Nampula (IKWELI) – As trabalhadoras de sexo instaladas na antiga Feira Agrícola e Industrial de Nampula (FAINA), nos arredores do maior centro urbano do norte de Moçambique, denunciam que têm vindo a sofrer actos de violência perpetrados pelos seus clientes.
Esta situação deixa aquele grupo de profissionais assustadas, em alguns casos inseguras nos vários prostíbulos ali instalados, sob a capa de pensão.
Esta agressividade que caracteriza os clientes faz com que os mesmos apenas paguem depois do acto sexual, quando no passado o serviço era pré-pago. Nalguns casos, alguns clientes que pagam antes do acto chegam a pedir a devolução do valor, alegando não ter gostado do serviço prestado.
“Aqui passamos muito mal, tem dias que sem contar aparece uma pessoa a precisar do nosso trabalho e depois de executar ele nos ameaça e depois leva o seu dinheiro de volta, ele [cliente] não sente pena de nós”, conta uma trabalhadora de sexo que não quis se identificar, recordando que “um dia veio um jovem me pagou 500,00Mt (quinhentos meticais), depois de fazemos relações sexuais ele tirou uma nota de 1.000,00Mt (mil meticais), me pediu troco, quando quis lhe dar o troco deu-me uma pancada e arrancou-me todo o dinheiro e fiquei sem nada, isso é um dos casos recentes, sem contar de outros casos de clientes que não gostam de descer quando sobem. Quando digo estou cansada dizem peço meu dinheiro de volta, eles ficam horas sem descer então esse nosso trabalho é muito complicado, somente estamos aqui por necessidade e queremos ganhar alguma coisa para sustentar a nossa família”.
Outra fonte disse que “às vezes alguns clientes aparecem com dinheiro falso, depois de executar saiem do local o mais rápido possível, o que cria um prejuízo enorme. Quando tem movimento a gente consegue uma média de 1.700,00Mt (mil e setecentos meticais), mas nesses dias se você ter 300,00Mt (trezentos meticais) você é mulher e agradecer, porque evitarmos muito fazer sexo e não ser pago”, por isso “agora reparamos a cara para ver se a pessoa é confiada ou não”.
Segundo esta fonte, uma satisfação sexual por compra varia de “100,00Mt (cem meticais) a 500,00Mt (quinhentos meticais), também há um precário único quando for sem preservativo que é de 600,00Mt (seiscentos meticais)”.
Jaime Menor, um dos vendedores de espeto de frango ao lado do prostíbulo da Faina, disse que há casos em que se chega à Polícia. “Alguns casos a polícia tem intervindo”, anota, comentando que “até quem está a salvar essas pessoas que fazem negócio de sexo é a polícia, se não fosse a polícia cada um estaria a vir subir e descer sem pagar nenhuma taxa, até eu mesmo as vezes costumo a ajudar a elas, isso acontece mais porque lá atrás existem casas que estão no fundo, onde elas podem gritar você não vai conseguir ouvir por isso está difícil socorrer”.
Zita Amade, Oficial de Direitos Humanos na Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), anotou que a sua agremiação tem trabalho arduamente no sentido de dotar de conhecimentos sólidos as mulheres trabalhadoras de sexo na mudança de comportamento.
“Para essa componente de mulheres trabalhadoras de sexo, nós como FDC oferecemos alguns serviços como é o caso de sensibilização, oferecendo material de prevenção como é o caso de preservativos entre outros materiais para poder se prevenir das doenças, e há um pacote que nós oferecemos a elas que é a secção de literacia e empoderamento legal que é para elas estarem cientes o que é direito humano e em caso de violação possam reconhecer que aqui foi violado meu direito e ela conhecer os mecanismos de denúncia e em caso de ocorrer uma violação ela tem toda informação e tem contactos de activistas e paralegais, mas as vezes elas não denunciam por receio”, disse Amade.
Esta fonte fez saber que de Julho a Dezembro de 2023, a FDC registou cerca de 412 (quatrocentos e doze) casos de mulheres trabalhadoras de sexo violadas ao nível da província de Nampula, desses 212 (duzentos e doze) são da comunidade e tem a ver com violência psicológica, agressão física, estigmas, discriminação e violência patrimonial, entre outros tipos de violência, e todos esses casos foram encaminhados aos órgãos da administração da justiça, como é o caso da polícia.
“E a polícia tem dado resposta sim e até então foram resolvidos 309 (trezentos e nove) casos, e destes 22 (vinte e dois) judicialmente e 252 (duzentos e cinquenta e dois) por via extrajudicial, porque as vezes são casos que não dependem muito de nós”, avançou a nossa interlocutora.
Por outro lado, Zita Amade admitiu que continua a ser um desafio a pressão das mulheres trabalhadora de sexo em ver os seus problemas resolvidos de forma urgente. “Essas mulheres em algumas vezes acabam entrando em algumas situações connosco, porque elas o que querem é que o caso delas seja resolvido naquela altura, ainda que nós digamos que o teu caso precisa de um certo acompanhamento para tu saíres a ganhar e ela diz que não e, muitas vezes quando há essas situações porque não foi paga como deveria ser e o infrator basta saber que já fui processado elas usam outras via negociam enquanto o processo ainda está andar e ele tira um valor entrega e ela dali já não quer dar seguimento ao processo. Nós acabamos dando seguimento que muitas vezes elas abandonam porque, de alguma forma já conseguiu resolver o assunto, e pelo tipo de trabalho que exercem elas não querem se expor de mais”, comentou. (Malito João)