Nampula (IKWELI) – A venda ambulante de comida confeccionada, por mulheres, na cidade de Nampula, tornou-se numa fonte de rendimentos incontestável.
Esta prática ganha, a cada dia, novos desenvolvimentos e inovações, sendo que na actualidade há mulheres que fazem o negócio em viaturas e circulando um pouco por toda a cidade em pontos de maior aglomeração populacional.
As praticantes dessa actividade, que se mostram felizes, dizem que tem tido capacidade financeira para suprir as suas necessidades e as dos seus dependentes, como filhos, irmãos e outros parentes.
Mãe de 3 filhos, casada, a jovem Sandra Pinto é uma das mulheres que empreende neste ramo, e ao Ikweli contou que com os rendimentos provenientes da sua actividade consegue apoiar o seu marido nas despesas familiares.
“Fazer negócio é muito bom e não são todos os dias que as pessoas têm bons ganhos”, mas “é muito diferente da pessoa que está em casa paralisada, sem o que fazer”, precisa esta fonte, que explica que “optei por esta actividade como autoemprego e porque mesmo com a 12ᵃ classe já concluída não é fácil ter o emprego do Estado, dai que através do negócio de venda de alimentos de pronto consumo tenho ajudado muito para alimentação e pôr a estudar as crianças”.
Esta fonte anota que a falta de espaços apropriados para este negócio constitui um desafio, pois no fim das contas vê-se na obrigação de encontrar uma esquina acessível onde coloca a comida para vender.
Outro desafio que a dona Sandra diz ter vencido foi convencer o marido a deixá-la desenvolver o negócio. “As mulheres devem ter ânimo para iniciar uma actividade de renda, neste momento trabalho com uma outra mulher e mensalmente tenho ajudado com algum valor para aliviar as suas preocupações e não depender do marido”.
Há mais de 5 anos na atividade, Delfina Antonino vê os bons resultados. Aponta que arrancou com a obra de construção de sua residência e apela a outras mulheres a apostarem no empreendedorismo.
“Com o meu negócio consigo fazer tudo o que eu preciso e sem precisar pedir ao meu parceiro, também me sinto bem porque esta actividade tem ajudado muito”, disse Delfina, comentando que as despesas com a sua formação superior são suportadas pelo mesmo negócio.
Para ela, “nós as mulheres, enquanto não conseguirmos um emprego formal, acho bom recorrer aos pequenos negócios e outros meios que podem ajudar financeiramente”.
Por outro lado, narra esta nossa fonte que “quando o meu marido se encontra em uma crise financeira tenho apoiado a partir do negócio que realizo, o meu objectivo actualmente é fazer parte de uma associação de mulheres empreendedoras que pode ajudar-nos psicologicamente e financeiramente e, sobretudo, apoiar as iniciativas daquelas mulheres que nada fazem para garantir o sustento”.
Como não há uma bela sem senão, as mulheres queixam-se do assédio sexual que, recorrentemente, sofrem no exercício da sua actividade.
“O comportamento de alguns clientes é lamentável”, lamenta a senhora Angelina Manuel, vendedeira de comida nas ruas da cidade de Nampula, e prossegue referindo que “várias mulheres são submetidas ao assédio e tenho assistido estes cenários, sobretudo com algumas mais jovens”.
Agira Juma está neste negócio desde jovem e comenta que “como qualquer mulher sou exposta a qualquer tipo de perigo relacionada a violência e daí que tenho mantido a postura de distanciar-me destas acções malignas e muita das vezes tenho aconselhado as outras mulheres a não aceitar o abuso sexual”.
Entretanto…
O activista social, Sebastião Damas, entende que o assédio as mulheres vendedeiras de alimentos de pronto consumo, pode estar aliado ao impedimento do empoderamento económico da mulher na cidade de Nampula.
“Estamos numa sociedade contemporânea e há vários aspectos que têm contribuído para a degradação social, a mulher que se faz as ruas para fazer o seu negócio e ao longo da sua actividade é evidente que sofre o assédio sexual. Por várias vezes vi raparigas nessas situações de assédio sexual e até algumas mulheres são aliciadas pelos seus clientes com promessas de casamento e no final nada acontece”.
Entretanto, o activista social recomenda que “o governo e outras entidades não-governamentais, deviam ajudar este grupo de mulheres que se dedica a venda de comida confeccionada na cidade de Nampula no sentido que não continuem sendo vulneráveis e com apoio financeiro podem ajudar na geração de renda. Muitas vezes o assédio ocorre através de troca de valor e para estancar esta problemática é necessário o envolvimento de todos”. (Nelsa Momade)