Nampula (IKWELI) – Mulheres jornalistas são chamadas a estar na linha da frente na luta contra o cancro, servindo de exemplo e fonte de inspiração para a sociedade, como forma de despertá-los e motivá-los a cuidar da saúde.
Duas mulheres, duas gerações e um denominador, os relatos sobre o cancro da mama. Nesta edição, o Ikweli vai traz histórias de duas profissionais de comunicação social que, embora diferentes, as mesmas lutam por causas ligadas a saúde da mulher e da sociedade em geral.
Hermínia Machel é jornalista e pivô da Televisão de Moçambique (TVM), mas também mãe de sete filhos. Há um ano e meio foi diagnosticada com o cancro da mama. Uma simples dor na axila a fizeram procurar cuidados médicos em uma das clínicas da capital do país.
Entretanto, o que ela não sabia é que, na verdade, a dor na axila era início de uma batalha longa contra o cancro da mama.
“Eu sentia uma dor na axila, uma dor que me incomodava e isso levou-me a ir ao hospital. No início diziam que era uma glândula inflamada. Quando recebi o resultado que dizia que se tratava de um cancro eu não fiquei em pânico, não fiquei desesperada se calhar porque sou crente”.
De uma simples glândula inflamada para cancro da mama. Uma cirurgia que teria a duração de 45 minutos, tiveram que fazer em três horas, pois grande parte do local já se encontrava infectado. Contudo, não lhe foi removida toda mama.
“Depois dos exames comecei com o processo de quimioterapia que foram oito sessões, quando terminei foi se descobrir que ainda tinha um nodulo pequeno de 0,3 centímetros. Fui fazendo 15 sessões de radioterapia diárias e depois disso o médico disse que eu tinha que ir a África do Sul para fazer um “teste scan” que detecta qualquer célula cancerígena e graças a Deus já estava livre do cancro da mama”.
Apesar do diagnóstico e do tratamento, Machel revelou ao Ikweli que nunca parou de exercer as suas funções como jornalista, pois não queria que se sentisse pena dela. “Eu nunca parei de trabalhar, não deixei de trabalhar. Enquanto me tratava pouca gente sabia. Porque eu não queria que sentissem pena de mim, que olhassem para mim como uma coitadinha”.
Durante a entrevista, Machel chamou atenção as mulheres, bem como aos homens, sobre a necessidade de fazer um “chek up” de forma rotineira. Acrescentou ainda que, a sua revelação deve ser vista como exemplo. “Ninguém está isento de apanhar cancro, é preciso prestar atenção nos sinais que o nosso corpo dá”.
Por outro lado, Machel chama atenção ao sector de saúde, no sentido de que as campanhas do cancro da mama, colo do útero bem como da próstata, devem ser feitas de frequentemente.
“Os restantes meses e os primeiros meses do ano não se fala. É necessário que hajam mais campanhas de sensibilização, principalmente nos campos, onde as mulheres nem veem televisão, é necessário que elas também tenham acesso a esta informação”, disse.
Aos moçambicanos, Hermínia afirmou ser possível vencer o cancro no país. Para ela, urge a necessidade de se acreditar mais nos profissionais de saúde e aos tratamentos feitos internamente.
“Nós temos tratamento aqui no país. O pessoal de saúde é impecável, tem sentimento de amor para com as pessoas e solidariedade, estão ali com muito carinho, para quê andar a pedir dinheiro as pessoas para ir a África do Sul ou outro país se tu podes fazer o tratamento aqui”, comenta.
Designado por “Outubro Rosa”, o mês têm em vista ampliar a conscientização sobre a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do cancro de mama visto que trata-se de um tipo de doença mais comum entre as mulheres em todo o mundo.
Dinília Pereira é igualmente jornalista da TVM, baseada na delegação provincial de Nampula. Nunca foi diagnosticada com o cancro da mama ou do útero. Mas como comunicóloga, acredita que não basta apenas informar e educar, importa também, fazer exames rotineiros para servir de exemplo, referência assim como promotoras de mudança.
“Nós somos figuras com alguma influência, temos que ser exemplo, porque sabemos que de alguma forma somos pessoas que influenciam na mudança de comportamento, nós podemos ser exemplo e fonte de inspiração para muitas pessoas que acreditam no nosso trabalho”, entende esta fonte.
De acordo com Dinília, são poucas as vezes que as mulheres jornalistas procuram os serviços de saúde para saber do seu estado, isso porque, a maioria está preocupada com a rotina da redacção.
“Isso porque a nossa profissão é corrida, mas também porque sempre achamos que quando tiver tempo vamos fazer. Deixamos a nossa saúde para o segundo plano e priorizamos aquilo que é a dinâmica da nossa profissão”.
Contudo, Dinília alerta aos demais jornalistas a passar informações que agregam valor e que sensibilizam o público e não trazer histórias que “amedrontam”.
“No final do dia, se nós conseguirmos informar bem ganha a sociedade. Se trouxermos especialistas para explicarem como se faz o disgnóstico pode até parecer uma coisa banal, mas traz consigo uma mensagem. Agora nós estamos preocupados em relatar o número de pessoas que morreram, tudo bem, morreram sim, mas o que deveriam ter feito para evitar aquela morte? Podiam ter feito o rastreio muito cedo e que não se paga nada. Ou seja, se as pessoas tiverem essa informação toda, facilmente aproxima as unidades sanitárias e nós estaríamos a contribuir para mudar o mundo”.
Moçambique tem registado anualmente uma média de 25 a 26 mil casos de cancro, um dos mais frequentes sendo o cancro da mama. De acordo com dados oficiais, são diagnosticados por ano cerca de 5 mil cancros da mama no país, 3 mil desses casos sendo letais.
Importa lembrar que, em 2019, o governo lançou, através da primeira-dama, Isaura Ferrão Nyusi, o Plano Nacional de Controlo do Cancro 2019 – 2029. Trata-se de um instrumento que serve de guia com vista à redução à curto, médio e longo prazos de diferentes cancros que afectam a população, cuja tendência é cada vez crescente, em especial na comunidade jovem e adulta para os cancros do Colo do Útero e da mamã, e adulta/terceira idade para o Cancro da Próstata, sem descurar do Cancro infantil.
O cancro da mama é um tumor maligno que se desenvolve nas células do tecido mamário. É muito mais frequente nas mulheres, mas pode atingir também os homens. (Ângela da Fonseca)