Nampula (IKWELI) – Os residentes do não menos conhecido bairro de Namicopo, nos arredores da cidade de Nampula, apontam a Polícia da República de Moçambique (PRM) como tendo atingido mortalmente, pelo menos, 6 pessoas, durante a última sexta-feira (27), quando da ocorrência de manifestações por conta da não concordância dos membros e simpatizantes da Renamo com o anúncio dos resultados eleitorais pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Segundo contaram ao Ikweli, os policiais, indiscriminadamente e com balas reais, chegaram a Namicopo por volta das 11h22 e começaram a disparar contra tudo que se move-se, tanto que mais cinco (5) pessoas contraíram ferimentos graves.
“Esta situação ocorreu de uma forma muito estranha. Pelas 11 horas, um grupo de jovens que faziam a tal greve, a queimar pneus na via pública, fez com que a equipe da polícia chegasse neste bairro a atirar descontroladamente para as pessoas que tentavam fugir da situação, até mesmo crianças”, disse ao Ikweli Laurentino Francisco, adjunto secretário de Namicopo, afirmando que ainda que “nós tivemos, como registo, cerca de três óbitos e cinco feridos que neste momento estão a receber tratamento no Hospital Central de Nampula. Enterramos no cemitério próximo a escola anexa no bairro de Namicopo”.
Alito Atumane, jovem de 23 anos, é uma das vítimas. Foi baleado nas suas duas pernas. Ele disse que se encontrava a conversar com seus amigos e que nada tinha a ver com a manifestação, mas a polícia não o poupou.
“Eu saia de casa, em direção a padaria Nampula, tinha ido conversar com os meus amigos, de repente vejo pessoas a correrem. Eu também comecei a correr, quando chego próximo ao centro de saúde de Namicopo, vejo um outro grupo de pessoas a queimarem pneus, polícias também passaram a atirar, acabaram me acertando um pé, cheguei caindo aproveitaram ali mesmo me balearam mais no outro, já não estava a conseguir levantar porque estava a doer, e fui socorrido por outras pessoas me levaram ao hospital”, conta Atumane o terror porque passou.
Já na zona da Memória, também em Namicopo, Arlindo Sousa conta que o terror foi similar e que 3 pessoas tombaram pelas balas da polícia.
No momento dos factos, esta fonte conta que estava sentado na estrada, com seu amigo, quando descobriu o movimento, quis fugir, mas acabou caindo, o que lhe causou ferimentos graves e o seu amigo foi baleado na cabeça com duas balas.
“Só me vi no chão quando quis fugir, porque pessoas estavam a vir a correr da Rex, quando quis levantar-me vejo meu amigo que estava a conversar comigo, baleado na cabeça com duas balas, e eu clamava por socorro”, conta esta vítima.
Enquanto isso…
Se por um lado as famílias queixam-se dos parentes que perderam e de outros que se encontram no leito hospitalar, por outro choram pelas suas fontes de renda que ficaram destruídas, incluindo habitações.
Um dos locais de confrontação entre os membros da polícia e os manifestantes foi o mercado do “Soares”, logo depois do posto administrativo urbano de Namicopo.
Neste local, contam-se 164 bancas, 43 barracas e cinco (5) casas que foram reduzidas a cinza, por conta dos disparos da polícia.
De acordo com o chefe daquele mercado, Maximage Abudo, a PRM, depois de ter chegado ao local, onde um grupo de jovens manifestava-se, começou a disparar.
“A polícia chegou e começou a disparar descontroladamente, e chegaram a queimar todo o nosso mercado e casas de algumas famílias que vivem ali próximo, isso ocorreu pelas 10 horas”, conta esta fonte, lamentando que “nós assim não temos espaço para vender, porque todo mercado está em forma de cinza”.
Os comerciantes daquele local estão desesperados. “Não sei onde posso vender agora, porque todas nossas bancas, assim como as barracas, estão totalmente destruídas, nós conseguíamos sustentar nossas famílias através desse mercado”, comenta Armando José, comerciante no mercado Soares.
Mãe de 5 filhos, a dona Laurinda António é uma das faces pouco consoláveis com esta tragédia. “Eu não sei como posso ajudar os meus filhos se todo mercado está queimado, até meus produtos que estavam dentro da minha barraca não existem, sabendo que não sou casada o meu emprego era só vender, agora onde eu vou terminar com esta situação?”, lamenta.
Proprietário de 8 bancas naquele mercado, Nordino Ussene, também, está inconsolável e recorda que “quando percebi que estava a acontecer um movimento estranho, removemos as mercadorias, dentro da banca”, mas “de repente vimos um grupo de policiais a chegarem e começaram a disparar sem parar, pelas 10 horas, os mesmos chegaram a queimar as nossas bancas e barracas aqui no mercado”.
Juma Ali, idoso de 69 anos, viu a sua casa, localizada próxima ao mercado, reduzida a cinzas, porque a polícia decidiu incendiá-la. (Virgínia Emília)