Nampula (IKWELI) – Os sanitários das maternidades das unidades sanitárias de Namicopo, 25 de Setembro, Muhala Expansão e Namiepe encontram-se em péssimas condições de higiene e saneamento do meio, o que coloca em risco a saúde dos utentes daqueles serviços.
A reportagem do Ikweli visitou aqueles estabelecimentos, onde observou um nível de imundície de bradar os céus, sobretudo por se tratar de unidades sanitárias com uma aderência massiva de utentes.
No centro de saúde de Namiepe, no bairro de Namicopo, os utentes queixam-se da situação e dizem já ter reclamado muitas vezes para que seja providenciado o melhoramento das condições de higiene e saneamento do meio no local.
“Em algumas vezes, quando quero fazer necessidades devo voltar a casa ou procurar um local seguro dentro ou fora deste centro, o que não é agradável”, disse a utente Sónia, que comenta que “para o caso de alguém que vive longe do centro de saúde é desafiante, porque deve procurar um espaço ou uma mata para fazer as suas necessidades biológicas”.
Esta fonte recorda-se que “antigamente, o centro de saúde de Namiepe contava com uma casa de banho e esta servia tanto para os utentes do sexo feminino e masculino, mas ao longo do tempo acabou destruindo-se”.
Segundo entende Sónia, o problema de imundice é, também, agudizado pela falta de água nos sanitários.
Para além das mulheres, segundo a utente Inês, as crianças, também, passam maus bocados para terem acesso a sanitários limpos.
E na maternidade do centro de Saúde de Namicopo, a situação não é diferente. Parturientes e acompanhantes, também, queixam-se da imundície que assola os sanitários, assim como a falta de água no local.
Contam os utentes que, em caso de necessidades biológicas, são obrigados a defecar nos plásticos, as crianças são colocadas descartáveis para depois serem depositadas mesmo no recinto do centro de saúde ou enterrados por detrás do edifício.
“Na verdade, nós estamos a passar muito mal neste hospital”, comenta a utente Zinha Amade Trinta, anotando que os sanitários em condições, apenas, servem aos funcionários ali afectos.
“O director do centro tem que ver esta situação e melhorar as casas de banhos para a gente passar a fazer necessidade maior, assim como menor, para evitar sermos contaminados com outras doenças”, comenta a acompanhante Arlete José, que recorda que “os acompanhantes passam muito mal”.
Paulino Eugénio foi aquela unidade sanitária para acompanhar um parente, mas de repente passou mal. “Assim estou muito mal, porque estou com diarreia e vómito, não tenho onde defecar, devido a falta de casa de banho assim como água. Não está correto só ter casa de banho de trabalhadores e não para pacientes”.
No centro de saúde 25 de Setembro, local onde recebemos a primeira denúncia por parte de alguns utentes, dando conta da imundície que tomou conta dos sanitários da maternidade, observamos, também, uma situação de cortar a faca.
Eis que chegado no local, a equipa deparou-se com uma situação de cheiro nauseabundo que era possível sentir de longe.
No sítio, eram visíveis no soalho do sanitário, coágulos de sangue, fezes, urina em excesso, garrafas plásticas bem como panos desgastados, um cenário que numa primeira impressão percebe-se que espaço não é higienizado há “séculos”.
Nesta cortina de poeira, entrevistamos alguns acompanhantes para perceber, como lidam com a situação.
Maria António disse ter acompanhado a sua filha a maternidade, mas que, no entanto, tem sido um desafio usar o sanitário, justificando que o mesmo não oferece o mínimo, que é água. Uma realidade que a obriga a recorrer ao líquido precioso trazido de casa para que a sua parente se higienize.
Maria revelou que o seu bairro dista sensivelmente cinco quilómetros do centro de saúde, por isso, tem sido complicado fazer essa ginástica com um recipiente de mais de 10 litros de água.
Como mãe, mostra a sua preocupação com a saúde da filha, visto que a situação poderá culminar com uma infecção, visto que o estado pós-parto obriga que se faça uma higienização regular na região íntima.
“Essa situação é muito triste e complicada. Não é fácil para mim ter que sair de Muahivire até aqui com um balde de água para minha filha usar, mas mesmo tendo água, as casas de banho andam muito sujas. Minha filha corre o risco de apanhar bactérias”.
Ana e Amélia encontravam-se no centro para acompanhar sua irmã que há dois dias entrou em trabalho de parto. Durante a entrevista, aconselharam a equipa do Ikweli a não se fazer aos sanitários.
“Não vale a pena entrar ali, porque não está nada bem, assim nossa mãe trouxe água para nossa irmã usar e ela só pode se encostar num canto para se lavar, banho vai tomar em casa”.
Abel João, pai de uma das parturientes, na companhia da sua esposa, fez saber que desde que a sua filha de 18 anos deu entrada na maternidade, não houve assistência de água, muito menos de um local seguro e limpo para que a jovem pudesse usar.
“Mesmo trazendo balde de água, não há como tomar banho e escovar os dentes, vejo que cada um sai a maneira para fazer a sua higiene onde pode. Mas numa maternidade como esta isso não podia acontecer. E temos medo de revindicar que haja água e higiene, porque temos medo da nossa criança não sair viva, é difícil de reportar o que nós só queremos é recuperar o nosso doente”, disse.
Sua esposa, Aissa, acrescentou que irá levar a sua filha para tomar banho na sua residência, longe das bactérias, “Assim, vamos levar nossa Namatoto [uma mãe recente] para tomar banho em casa, porque aqui nem para inclinar para fazer xixi não dá”.
Sem gravar entrevista, a agente de serviço que se encontrava a trabalhar nesse dia , rebateu as queixas dos utentes, tendo afirmando que os sanitários são higienizados diariamente uma vez e que as parturientes não tem feito bom uso do local.
A mesma disse ainda que, muitas delas, são encontradas a urinar no corredor do sanitário, uma situação que para as mesmas é contra as regras.
“Muitas vezes as mulheres que vêm para ter bebé não facilitam o nosso trabalho. Todos os dias encontramos sujidade, mas nunca deixamos de limpar. Acredito que elas usam mal as casas de banho porque sabem que existe um agente para limpar, mas creio que não devia ser assim. Devemos nos ajudar”, concluiu.
No centro de saúde de Muhala Expansão, a situação é tão gravosa que tiveram de ser encerradas os sanitários da maternidade, obrigando, assim, as parturientes a recorrem a casa de banho comum daquela unidade sanitária.
Suzana Amade, de 31 anos, quando entrevistada, encontrava-se aflita a procura de um sanitário condigno, o que era uma missão, praticamente, impossível.
“As casas de banho deste hospital parecem um depósito de lixo, os homens e mulheres entram na mesma casa de banho, porque uma apenas está em condições de ser usada, não há falta de água nas casas de banho e não vejo o motivo de tanta imundície num lugar público a que muita gente tem acesso”.
A utente Dália Acácio anota que a situação da imundície nas casas de banho do centro de Saúde de Muhala Expansão é antiga, mas ninguém toma conta.
“Quando fico apertada estando no hospital, prefiro dar a volta e ir me aliviar atrás da maternidade para me proteger de certas infeções, entrei uma vez lá no ano passado, e me espantei muito por se tratar de casa de banho de um hospital. Porque eles deviam ser o exemplo da limpeza, coisa que não demonstram. Antes não escorria água para fora das casas de banho, mas nos últimos dias a água que sai de lá, chega até ao quintal do hospital e cria uma situação não agradável nos olhos de todos que lá passam”.
Os responsáveis destas unidades sanitárias, como sempre, quando contactadas não quiseram falar do assunto, alegando que precisam de autorização dos Serviços Distritais da Saúde, Mulher e Acção Social (SDSMAS).
Manuel Eduardo, director dos SDSMAS de Nampula, contactado pelo Ikweli, defende que a degradação do saneamento do meio nestas unidades sanitárias é, também, devido ao mau uso feito pelos utentes.
“Semanalmente temos vindo a fazer algum trabalho que é jornada de limpeza. Se for a ver, da maneira que nós usamos os nossos sanitários e infra-estruturas sanitárias, tem a ver com o hábito de casa, porque são tantas pessoas vindo de várias zonas e por causa disso esperamos situações difíceis, como forma de amenizar o problema nós temos vindo a educar a nossa população para fazerem o bom uso dos sanitários”, disse esta fonte.
Eduardo apela a população para que respeite o esforço que tem sido empreendido para que se mantenha a higienização das unidades sanitárias, pois, “há alguns pensamentos que dizem que os profissionais de saúde ganham por fazer limpeza, isto, tem sido uma atitude que constrange as nossas actividades como sector de saúde, criamos as mínimas condições para higienizar os nossos centros de saúde”, mas que não há valorização deste esforço.
Outrossim, este governante assume que os maus atendimentos ainda prevalecem, por isso, “estamos a trabalhar para reverter o cenário”. (Ângela da Fonseca, Nelsa Momade, Ruth Lemax e Virgínia Emília)