi uma situação que nos apanhou de surpresa. As pessoas vieram de diferente pontos da província de Cabo Delgado com maior incidência para o distrito de Eráti, na província de Nampula, onde as pessoas foram praticamente acomodando-se, umas em casas de alguns familiares, outras nas casas de boa vontade que acolheram as pessoas e outras, também, encontram-se numa escola, onde realmente o distrito acabou identificando um local para as pessoas poderem se acomodar”, anotou a presidente do INGD, prosseguindo que “é neste sentido que nós, depois de termos ouvido a informação que fomos tendo com a nossa delegação ao nível da província Nampula e pelo governo da província, que de facto o número está a aumentar na medida em que foram chegando desde sábado até ontem [terça-feira, 27 de fevereiro]”.
Por outro lado, segundo esta fonte, “fez-se um levantamento das pessoas existentes e até ontem tivemos 33 mil deslocados internos da província de Nampula, e outras 34 mil são da província de Cabo Delgado, o que faz, em termos de deslocados que temos a nível de janeiro e fevereiro, 67 mil pessoas. Este número é muito e nós sentimos, de facto, o que as pessoas devem ter passado ao se deslocar de Chiúre até chegar aqui. Vimos nos três centros existentes aqui no distrito de Eráti que a maior parte são mulheres, com maior incidência para pessoas idosas e crianças, isso também deixou nos preocupados porque essas pessoas estão a precisar do nosso apoio e o trabalho está sendo feito, ao nível da equipe provincial, foi de registo das pessoas existentes ao nível de todos centros e em coordenação com vários parceiros que nós temos, como é caso de PMA (Programa Mundial de Alimentação), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), entre outros, iniciou-se com um processo de assistência dessas famílias”.
Justificando a situação da morosidade na recepção de alimentação, Lúcia Meque disse reconhecer que o ambiente não é agradável, por isso que disse ter noção da situação e há trabalho em curso, pois “temos consciência de que este processo está a levar o seu tempo por causa da quantidade das pessoas, mas da visita que tivemos hoje tivemos um encontro com parceiros e vamos agilizar aquilo que possa ser assistência para as próprias famílias. É triste, é desolador ver como é remanescente que as pessoas estão numa altura em que as pessoas tinham as suas culturas em campos, as suas machambas e estão numa altura da colheita, praticamente foram obrigadas a deixar tudo que tinham para poder estar num lugar onde, realmente, já não tem nada. As pessoas estão praticamente sem nada, e é mais um motivo para todos nós, como moçambicanos, continuarmos a ter a solidariedade que nós temos tido em situações dessas, seja quando estamos na ocorrência de ciclones, cheias, vimos realmente que todos moçambicanos apoiaram as famílias, e eu confesso que fiquei muito sentida, porque vimos ali crianças ali a chorarem”.
No entanto, sendo que algumas escolas do distrito de Eráti as aulas estão interditas por conta das salas que alojaram um número elevado dos deslocados, a presidente do INGD garantiu que há um trabalho que está a ser feito para que até segunda-feira próxima possam retomar as aulas. “Estão no local a trabalhar as equipas a nível da saúde e educação, e consoante o trabalho que está a ser feito, estão a se fazer esforços para que até segunda-feira retomem as aulas”.
Questionado sobre como é que o governo se prepara para fazer face às questões de emergência, tendo em conta que o INGD queixa-se da falta de fundos para responder vários problemas e as intempéries, Lúcia disse “nós temos nosso plano de contingência e esse plano de contingência é aprovado anualmente e o plano de contingência não pode ser igual, e nós temos estado a ouvir as pessoas a dizer todos anos compram mesmas coisas, o plano de contingência varia de cenário para cenário, varia do número de pessoas que possam ser afectadas ou não, varia do fenómeno que possa vir ocorrer ou não, vai ser chuvas ou seca, neste caso por exemplo estamos a correr por causa da seca na zona sul, então está contemplado no nosso plano de contingência. O fundo ou valor que está orçado para implementar o plano de contingência não quer dizer que àquele valor todo vai ser mobilizado para a ocorrência do plano de contingência, enquanto não ocorrer um fenômeno, nós temos sempre temos em conta que da previsão feita só vamos contabilizar o número das pessoas que forem afectadas consoante a ocorrência do evento”. (Redação e Malito João)