Nampula: Mulheres com deficiência auditiva com dificuldades de denunciarem actos de violência por falta de entendimento na língua de sinais

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Nampula (IKWELI) – As mulheres com deficiência auditiva na cidade de Nampula enfrentam enormes dificuldades para denunciarem casos de violência doméstica de quem têm sido vítimas, tudo por conta de ausência de intérpretes na língua de sinais nas instituições que lidam com casos dessa natureza.

De 44 anos de idade e mãe de 7 filhos, a dona Alcina Valentim é deficiente auditiva, e contou ao Ikweli que já sofreu violência protagonizada pelo próprio marido, por conta da sua situação.

“Quando tive este problema com o meu marido, e porque abandonou-me com filhos, fui remeter queixa na polícia, através da 1ª Esquadra. Tive dificuldades na comunicação durante o atendimento, porque muita gente não domina a língua de sinais e por isso o caso não teve resolução”, disse.

Alcina ainda continua preocupada em resolver o seu problema, pois “por causa da falta de domínio da língua de sinais, não vejo onde recorrer para expor as minhas preocupações e para que seja ajudada”.

Este problema da falta de capacidade das instituições em atender pessoas com deficiência auditiva, faz com que muitas mulheres passem por maus bocados, como também “passamos por situações de violência sexual, mas não temos como denunciar”.

Periha Amade, da Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique (ACAMO) em Nampula, afirma que as mulheres com deficiência auditiva estão cada vez mais expostas a violência doméstica e não só, na sua maioria protagonizado por familiares.

Esta fonte diz que a sua agremiação não tem recebidos queixas relacionadas com casos de violência baseada no género, cujas vítimas são mulheres, porque muitas das vezes “a sua comunicação é difícil” e que “as vezes, com estas mulheres a melhor comunicação tem sido por escrito, dai que em termos de queixas nós não registamos aqui no fórum, mas sabemos muito bem a situação de violência baseada no género sempre preexiste principalmente para as mulheres”.

Recentemente numa reunião com parte deste grupo de mulheres, segundo esta nossa fonte, “puderam manifestar a violência dentro de casa e com seus familiares, até com os próprios maridos, mas não tem tido esta capacidade de fazer a denúncia e notamos que nalgum momento é por medo”.

Com esta dificuldade e para ultrapassar, Amade aponta que a ACAMO tem estado a promover campanhas de sensibilização para que as mulheres com deficiência auditiva possam denunciar.

“O maior problema é comunicação, porque elas mesmo tendo aquela vontade se sentem limitadas porque são atendidas por pessoas que não entendem a língua de sinais”, reconheceu o líder da ACAMO em Nampula, prosseguindo que “elas continuam a sofrer esta violência por desconhecimento do gozo dos seus direitos e outras mulheres têm pouca informação para fazer a denúncia”.

Os distritos de Eráti, Moma, Larde e Memba são os que mais casos de violência contra a mulher com deficiência auditiva registam na província de Nampula, segundo dados da ACAMO.

Entretanto, a directora provincial do Género, Criança e Acção Social de Nampula, Albertina Ussene, garante que o governo tem estado a criar mecanismos para que toda mulher se sinta protegida e que em caso de sofrer violência doméstica tenha todos os meios de assistência.

“Nós temos mecanismos multissectoriais, mas nem por isso paramos de fazer a publicidade ou divulgação dos nossos serviços. O que acontece muita das vezes é a falta de conhecimento por parte das mulheres e não tem acesso aos nossos serviços e nem sequer sabem que a acção social é a casa delas. Uma mulher com deficiência, em princípio, devia pertencer a qualquer uma das nossas associações e temos cerca de 11 associações que trabalham diretamente connosco e o normal seria elas estarem inseridas”, comenta a governante.

Por outro lado, referiu que “as mulheres com deficiência auditiva devem procurar ajuda na porta certa e saber que aqui na acção social encontram resposta de tudo”.

“Na instituição somente temos um técnico que fala através de língua de sinais e sendo um técnico e com deficiência ele já fez interpretação com este grupo alvo e as vezes comunicamos com ele através de escritas, dai que também temos recebido noções básicas sobre os primeiros sinais de comunicação e por isso temos nos ajudado bastante com vista a lidar com as mulheres vítimas de violência”, anota Ussene.

Irene Cabral, chefe da Repartição de Educação Cívica no Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), delegação de Nampula, também, tem o entendimento de que é fundamental a introdução da língua de sinais nas campanhas de educação cívica.

Esta fonte assegura ser desafiante atender mulheres com deficiência auditiva que tenham sofrido violência, pois, muitas vezes, dependem da família da vítima para a interpretação dos factos.

“As vítimas devem denunciar os casos contra a violência”, remata esta fonte, apelando que “estas mulheres não tenham receio de denunciar os casos e nós continuaremos a trabalhar nas comunidades e escolas no sentido de sensibilizar e munir de conhecimento os seus direitos”. (Nelsa Momade)

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